19.1.09

MST perde poder de mobilização???

Passadas duas décadas e meia, especialistas dizem que MST perdeu poder de mobilização

São Paulo — Um dos maiores e mais notórios movimentos sociais do país, o MST completa 25 anos no próximo sábado. Desde o seu nascimento, ocorrido no seio da Igreja Católica no fim do regime militar, até hoje, a entidade criada com inspirações marxistas coleciona uma trajetória de dar inveja a qualquer grupo que lida com a massa popular e o poder que exerce sobre ela. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em todo o país há 7 mil assentamentos, somando cerca de 1,2 milhão de famílias vivendo em 70 milhões de hectares de terras distribuídas pelos governos federal e estaduais. Desse universo grandioso, pelo menos 370 mil famílias estão em assentamentos administrados diretamente pelo MST. Isso corresponde a 1,5 milhão de pessoas que seguem a cartilha do movimento, repassando a ele, inclusive, parte da produção agrícola — “a título de cortesia’’, como frisa a diretoria da entidade.

No campo brasileiro, terra é sinônimo de poder desde que os portugueses chegaram ao país. Nos dias de hoje, o MST tem sob sua tutela pelo menos 7 milhões de hectares, distribuídos em 24 estados nos quais a bandeira vermelha tem representação. São lotes que seus associados receberam do governo nos últimos 25 anos. Com fome de terra, o movimento quer mais: reivindica cerca de 2,6 milhões de hectares para assentar mais 130 mil famílias de sem-terra que estão acampadas, à espera de um lote. “Nossa luta só vai parar quando não houver mais nenhum brasileiro desempregado”, avisa o líder nacional Egídio Brunetto, que tem base no Mato Grosso do Sul.

Financiamento
O MST sobrevive de contribuições financeiras de simpatizantes brasileiros e internacionais. Como é um movimento social, a organização não tem registro legal; portanto, não é obrigada a prestar contas a nenhum órgão de governo em relação às doações. No entanto, como também recebe dinheiro do governo federal, volta e meia as entidades ligadas ao movimento são alvo de auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU). Na última, feita na Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca), os auditores concluíram que a entidade terá de devolver R$ 4,4 milhões ao governo federal por uso indevido. Desde o início da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, movimentos ligados ao MST já receberam mais de R$ 40 milhões dos cofres públicos. Comparando o governo do PT com o de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o aumento dos repasses foi de 76%, segundo a organização não-governamental Contas Abertas.

Calmaria
Com tanto poder, dinheiro e representação no Congresso Nacional, no próprio governo e até na maior Igreja do mundo, o MST tem tudo para fazer uma festa de aniversário com atos que sempre marcaram as suas manifestações, como invasões de terras, bloqueios de estradas e ocupações de prédios públicos. Mas nada disso deverá ocorrer. A direção do movimento informa em nota oficial que as bodas de prata serão festejadas entre os dias 20 e 24 deste mês com um encontro nacional para avaliar e planejar as ações para 2009, uma premiação para personalidades que contribuem para a reforma agrária e uma festa para cerca de 1,5 mil pessoas na Fazenda Sarandi, no interior do Rio Grande do Sul. “Será uma festa linda”, prevê a líder nacional Marina dos Santos, que tem base em Brasília.

A direção do MST sustenta que não haverá sequer uma invasão durante as comemorações porque esse tipo de manifesto ocorre no quarto mês do ano, quando se celebra o Abril Vermelho, uma alusão ao massacre de Eldorado dos Carajás (leia mais na página 17).

Mas, para o professor Antônio Márcio Buainain, do Núcleo de Economia Agrícola da Universidade de Campinas (Unicamp), o aniversário será apagado porque o MST perdeu poder de mobilização. “O movimento não é mais como antigamente, quando arrastava multidões pelas capitais. Ao longo do tempo, as lideranças perderam o foco da luta pela terra”, constata. Buainain acredita que um acordo de bastidores entre a direção do MST e o governo federal fez com que o movimento murchasse ao longo dos anos.

Já o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackabard, diz que o MST ainda tem força no campo, e os 25 anos do movimento representam uma celebração à democracia. “A atuação dos movimentos sociais é importante para a promoção da reforma agrária. No Pará, por exemplo, acabamos de entregar uma área de 8 mil hectares ao MST. É a Fazenda Cabaceira, a primeira área desapropriada por causa de trabalho escravo. Trata-se de uma reivindicação antiga dos sem-terra”, diz Hackabard.
Correio Braziliense

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