No sábado, Chávez havia determinado "jogar gás do bom e meter presos" manifestantes
Manifestações são contra a reeleição ilimitada; reunião de partido oposicionista e universidade também foram alvo de chavistas
Sob a alegação de que não tinham autorização, o governo Hugo Chávez dissolveu ontem uma marcha estudantil no centro de Caracas com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Foi o mais grave de vários incidentes registrados desde sábado, quando o mandatário venezuelano lançou oficialmente a campanha pela reeleição indefinida ordenando "jogar gás do bom e meter preso" em caso de distúrbios de oposicionistas.
Os estudantes pretendiam marchar desde a praça Morelos até a sede do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), mas o ministro do Interior, Tareq El Aissami, proibiu a manifestação. Segundo ele, o movimento tem uma "agenda de confrontação e violência". Ele afirmou que houve apreensão de gasolina e de coquetéis molotov com os estudantes.
Também na região central, uma reunião do partido político oposicionista Bandeira Vermelha foi atacado ontem com gás lacrimogêneo por partidários da agremiação chavista Unidade Popular Venezuelana (UPV), que até o final da edição de ontem ocupava o edifício.
No campus da Universidade Central da Venezuela (UCV), a poucos quilômetros do centro, motoqueiros jogaram bombas de gás lacrimogêneo pelo segundo dia consecutivo, desta vez contra o prédio da reitoria. Anteontem, o alvo foi uma entrevista coletiva do líder estudantil Ricardo Sánchez, que no domingo teve o seu carro incendiado, também dentro da área da universidade.
Anteontem, cinco bombas de gás lacrimogêneo foram jogadas contra a representação do Vaticano (Nunciatura Apostólica), em Caracas. O atentado foi assumido pelo grupo paramilitar pró-chavista "La Piedrita". Quase ao mesmo tempo, um ataque semelhante foi registrado na casa do presidente do canal oposicionista RCTV, Marcel Granier, que atribuiu a onda "aos discursos violentos de Chávez".
No final da tarde, durante ato de campanha, Chávez acusou os estudantes de tentar "incendiar a Venezuela": "Convido a todo o povo que saia às ruas para defender a pátria dos violentos, dos sabotadores, dos incendiários e dos baderneiros".
A governo distrital de Caracas, reconquistado pela oposição nas eleições de dezembro, também tem sido alvo de grupos chavistas. Na madrugada de sábado, o prédio principal, localizado na praça Bolívar (centro), foi atacado a tiros e desde então está fechado.
Acima da entrada do prédio quase todo pichado com palavras de ordem contra o governador Antonio Ledezma, lê-se, em letras vermelhas: "Somos maus perdedores".
Na rua lateral, de movimentado comércio popular, um prédio do governo distrital foi tomado por militantes chavistas. Durante visita da reportagem da Folha, anteontem, um deles estava postado diante da entrada com uma pistola enfiada no cinto. Ninguém quis conceder entrevista.
A Polícia Metropolitana, que no ano passado foi transferida do governo distrital de Caracas ao Ministério do Interior, não assegurou a reabertura do prédio central nem tem agido para retomar edifícios invadidos.
Ao lançar oficialmente a campanha pelo "sim", no sábado, Chávez ordenou "ao ministro da Defesa, ministro do Interior e aos chefes da polícia: a partir deste momento, quem sair a queimar um carro, a queimar árvores, a fechar uma rua, me joguem gás do bom, e os metam presos".
No dia 15 de fevereiro, os venezuelanos irão às urnas para votar num referendo sobre a emenda constitucional que, se aprovada, permitirá a Chávez concorrer novamente à Presidência, em 2012. Em dezembro de 2007, uma proposta semelhante foi derrotada em consulta popular. Folha
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