Gustavo Ribeiro
Givaldo Barbosa/Ag. O Globo |
CONTRAPARTIDA Em Brasília, universitários aplaudiram o presidente Lula e criticaram a criação da CPI da Petrobras |
A União Nacional dos Estudantes (UNE) transformou-se em uma repartição financiada pelo governo para apoiar suas causas. Triste. Poucas coisas são mais patéticas e melancólicas do que um jovem sem espírito crítico. Felizmente, são raríssimas as circunstâncias históricas que levam a juventude a sufocar sua qualidade humana mais preciosa, a rebeldia com ou sem causa, para idolatrar o poder central. Quando isso ocorre, é sintoma de alguma moléstia social. Arriscando aqui a violar a Lei de Godwin (a bem-humorada sacada do advogado americano Mike Godwin, segundo quem todo argumentador perde força quando compara um evento atual com os da Alemanha nazista), a UNE de hoje lembra o fervor patriótico da Juventude Hitlerista. Lembra também os squadristi, a tropa de choque infanto-juvenil do regime fascista italiano de Benito Mussolini. A UNE, a Juventude Hitlerista e os squadristi têm em comum a força na ausência da razão e o desejo de servir cegamente a um líder.
Reunidos em Brasília em congresso na semana passada para eleger o novo presidente da entidade, os estudantes foram às ruas. Combater a corrupção? Não. Pela preservação da Floresta Amazônica? Nada disso. A UNE protestou contra a criação da CPI da Petrobras, uma das patrocinadoras do evento. A antes combativa entidade estudantil inovou em sua servidão ao poder em troca de dinheiro. Para abrir o congresso, a entidade convidou o presidente Lula, saudado por cerca de 3 000 squadristi brasileiros. Talvez Brasília só tenha assistido a tamanho servilismo por parte de estudantes universitários brasileiros quando, no regime militar, foi organizada a Arena Jovem, braço do partido de sustentação ao governo.
A atual geração está jogando na lama a rica história da UNE de enfrentamento com o poder. Não apenas de contestação, mas de produção cultural alternativa de qualidade nos anos 60 – quando foi presidida por José Serra, hoje governador de São Paulo. Cerca de 6 000 estudantes que foram ao congresso ficaram alojados em escolas públicas de Brasília – e estes, sim, deixaram sua marca de rebeldia, pena que apenas depredando salas, destruindo mesas e abandonando garrafas de bebidas alcoólicas vazias e preservativos usados nas salas.
Gustavo Moreno/D.A.Press | PELA CAUSA As escolas que serviram de alojamento para os estudantes tiveram móveis destruídos |
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