25.7.09

"Tenho provas de que dinheiro da BrT bancou a Satiagraha"

DANIEL DANTAS

"Tenho provas de que dinheiro da BrT bancou a Satiagraha"

Banqueiro acusado de crimes financeiros afirma que tele subornou congressistas

O BANQUEIRO Daniel Dantas, do grupo Opportunity, condenado por corrupção e acusado de crimes financeiros investigados na Operação Satiagraha, afirmou ontem, em entrevista à Folha na sede do banco, no Rio, ter provas de que a Brasil Telecom subornou congressistas da base aliada do governo para que ele fosse relacionado no relatório da CPI dos Correios, em 2005, e de que a empresa financiou a Satiagraha.

FOLHA - A Operação Satiagraha, da Polícia Federal, foi assumida pelo delegado Ricardo Saadi, que tem um perfil mais técnico do que o antigo condutor da investigação, o delegado Protógenes Queiroz, acusado de ilegalidades por sua defesa. Como o sr. avalia a atual condução das investigações do caso?
DANIEL DANTAS - Ainda há coisas estranhas. Uma pessoa me informou que existia dinheiro da Brasil Telecom pagando agentes que trabalhavam na Operação Satiagraha.

FOLHA - O sr. tem provas disso?
DANTAS - Tenho. Vou apresentá-las no momento adequado. Tenho informações e provas de que tem dinheiro da Brasil Telecom alimentando a Operação Satiagraha. Tenho também informações de que a Brasil Telecom andou pagando congressistas para me incluir no relatório da CPI [dos Correios], pedindo meu indiciamento pelo financiamento do mensalão.

FOLHA - Em relação a quais congressistas o sr. tem provas de que foram pagos?
DANTAS - Eu não vou te dizer neste presente momento. Muitas pessoas têm me ajudado. Veja só, depois de meu depoimento na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça do Senado, em 2006], uma pessoa do Banco do Brasil me deu muitas informações a respeito de um tal de "Mexerica", disse que era um homem do [Luiz] Gushiken [então no comando da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica], que trabalhava no Banco do Brasil e fazia caixa de campanha, que na verdade grampeava telefones. Essa pessoa disse: "Transformaram o Banco do Brasil em um braço de arrecadação para campanha". Depois, cinco outras pessoas do Banco do Brasil me procuraram para dizer essas coisas. Uma dessas pessoas me procurou e disse que seria presa comigo por ter dito essas coisas. Isso ocorreu há 15 dias.

FOLHA - Esses seriam crimes contra a administração pública. O sr. não tem que apresentar essa provas ao Ministério Público?
DANTAS - Não. Eu não sou funcionário público. Eu posso apresentar essas provas na minha defesa. Eu suspeito que esse assunto seja enorme, muito grande. Em um só contrato da Telecom Italia, a Procuradoria de Milão entende que foram destinados 25 milhões para pagar autoridades no Brasil. A verba gasta pela Brasil Telecom e pelos fundos que estavam na disputa contra nós foi imensa. Essas questões vão aparecer na Procuradoria da Itália [que investiga a Telecom Italia] e no processo da 7ª Vara [Criminal Federal de São Paulo, que investiga eventuais crimes cometidos pelo delegado Protógenes na Satiagraha]. O Paulo Lacerda [ex-diretor-geral da Polícia Federal] foi usado, ele não sabia o que estava acontecendo.

FOLHA - A Polícia Federal acusa o sr. de usar a Agropecuária Santa Bárbara Xinguara para lavar dinheiro. Isso ocorreu?
DANTAS - É uma acusação delirante. Vou explicar por que estamos investindo na agropecuária. Meu trabalho aqui é procurar investimentos. Gasto meu tempo estudando, não gasto meu tempo gerenciando. Quando resolvemos sair do setor de telecomunicações, olhamos para o mundo e percebemos que iríamos ficar incompetitivos, porque o Brasil não está investindo em educação, e a Ásia está. O Brasil tem vantagens competitivas nos recursos naturais e possui um dos maiores potenciais de produção de alimento do mundo. A Ásia está expandindo do ponto de vista de renda, o que expande o consumo, [mas] eles não têm como produzir e nós temos. Investimos em pecuária e mineração por esses motivos.

FOLHA - O sr. foi condenado por irregularidades financeiras em um processo nas ilhas Cayman. Qual sua posição sobre essa condenação?
DANTAS - Houve irregularidades no processo. Há provas na Itália de que a Telecom Italia está metida nisso.

FOLHA - Em uma das interceptações da Satiagraha, há uma conversa de pessoas acusadas de serem seus emissários, que comentam que o sr. não está preocupado com o julgamento da Satiagraha nas instâncias superiores. Isso é verdade?
DANTAS - Isso não é verdade. Essa gravação não é minha. Nunca falei isso. Estávamos recebendo muita informação de que havia corrupção na Justiça. Há provas na Operação Satiagraha de que houve corrupção na Justiça por parte dos agentes dos fundos de pensão. Não posso comentar sobre isso porque isso está sob segredo de Justiça. Estávamos vendo que havia algo completamente fora de ordem. O que os advogados aqui argumentavam era que a probabilidade de ocorrerem eventos como esse nos tribunais superiores é menor. Essa foi a discussão que existiu em relação a esse tema. Arranjaram um juiz que de alguma forma achavam que tinha certa antipatia por empresários, ou coisa que o valha. Qual é o risco [para os adversários de Dantas]? Os tribunais superiores? Qual é a vacina? Lançaram suspeita [sobre os tribunais].

FOLHA - Quando o sr. menciona um juiz pouco simpático aos empresários, se refere a Fausto De Sanctis?
DANTAS - A sensação que tenho em relação ao juiz é de um certo preconceito em relação à minha atividade.

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