9.3.09

Em Olinda, revolta com casas de um quarto

Ministra visitou conjunto ao lado de Lula; promessa era unidades de dois cômodos

Ainda desconhecida entre os moradores das casas populares entregues pelo presidente Lula no fim do ano passado em Olinda, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, não seria bem recebida na comunidade se retornasse hoje ao conjunto habitacional construído com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os moradores se dizem revoltados porque apenas duas unidades têm dois quartos. Justamente aquelas visitadas pelo presidente e sua comitiva, em 2 de dezembro. Todas as outras, como a do ambulante Ademilton do Nascimento, de 31 anos, contam com apenas um quarto. Ele e a mulher, Andrea Barbosa Soares, de 30 anos, dormem no mesmo cômodo com cinco filhos.



- Fizeram duas casas com dois quartos porque sabiam que o presidente ia entrar. As outras 126 só têm um dormitório. Penso até que enganaram Lula, porque, no discurso, ele se referiu a casas de dois quartos. Já tivemos reuniões, temos promessas da construção dos quartos, mas, até agora, nada - reclama Andrea.

Segundo Ademilton, ao receber a residência, as famílias beneficiadas foram informadas que as casas seriam ampliadas com mais um quarto.



- Tem um vigarismo grande, uma máfia qualquer no meio dessa coisa toda. Quando fizeram o cadastramento, me disseram que eram dois quartos. Prometeram construir os quartos a partir de 15 de janeiro, depois adiaram para 15 de fevereiro, e agora eles prometem que iniciam em 15 de março. Vamos dar um prazo até o final do mês. Se nada for feito, vamos fazer uma mobilização junto às autoridades - disse Ademilton Ferreira dos Santos, 56 anos, ambulante como o filho.



Segundo a prefeitura de Olinda, as unidades habitacionais foram construídas de acordo com o projeto original, com 26,2 metros quadrados. "São compostas de sala, quarto, banheiro, cozinha e uma área de expansão, na qual os moradores terão a opção de construir um novo dormitório de oito metros quadrados, passando a ter um espaço de 34 metros quadrados", diz informativo sobre as 128 unidades entregues aos moradores das favelas V8 e V9, duas das comunidades mais carentes da cidade histórica.

Com 66 anos, Doralice Barbosa da Silva comemora o fato de não morar mais ao lado do Canal da Malária. Ela lembra sem saudade dos tempos em que convivia com bichos mortos, fezes, urina, e água podre dentro da palafita onde morava. Mas também reclama do dormitório único:



- Muda firma, sai firma, nada é feito.

O projeto prevê a construção de 661 casas no local - mais de 140 já foram iniciadas - e o revestimento de 1.200 metros do Canal da Malária, ao lado do qual ficavam as palafitas onde moravam os atuais e futuros beneficiários do programa. Segundo a prefeitura de Olinda, já foram feitos 822 metros de revestimento do canal - 70% da obra. Mas os moradores do conjunto reclamam:

- Tem dia que só tem quatro ou cinco homens trabalhando aí, e largam muito cedo - afirma Givanildo Batista Medeiros, 42 anos, aposentado por invalidez e um dos moradores do conjunto.

O governo afirma que o total a ser investido é de R$30 milhões, incluídas áreas de lazer: duas quadras, campo de futebol, pista de Cooper, ciclovia, calçadão. Estas, no entanto, ainda estão no papel. O final das obras está previsto para 2009. O Globo

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