Trabalhos só começarão após recesso, em agosto; na direção da CPI, aliados devem poupar Dilma e focar em realizações de estatal
Fotos Alan Marques/Folha Imagem |
Depois de dois meses de negociação, a CPI da Petrobras foi instalada ontem seguindo à risca as recomendações do Planalto. Para os aliados do presidente Lula no Senado dominarem a comissão e tentarem ditar o ritmo das investigações contra a estatal, os governistas elegeram por 8 votos a 3 o petista João Pedro (AM) presidente, que, por sua vez, indicou como relator o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).
Com os dois mais importantes cargos da CPI nas mãos, os aliados de Lula já descartam a presença da ministra Dilma Rousseff, presidente do Conselho de Administração da Petrobras e principal nome do governo para disputar a próxima eleição presidencial. E decidiram que os trabalhos da comissão só começam em agosto.
"Não há necessidade de polemizar nem politizar", justificou Jucá, que só vai apresentar o plano de trabalho após o recesso. Apesar de a oposição já ter apresentado 46 requerimentos de convocação, entre eles a do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, a CPI só começa a funcionar no segundo semestre. A primeira ação do senador João Pedro na cadeira de presidente foi marcar reunião para o dia 6 de agosto.
"Colocaram os cães de guarda do governo no comando da CPI", afirmou o senador Álvaro Dias, autor do requerimento para o Senado investigar a Petrobras e candidato derrotado a presidente da CPI.
João Pedro e Jucá sempre foram os nomes preferidos do presidente Lula para comandarem a CPI. Mas a decisão de oficializá-los só foi tomada na noite de segunda. O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), inicialmente resistia ao nome de Jucá, mas atendeu a um pedido do presidente para que seu líder na Casa fosse escolhido relator da comissão.
Depois de Lula ter expressado tranquilidade com relação a CPI e pedir aos aliados para usarem o pré-sal como principal discurso de defesa da estatal, os líderes governistas avaliaram que postergar a escolha do presidente e do relator aumentaria o desgaste com a oposição e com a opinião pública.
Preferiram expor Jucá e João Pedro à pressão durante o recesso. "Romerinho aguenta tudo", disse Gim Argello (PTB-DF), que ontem representou o senador Fernando Collor (PTB-AL) na instalação da CPI.
Collor, que preferiu participar de solenidade no interior de Alagoas ao lado do presidente Lula, foi a ausência mais notada na disputada reunião da CPI da Petrobras. A oposição chegou ensaiar lançar seu nome para presidir a comissão.
Pelo menos 33 congressistas da base e da oposição assistiram à reunião comandada por Paulo Duque (PMDB-RJ), senador mais velho que arrancou gargalhadas dos colegas ao negar com veemência pedidos de intervenção e de discursos.
Ainda assim, houve bate-boca durante a reunião. Ao pedir detalhes sobre os currículos dos dois candidatos a presidente da CPI, Sérgio Guerra (PSDB-PE) ouviu de Duque: "Depois da eleição eu apresento". Guerra ameaçou se retirar.
Em outro momento, foram os senadores Heráclito Fortes (DEM-PI) e Aloizio Mercadante (PT-SP) que se desentenderam. Fortes reclamou do petista, que lembrara dos tempos em que era oposição e nunca conseguiu ficar com cargos de comando da CPI. "Naquela época a gente não pegava nem gripe, quanto mais presidência e relatoria", disse Mercadante.
Ontem, a oposição se defendeu dos ataques do governo que a classificou de "impatriótica" por querer investigar a maior empresa brasileira.
O PSDB lançou o "Petrobras Blog da CPI" (http://petrobrasblogdacpi.blogspot.com/), para fazer contraponto ao blog "Fatos de Dados", criado pela estatal.
Apesar de ter apresentado requerimento solicitando informações sobre os repasses da Petrobras à Fundação José Sarney, o PSDB não parece disposto a constranger o presidente do Senado. O PT também não. João Pedro disse que não vê necessidade de se investigar a fundação. "Isso é assunto para a CPI das ONGs." Folha
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