13.3.09

Tráfico alicia várias etnias indígenas no Brasil

ONGs denunciam esquema em aldeias da fronteira do Brasil com Bolívia, Colômbia e Peru. Índios são viciados e corrompidos para vender drogas nas cidades

Brasília – Os traficantes internacionais de cocaína que atuam nas áreas das fronteiras do Brasil com a Bolívia, o Peru e a Colômbia estão pressionando para que os indígenas brasileiros que vivem nas aldeias dessas regiões trabalhem como “mulas” para trazer a droga aos centros consumidores. O fenômeno foi identificado por organizações não-governamentais que trabalham com índios de várias etnias na Amazônia Legal. Os traficantes estrangeiros atuam em várias frentes, desde a região conhecida como Cabeça do Cachorro, em Roraima, até a fronteira do Brasil com o Paraguai, no Mato Grosso do Sul.

Desde quarta-feira da semana passada, a polícia do Amazonas investiga a suspeita de que um grupo de jovens da etnia Culina, localizada no município de Envira, no Oeste do Amazonas, tenha matado um rapaz branco que vivia nas proximidades da aldeia e comido partes do corpo da vítima. Os policiais tentam confirmar se o assassinato, com sinais de canibalismo, possa ter sido provocado pelo efeito da mistura de álcool com o consumo de crack, uma droga elaborada com restos da pasta da cocaína. A região onde o crime ocorreu fica próxima à fronteira do Brasil com a Bolívia e o Peru.

Dirigentes da ONG Operação Amazônia Nativa (Opan), entidade que presta assistência técnica aos índios de várias etnias na área de agricultura há mais de 20 anos, perceberam a pressão dos traficantes sobre os índios há mais de cinco anos. “Os traficantes começam aliciando os indígenas mais jovens, oferecendo dinheiro para que tenham acesso a produtos das cidades. Depois, passam a corrompê-los com a oferta de dinheiro”, relata Ivar Busatto, coordenador da Opan.

Cocaína

No ano passado, o então administrador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Tabatinga, no Amazonas, David Felix Cecílio, denunciou que os ticunas estavam viciados em cocaína e álcool. Segundo ele, os indígenas estavam sendo aliciados para transportar drogas nas pequenas embarcações até as cidades mais próximas. Tabatinga faz parte da tríplice fronteira do Brasil, Colômbia e Peru e é considerada pela Polícia Federal um dos pontos mais vulneráveis da entrada de cocaína em território brasileiro.

Os médicos que atuam no atendimentos aos índios pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) não têm levantamento sobre o consumo de cocaína e outras drogas pelos indígenas. Mas muitos profissionais admitem que a droga e seus subprodutos também chegaram às aldeias, principalmente em regiões de fronteira. “O percentual dessas outras drogas ainda é muito pequeno entre os indígenas, mas tem efeito avassalador”, admite Zelic Trajber, coordenador da equipe multidisciplinar de saúde indígena da Funasa em Dourados, Mato Grosso do Sul.

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