Expedito Filho
Montagem sobre fotos de Alexandro/JC e Ichiro Guerra |
OFICIAL |
Prorrogada por mais sessenta dias, a CPI dos Grampos é o foro próprio para que essas perguntas sejam feitas e respondidas. A comissão quase encerrou seus trabalhos de maneira melancólica há duas semanas. Isso só não ocorreu porque veio à luz parte do conteúdo dos arquivos de computador de Protógenes Queiroz apreendidos pela corregedoria da Polícia Federal. Publicado por VEJA, o material demonstrou que a equipe do delegado espionou ministros do governo, entre eles a poderosa Dilma Rousseff e Mangabeira Unger, senadores, juízes, jornalistas e advogados. Em um depoimento anexado ao inquérito que investiga o delegado, o agente da Abin Lúcio Fábio Godoy aparece dizendo ter ouvido do delegado Protógenes que a operação contra o ex-banqueiro Daniel Dantas atendia a interesse do presidente Lula, cujo filho Fábio Luís da Silva, o Lulinha, "teria sido cooptado pela organização criminosa". O governo decidiu não comentar o depoimento.
Oficialmente, dos alvos de Protógenes apenas se pronunciou a ministra Dilma Rousseff, que teve detalhes de sua vida pessoal descritos em um relatório no computador do delegado. Disse que não teme escutas telefônicas – embora não haja evidência de que tenha sido vítima disso – e que as informações publicadas sobre ela não seriam verdadeiras. A espionagem clandestina do delegado foi discutida na reunião de segunda-feira entre Lula e seus principais assessores. Protógenes Queiroz, vez por outra, manda recados de que ainda possui informações guardadas que podem constranger seus alvos. Na semana passada, ao ser informado sobre sua convocação para um novo depoimento à CPI, ele disse que, quando isso acontecer, pretende "dar nome aos bois". Em se tratando de Protógenes, pode ser blefe, pode ser um surto, pode até ser verdade. A extensão da espionagem chefiada pelo policial permite qualquer uma das hipóteses, já que ele investigou legal e ilegalmente um número muito grande de pessoas.
Fotos Beto Barata/AE e Andre Dusek/AEESPIÃO
O presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (à dir.), quer o indiciamento de Paulo Lacerda por falso testemunho
Na semana passada, indagado sobre a suposição de que teria recebido ordens do presidente da República para investigar o banqueiro Daniel Dantas, Protógenes reagiu da maneira surrealista que o caracteriza. Primeiro, tentou desconversar, deixando pairar a dúvida sobre o possível papel de Lula no episódio. Disse o delegado: "Acredito que o presidente saiba responder melhor do que eu". Depois, em uma palestra para estudantes universitários em Goiás, afirmou que não fazia "parte de nenhuma guarda pretoriana a trabalho de algum governo". Vários agentes da Abin, porém, disseram em seus depoimentos a diversas autoridades que o delegado sempre lhes lembrava que aquilo se tratava de uma "missão presidencial". Ele mesmo chegou a divulgar, em julho do ano passado, uma nota reafirmando essa versão. No depoimento prestado à Procuradoria da República, Protógenes foi ainda mais explícito ao dizer que a "operação era uma missão determinada pela Presidência da República ao DPF (delegado da Polícia Federal) Paulo Lacerda, tendo em vista informações repassadas pela Abin". Obviamente, as declarações oficiais e extraoficiais do delegado Protógenes não são prova da existência de uma impensável cadeia de comando que tenha no topo o presidente da República. Por suas ruinosas consequências institucionais, o melhor que pode ocorrer é que sejam mais um blefe dos tantos que o policial fez no decorrer e depois da operação que lhe foi confiada.
Fotos Patricia Stavis/Folha Imagem e Henrique Manreza/Folha Imagem |
VERDADE OU MENTIRA? |
Os técnicos da CPI dos Grampos estão desde a semana passada debruçados sobre o material apreendido com Protógenes Queiroz. "O conteúdo dos computadores é nitroglicerina pura e mostra que a operação realmente não tinha nenhum limite ou controle", diz o deputado Raul Jungmann (PPS-PE). Nesta semana, integrantes da comissão irão a São Paulo para uma audiência com o juiz Ali Mazloum, o responsável pelo inquérito que investiga a espionagem clandestina do delegado Protógenes. Os parlamentares vão solicitar cópias de laudos e relatórios em poder da Justiça. Os deputados também pretendem ouvir mais uma vez o juiz Fausto de Sanctis, para tentar saber dele até que ponto o delegado o mantinha informado da participação da Abin durante a realização da Operação Satiagraha. Em depoimento à CPI, em agosto do ano passado, o juiz disse que desconhecia os detalhes da ação dos es-piões do governo: "Sobre a participação da Abin, eu também não tenho como responder, é fato concreto. Isso vai chegar provavelmente ao meu conhecimento. Se isso tudo é verdade, vou ter de apreciar futuramente". Indagado sobre o mesmo tema, o procurador Rodrigo de Grandis foi taxativo. "Não, eu não sabia", disse. O presidente da comissão, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), acredita que, com a nova prorrogação, será possível desvendar a cadeia de comando que permitiu ao delegado Protógenes montar sua rede de espionagem. Disse Itagiba: "Espero que esta prorrogação represente a consolidação dos elementos de condenação do ex-banqueiro Daniel Dantas e sirva também para indiciar Paulo Lacerda, Protógenes Queiroz e a antiga direção da Abin".
Fotos Celso Junior/André Dusek/Ronaldo Bernardi/Ag. Rbs/AE/Eduardo Knapp/Folha Imagem
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