Sem direitos políticos até 2016, José Dirceu volta a ser o homem forte do PT e articula alianças para a campanha de Dilma
Alan Rodrigues e Sérgio Pardellas
FESTA POLÍTICA O dirigente informal do PT recebe o vice José Alencar |
O ex-ministro José Dirceu comemorou triplamente o seu aniversário de 63 anos, na última semana. No domingo 15, reuniu contemporâneos da militância estudantil de 1968 em petit comité em Vinhedo (interior de São Paulo). No dia seguinte, recebeu cerca mil pessoas em tradicional festa anual no Bar Avenida, na capital paulista. E finalmente, na noite da terça-feira 17, o fecho de ouro: uma grande recepção numa casa de festas do Lago Norte, em Brasília, contou com a presença de nove ministros - como Dilma Rousseff, da Casa Civil, Hélio Costa, das Comunicações, e Paulo Bernardo, do Planejamento - e o vice-presidente da República, José Alencar, além de líderes do PT e de partidos aliados. Em cada um dos eventos, Dirceu demonstrou força e influência no partido e no primeiro escalão do governo federal - a despeito de estar afastado do Palácio do Planalto desde 2005, quando foi cassado no escândalo do mensalão.
DE MANGAS ARREGAÇADAS Abrindo caminho para Dilma, Dirceu já percorreu nove Estados |
Esse alto cacife político, do qual poucos dirigentes do PT e até membros do governo dispõem hoje, é o que embala a volta do petista à cena política. Desde o início do ano, aproveitando o enfraquecimento do presidente do PT, Ricardo Berzoini, que deixa o cargo em novembro, Dirceu tem atuado como uma espécie de dirigente informal e um dos articuladores da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República em 2010. Com o aval do presidente Lula, que se ressente de uma liderança de mais peso dentro do PT, de fevereiro para cá Dirceu percorreu nove Estados a fim de aparar arestas nos diretórios regionais e costurar as alianças para as eleições do ano que vem.
"Estou com muita disposição para viajar o País e vamos vencer as eleições de 2010", disse Dirceu em discurso para mais de 300 pessoas durante festa em Brasília, depois de brincar que está jovem, "apesar do implante capilar".
Na recepção na capital federal, regada a vinho chileno, uísque 12 anos, sashimis, sushis e arroz com tomate seco, a sucessão presidencial foi o principal assunto das rodas de conversas. Dilma, a primeira a chegar, conversou longamente com o anfitrião, mas saiu cedo. "Estou cansada.
MEDIADOR Com Delcídio: costura de chapa em Mato Grosso do Sul |
O trabalho está muito puxado", explicou. Não ficou para ouvir o aniversariante vaticinar, num diálogo com Berzoini, que em breve a candidata petista ultrapassará o governador Aécio Neves (PSDB-MG) nas pesquisas. "Até as festas de São João ela passa", previu Dirceu, que já tinha antecipado que Dilma desbancaria Heloísa Helena (PSOL) e Ciro Gomes (PSB) até a Semana Santa. Na última pesquisa Datafolha, Dilma continuava em quarto lugar.
No momento em que luta para ser absolvido no processo do Supremo Tribunal Federal e recuperar os direitos políticos, o que Dirceu menos quer é voltar a ser o centro das atenções.
"Lula fará o barulho, José Dirceu as articulações no bastidor e Dilma será só paz e amor", conta um senador petista. "Nem cargo de direção eu quero mais", afirma Dirceu para, em seguida, defender a renovação dos quadros do partido. "Essa é a palavra de ordem." De fato, Dirceu não precisa de cargo para falar pelo PT. "O Zé tem muita representatividade e esses eventos atestam o grande prestígio que ele goza na legenda", confirma o líder do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo, deputado Rui Falcão. "Sem dúvida que ele será um dos grandes operadores da campanha da Dilma", acrescentou.
Num verdadeiro périplo pelo País, Dirceu avocou para si a missão de atrair o PMDB para a aliança com o PT. Desde fevereiro, ele já percorreu o Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Piauí. Só na última semana, visitou os diretórios de quatro capitais. Na quinta-feira 19, esteve em Salvador.
Além de jantar com o governador Jaques Wagner, manteve encontros com os dirigentes do PT estadual. "É muito importante que estejamos juntos com o PMDB aqui na Bahia", ressaltou Dirceu durante reunião com os petistas do Estado. "Mas o Geddel é que quer rachar", reagiu um dos presentes, referindo-se ao ministro da Integração Regional, Geddel Vieira Lima. "Acertem com ele a candidatura ao Senado", respondeu o ex-ministro. "Ele nos deu os caminhos para resolvermos os atritos", contou Josias Gomes, integrante do diretório nacional e ex-presidente do PT baiano.
No fim da última semana, antes do aniversário, Dirceu ainda foi ao Rio Grande do Norte, Pernambuco e Piauí.
Na terça-feira 10, o petista se encontrou com Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu, que já lançou seu nome para a disputa ao governo do Estado. A decisão de Lindberg preocupa, e muito, o PT, que avalia como prioritário um palanque único no Rio. "Não podemos nos anular, ficar rendidos ao PMDB", disse Lindberg. O ex-ministro não pediu a Lindberg que retirasse sua candidatura, mas ponderou que ele colocasse seu nome ao Senado numa dobradinha com Cabral. Outros palanques estaduais também preocupam. No dia 6, Dirceu esteve em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, também para apartar uma briga interna. Lá, dois candidatos do PT, Delcídio Amaral e Zeca do PT, disputam a indicação para a cadeira do governador Andr é Puccinelli (PMDB). "Precisamos desse entendimento, não podemos rachar aqui", falou Dirceu na conversa com Delcídio. Ao que respondeu o senador: "Não vou ser empecilho, mas a instabilidade do Zeca dificulta um pouco."
Entre plenárias e encontros, Dirceu reforça sua liderança e a de seu grupo, Construindo Um Novo Brasil, que detém 34 das 81 cadeiras no Diretório Nacional, distribuídas por mais sete tendências. De acordo com integrantes do partido, há um vácuo de poder no PT que o ex-ministro sabe ocupar muito bem. "Falta no PT um pulso forte para impedir o desastre da política malfeita conduzida nos últimos anos pelo Diretório Nacional", avalia Rogério Correa, dirigente do PT mineiro. Em novembro, o PT passará por uma das mais profundas reformas em sua direção nacional. Pelas novas regras, aprovadas em 2007, não poderão se reeleger os dirigentes que já tenham exercido, pelo menos, dois mandatos consecutivos. Calcula-se que o processo eleitoral possa atingir 60% da cúpula. Além de Dirceu, que é lembrado para voltar à presidência, outros três nomes ganham força e contam com o aval de Lula: o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, e o assessor de Lula, Marco Aurélio Garcia. Com efeito, o que até as bandeiras do PT sabem é que, independentemente do resultado, uma coisa é certa: Dirceu voltou a dar as cartas.
Aproveitando esse hiato de poder no PT, que prepara a mudança da direção para novembro, dois personagens do escândalo do mensalão voltam à cena: o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-secretário- geral do partido Sílvio Pereira. Delúbio foi visto na quarta-feira 18 visitando gabinetes petistas no Congresso, num lobby pela sua reabilitação e regresso ao partido, que depende de votação do diretório nacional. O antigo dirigente é hoje um dos principais articuladores da aliança com o PMDB de Iris Rezende em Goiás e tem dito aos antigos colegas que sofreu uma pena dura."Os argumentos dele fazem sentido. Pretendo avaliar com calma o pedido", disse o líder do partido na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP). Já
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário