André Petry, de Nova York
J. Scott Applewhite/AP |
FILA DOS SORRIDENTES Bush pai, Obama, Bush filho, Bill Clinton e Jimmy Carter, em almoço na Casa Branca, na semana passada |
Cada presidente tem o escândalo de corrupção que merece. Uns aparecem eles mesmos enrolados em maracutaias e outros amargam as consequências do envolvimento de auxiliares, familiares, amigos ou aliados. Na foto ao lado, aparecem cinco presidentes dos Estados Unidos – três ex, o atual e o futuro – e todos já passaram por isso. Inclusive o futuro. Barack Obama, cuja posse acontece na semana que vem, bateu o recorde de rapidez para montar seu governo e, agora, está batendo o recorde para desmontá-lo. Seu ex-futuro ministro do Comércio, o governador do Novo México, Bill Richardson, renunciou à indicação ao cargo por suspeita de beneficiar um doador de campanha. A renúncia traz um sinal desorientador – pode ser excelente ou pode ser péssimo. Será excelente se representar o início de uma política de tolerância zero de Obama com a corrupção, mas será péssimo se significar apenas que há corruptos demais em torno do presidente eleito.
Na sua fulminante trajetória do anonimato à Casa Branca, Obama andou tropeçando em alguns monturos de enxofre. O pior foi sua proximidade com um colecionador de picaretagens de Chicago, Antoin Rezko, um milionário sírio que juntou dinheiro para a campanha anterior de Obama e ajudou-o a comprar a mansão de seus sonhos. Rezko foi condenando em dezesseis acusações de corrupção, mas nada se provou contra Obama, além de que lhe falta talento para escolher suas companhias. Depois, apareceu o caso do governador de Illinois, Rod Blagojevich, aliado de Obama. Ele foi pilhado achacando meio mundo e tentando vender a cadeira vaga de Obama no Senado. Na semana passada, finalmente, Blago, como é chamado, teve seu mandato cassado pela Assembleia de Illinois. Antes, os senadores já haviam tentado barrar a entrada no Senado de Roland Burris, o escolhido por Blago para suceder a Obama. Desconfiavam, claro, que Burris pudesse ter comprado a cadeira. O boicote funcionou só um dia. No outro, Burris entrou no prédio pela porta da frente e tomou posse. Sorridente, disse aos que testemunhavam seu juramento: "Não é fantástico?".
Lauren Victoria Burke/AP |
O PENETRA Roland Burris, nomeado para o Senado pelo governador agora afastado do cargo, acabou tomando posse: "Não é fantástico?" |
Agora, apareceu Bill Richardson, o político latino – sua mãe é mexicana – mais festejado dos Estados Unidos. O FBI investiga se, como governador, Richardson favoreceu um doador de campanha contemplando-o com dois contratos de consultoria, no valor total de 1,4 milhão de dólares. Ele garante que não fez nada de errado e diz que renunciou para não atrapalhar o novo governo, já que sua nomeação poderia empacar no Congresso por semanas ou meses. Além desses casos, Obama aproximou-se de outro campo minado quando indicou Hillary Clinton para secretária de Estado. Antes, teve o cuidado de exigir que o marido da secretária, o ex-presidente Bill Clinton, hoje um filantropo, consultor e palestrante que fatura milhões de dólares mundo afora, fizesse algumas concessões. Entre elas, submeter suas futuras atividades ao crivo ético do governo e revelar a identidade das 200 000 pessoas que doaram dinheiro à sua fundação. Tudo para evitar que alguma estripulia heterodoxa futura do ex-presidente comprometa seu governo. Mas, como o passado não se apaga, acaba de vir a público a notícia de que, no decorrer de 2004, Hillary, como senadora, ajudou a viabilizar os negócios de um empresário que, na mesma época, doou 100 000 dólares à fundação do seu marido. Hillary não se deu ao trabalho de apresentar explicações, nem Obama as pediu.
Na virada do século XVIII para o XIX, a corrupção era apontada como o mais grave problema da política americana. O historiador Joel Horowitz, da Saint Bonaventure University, em Nova York, diz que os Estados Unidos reverteram o quadro através da implacável cobertura da imprensa de casos de corrupção, da conscientização do eleitorado, que hoje repudia fortemente os candidatos suspeitos, e da adoção de leis para proteger os servidores públicos da pressão política e combater os aspectos mais nocivos do clientelismo no funcionalismo público federal. "Apesar dessas salvaguardas, a corrupção ainda é parte do sistema político americano", disse Horowitz a VEJA. A pior decepção para os eleitores de Obama, tão empolgados com seu brado mudancista, seria se, em seu governo, a corrupção deixasse de ser mera parte para virar um todo.
Nam Y. Huh/AP | Tony Rezko, o picaretaço que recolheu dinheiro para campanhas de Obama e ajudou-o a comprar sua mansão em Chicago, está condenado em dezesseis processos |
Charles Dharapak/AP | Bill Richardson, que renunciou ao cargo de ministro do Comércio e voltou para o governo do Novo México, é suspeito de beneficiar um doador de campanha com dois contratos públicos que somam 1,4 milhão de dólares |
Seth Perlman/AP | Hillary Clinton, futura secretária de Estado. A última suspeita é que a senadora ajudou um empreendedor a obter verbas federais e, na mesma época, o beneficiado deu 100 000 dólares à fundação de Bill Clinton |
Seth Perlman/AP | Rod Blagojevich, o governador de Illinois e aliado de Obama. Foi pilhado numa investigação do FBI tentando vender a vaga de senador de Obama, entre outras maracutaias. Acaba de sofrer impeachment |
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