16.8.07

Renan reassumiu

Depois de 80 dias sob tiroteio e praticamente interditado como presidente do Senado, Renan Calheiros reassumiu o cargo ontem, voltando a reunir senadores e a falar com jornalistas sobre projetos -e não só de processos.
Trata-se do "efeito CPMF", que fez Lula se expor mais explicitamente ainda a favor do aliado e que tirou Renan da cena apenas policial para recolocá-lo de volta no centro da cena política. A CPMF rende R$ 36 bi só neste ano ao governo, e o presidente do Senado é peça importante para a prorrogação.
Como Renan precisa tanto dos votos governistas quanto dos oposicionistas para salvar a pele, primeiro na Comissão de Constituição e Justiça e depois no plenário, sua posição sobre a CPMF traduz exatamente esse ajuste fino: ele defende, sim, a prorrogação (como o governo), mas reduzindo a alíquota (como a oposição) e prevendo um "partilhamento paulatino" com Estados e municípios (como governadores e prefeitos, que têm poder sobre as bancadas).
Renan está convencido de que o pior já passou. Ou seja, as denúncias e as manchetes de jornais e revistas vão esfriar por falta de assunto e a questão vai resvalar para a arena política, onde ele é bom.
Ao comparar a sua situação com a de dois ex-presidentes do Senado que acabaram renunciando aos mandatos, Jader Barbalho e ACM, morto no mês passado, Renan disse que conta com suas velhas amizades entre os senadores: "Ali [nos dois casos] havia um componente pessoal que comigo não há. Eu me dou bem com todos os senadores, até com os de oposição".
Mas seu trunfo, ou argumento, é uma ameaça nada sutil: se cair por questões éticas, seus sucessores correm o risco de despencar um atrás do outro: "Vai abrir uma porta do tamanho do mundo", diz. Traduzindo do politiquês: "Ei, colegas, ponham as barbas de molho. Eu sou vocês amanhã".
Eliane Cantanhêde

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