5.1.08

Fogo amigo que virou uma bomba

Saiu pela culatra o tiro que o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado, José Dirceu (SP), pretendia dar em seus desafetos políticos do PT do Rio Grande do Sul. No topo da lista-alvo de Dirceu estava o ministro da Justiça, Tarso Genro. Em entrevista à revista Piauí, Dirceu revelou que a construção da sede do PT gaúcho foi financiada com recursos de caixa dois de campanha eleitoral. O fogo amigo ganhou ares de bomba detonada dentro do partido, uma vez que o processo contra os 40 acusados do mensalão está em sua fase inicial, com a tomada de depoimentos dos réus.

As acusações de Dirceu, desmentidas ontem mesmo por ele, acabaram beneficiando os adversários do PT - notadamente o deputado federal Ônix Lorenzoni, do DEM, que deve pleitear a prefeitura de Porto Alegre na eleição de outubro e o prefeito José Fogaça - e também aos tucanos.

- Ele perdeu a chance de ficar calado; agora que tínhamos uma boa chance de recuperar a prefeitura de Porto Alegre, as acusações já estão sendo usadas contra nós, verdadeiras ou não - vociferou m petista próximo a um dos pré-candidatos da legenda à prefeitura da capital gaúcha.

- É gravíssimo. Uma bomba. Não só os partidos, mas a população tem de exigir da Justiça o aprofundamento dessas informações e a verificação de sua autenticidade - cobrou a senadora Marisa Serrano (MS), vice-presidente nacional do PSDB.

Defendendo Delúbio

Para agravar ainda mais a situação, Dirceu tentou sair em defesa do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Segundo ele, colegas de sigla recorriam ao ex-tesoureiro com pedidos de até R$ 1 milhão. A mala, confessa Dirceu, era para eles.

Ontem, à saída de uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Justiça, Tarso Genro, reconheceu que existem divergências entre Dirceu e o PT gaúcho, mas considerou o problema de ordem "residual".

- Eu não tenho informações sobre isso. É um contencioso que ele (Dirceu) estabeleceu com o ex-diretório do partido no Estado - alegou, esquivando-se de fornecer maiores detalhes.

O ex-ministro da Casa Civil disse em sua entrevista à Piauí que "o pobre do Delúbio tinha que ir aos empresários conseguir doações".

- Aí, estoura o mensalão, e esse pessoal vem dizer que o Delúbio era o homem da mala. O que não dizem é que a mala era para eles - disse na entrevista.

O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), afirmou que o partido deverá estudar junto à sua assessoria jurídica as medidas a serem tomadas a partir das confissões do ex-dirigente petista.

- Não podemos ficar impassíveis diante disso - reagiu.

Momento estranho

O tucano considerou estranho o momento das revelações.

- Até porque ele é réu no caso do mensalão. Uma confissão da prática de atos ilícitos como esses só tende a agravar a posição deles e dos companheiros de partido. É preciso entender o que o teria levado a dar essa entrevista. Deve ter outras razões por trás disso - observou o líder tucano.

O teor bombástico das declarações de Dirceu podem ter abalado o PT, mas até sua assimilação pela oposição é complicada, como admite Marisa Serrano.

- É no mínimo muito estranho o Dirceu soltar uma bomba dessas sabendo que ela seria publicada no início de um ano eleitoral. Temos que saber o que está por trás disso - alertou a senadora.

Na avaliação do deputado estadual Claudio Diaz (PSDB-RS), a entrevista do es-ministro reabre a discussão sobre o mensalão às vésperas do julgamento dos 40 aliados do Planalto acusados de participar do esquema do mensalão. Para ele, as declarações de Dirceu reforçam de forma definitiva que o envolvimento no caso não é só do deputado cassado, mas de toda a cúpula do governo Lula.

O parlamentar gaúcho diz que a acusação de caixa dois, exteriorizada de forma "inesperada", confirma o que "todos sabíamos que existia e que foi acobertado de forma irresponsável".

- Vem comprovar que algumas suspeitas para alguns são realidades marcantes - aponta Diaz.

O tucano não descarta a hipótese de que Dirceu esteja usando a imprensa para enviar recados a correligionários ou mesmo para retaliar sobre possíveis negócios frustrados com o governo em sua atual atividade: o deputado cassado é hoje consultor de empresas privadas.

Marcos Seabra - JB

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