Expedito Filho
Dida Sampaio/AE |
A LENDA |
O delegado Protógenes Queiroz foi indiciado na semana passada pela corregedoria da Polícia Federal por vazamento de informações sigilosas e violação da lei de interceptações telefônicas, crimes praticados durante a operação que resultou na prisão e na condenação do ex-banqueiro Daniel Dantas. Durante um ano e meio, o delegado comandou uma ousada máquina de espionagem clandestina contra políticos, jornalistas, advogados e autoridades – como demonstram documentos apreendidos em seu computador pessoal –, entre as quais figuras notórias da República, como os ministros Mangabeira Unger e Dilma Rousseff, além do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes. Em depoimento à CPI dos Grampos, o corregedor Amaro Ferreira também confirmou a participação ilegal de arapongas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em ações de espionagem e disse aos parlamentares que há suspeitas do uso de grampos clandestinos no curso da operação. A comprovação ainda depende de perícia do material apreendido. Cada novo documento analisado consolida a bisbilhotagem desmedida patrocinada pela equipe do delegado. Em Brasília, Fernando César Mesquita, assessor do presidente do Congresso, senador José Sarney, foi espionado durante mais de um mês.
Acuado pelo indiciamento e pela CPI dos Grampos, que o convocou mais uma vez para depor, e pode acareá-lo com o ex-diretor da Abin, Paulo Lacerda, o delegado Protógenes partiu para o ataque a seu modo destrambelhado. Num site de apoio ao seu "trabalho contra a corrupção", ele divulgou uma carta ao – pasme – presidente americano Barack Obama. Na carta, com versões em inglês e, sabe-se lá por que motivo, em francês, o delegado afirma que o Judiciário brasileiro está na folha de pagamentos do ex-banqueiro Daniel Dantas, dá a entender que Lula também está a soldo do dono do Opportunity (antes disso, ele já havia pedido o impeachment do presidente) e, como se não bastasse, solicita ao órgão de inteligência de uma potência estrangeira (a CIA) que investigue os arquivos digitais de Dantas. Convenha-se que, a menos que suas acusações sejam levadas a sério, Protógenes deveria ser afastado de suas funções na PF. No mínimo porque nem mesmo os militares que deram o golpe em 1964 recorreram aos americanos para resolver um problema interno.
A ação dos espiões da Abin contra o assessor de Sarney foi descoberta por meio de um relatório de cinco páginas encontrado no computador do delegado. Aparentemente sem saber o que buscavam, os agentes vigiaram os passos de Mesquita, tido pela equipe de Protógenes como suspeito de alguma coisa – embora ele nunca tenha aparecido no rol dos investigados no caso do ex-banqueiro. No documento preparado pelos espiões, porém, Mesquita é chamado de "lobista", e fotos de sua casa e de seus amigos estão anexadas ao relatório dos arapongas. Quem visitou o assessor do presidente do Congresso entre 1º de abril e 9 de maio do ano passado, o período que abrange o relatório, não escapou das lentes dos espiões e, automaticamente, acabou de uma forma ou de outra envolvido no braço clandestino da investigação. O relatório traz o nome e as imagens dos visitantes. É o caso de um almoço registrado pelos arapongas no qual estavam o presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Cesar Asfor Rocha, o ministro do Tribunal de Contas Ubiratan Aguiar e o presidente do Banco do Brasil, Antonio Lima Neto. "Fernando Mesquita transita em ambientes de alto nível social e entre pessoas importantes. Seu comportamento sugere que atue como lobista político no Senado, embora sua vinculação exata à Casa não tenha sido aferida", afirma o relatório da equipe de Protógenes. Percebe-se aonde os espiões queriam chegar.
"Isso é um absurdo. Estou indignado. Fui secretário de imprensa do presidente da República e governador de estado. Não podem invadir minha privacidade dessa forma apenas por causa de minhas amizades", diz Mesquita. Protógenes afirmou que os documentos que revelam a espionagem contra autoridades são uma armação de alguém interessado em desqualificar sua investigação. O depoimento do delegado à CPI dos Grampos está marcado para o dia 1º de abril – data bastante sugestiva. Além de explicar suas atividades clandestinas, ele promete fazer surpreendentes revelações sobre a extensão dos tentáculos do ex-banqueiro Daniel Dantas. Obama e a CIA certamente estarão atentos. Afinal de contas, persiste até hoje o mistério sobre o paradeiro do terrorista Osama bin Laden.
INVASÃO DE PRIVACIDADE
Relatório encontrado no arquivo pessoal do delegado Protógenes Queiroz mostra
que Fernando César Mesquita (sem gravata), assessor do presidente do Congresso, senador José Sarney, foi espionado por agentes da Abin
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