Apesar de prever uma batalha política com a oposição e setores da mídia devido ao julgamento da denúncia do mensalão, o governo resolveu adotar a tática do silêncio. Em público, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros não comentam o caso. Negam, inclusive, que tenha sido objeto de discussão na reunião da coordenação política realizada ontem. O objetivo é tentar descolar o governo da decisão que será tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a partir de amanhã.
Para que a estratégia dê certo e o Palácio do Planalto não fique nas cordas durante o julgamento, caberá a aliados saírem a campo para defender o governo e o PT. A missão começou a ser cumprida ontem. “Não é um julgamento político. Nem o governo nem o PT estão no banco dos réus. É óbvio que a oposição e setores da mídia farão um esforço enorme para colocá-los lá”, disse o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT).
O Supremo decidirá se abre ação penal contra 40 pessoas acusadas pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, de participação no esquema do mensalão. Entre elas, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, denunciado como chefe da “quadrilha”, e o ex-presidente do PT José Genoino (SP), hoje deputado federal. “Uma ação penal é uma ação penal. Não vejo relação automática entre um processo que começa agora e a vida interna do PT e do governo. Para mim, isso é forçar a barra”, acrescentou Déda.
Se a denúncia contra Dirceu for arquivada, aliados do ex-ministro tentarão dar celeridade ao processo destinado a anistiá-lo. Em 2005, Dirceu teve os direitos políticos cassados por oito anos por decisão do plenário da Câmara. Há ainda a possibilidade, discutida nos bastidores, de o ex-deputado voltar a presidir o PT. Caso o Supremo decida processá-lo, a oposição dirá que a condição de réu é a prova de que o governo teve participação direta no suposto esquema de pagamento de mesada em troca de votos favoráveis no Congresso.
Pressa
“Não tem nada a ver uma coisa com a outra”, declarou o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, negando implicações políticas do julgamento. “O que o procurador fez é uma proposta de ação penal, nada mais do que isso.” Bastos pediu ao Supremo pressa no julgamento dos processos que forem abertos. Torce para que a prescrição não beneficie os réus, como ocorreu recentemente com o deputado Paulo Maluf (PP-SP).
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), entoou discurso parecido. Disse que o julgamento é positivo para o país. Ruim seria se não fosse realizado, se não fossem dadas à sociedade satisfações sobre o principal escândalo político do primeiro mandato do presidente Lula. “O julgamento mostra que as instituições estão funcionando.” Campos, Déda e Bastos prestigiaram ontem o lançamento do PAC da Segurança no Palácio do Planalto.
Ouviram do presidente uma declaração otimista capaz de fazer inveja a Pangloss, célebre personagem do clássico Cândido, de Voltaire, para quem tudo estava sempre o melhor possível. Como todos nós fizemos curso de perseverança, está dando tudo certo no Brasil , festejou Lula.
Correio Brasiliense
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