Todos os mortos eram funcionários da fazenda; líder dos sem-terra afirma que eles apenas agiram em "defesa do acampamento"
Delegado diz que confronto ocorreu devido à tentativa de reinvasão da área, de onde os lavradores haviam sido despejados há 15 dias
Um confronto envolvendo seguranças de uma fazenda e integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) resultou na morte de quatro homens -todos funcionários da propriedade rural. O crime ocorreu anteontem, em São Joaquim do Monte, a 134 km de Recife.
Dois suspeitos de participação nas mortes foram presos em um acampamento do movimento montado em frente à fazenda. Outros dois sem-terra ainda estão sendo procurados. Um deles estaria ferido. Os donos da fazenda não foram encontrados ontem pela Folha.
Segundo o delegado da cidade, Luciano Francisco Soares, o confronto ocorreu às 15h de sábado durante uma tentativa de reinvasão da fazenda Consulta, de onde os lavradores haviam sido despejados há 15 dias por determinação da Justiça. Cerca de 80 trabalhadores rurais participaram da ação. Segundo o delegado, cinco seguranças da fazenda reagiram à invasão e houve troca de tiros.
Dois funcionários da fazenda morreram durante o embate. Outros dois, segundo o delegado, foram perseguidos e mortos pelos sem-terra longe do local do conflito. Um segurança e dois lavradores fugiram e estão sendo procurados.
Foram presos os agricultores Paulo Alves Cursino, 62, e Aluciano Ferreira dos Santos, 31, líder do acampamento. Nenhuma arma foi encontrada.
Em depoimento em Bezerros (PE), Santos disse que a briga começou quando um segurança lhe deu um soco na boca, após discussão sobre um suposto vídeo feito pelo MST no despejo. As cenas mostrariam os funcionários armados.
O líder do acampamento negou ter participado do tiroteio. Disse que só viu um integrante do movimento armado, Romero Severino da Silva, o foragido que se feriu. A polícia apurou que ele se medicou em um hospital de Agrestina e sumiu.
O outro suspeito preso também negou participação nos crimes. O delegado diz que ele distribuiu as armas aos lavradores, versão confirmada por uma testemunha, que também viu dois seguranças armados.
Ainda de acordo com o delegado, após o confronto todas as armas foram recolhidas pelos sem-terra e levadas em um Corsa. Os suspeitos, autuados em flagrante sob acusação de homicídio qualificado, podem ser condenados a penas de 12 a 30 anos de reclusão.
O líder do MST, Jaime Amorim, disse que os sem-terra só agiram em "defesa do acampamento". Segundo ele, "pistoleiros armados" ligados à fazenda fizeram três investidas contra os lavradores para "tentar matar todo mundo": "Eram 15 pistoleiros armados com pistolas e espingardas", disse Amorim.
"Eles tentaram desalojar o pessoal do acampamento Jaboticaba e depois atacaram o acampamento Consulta." Disse que os acampados se defenderam usando "armas de caça" que têm para se alimentar. "Se não reagíssemos, estaríamos hoje enterrando os nossos".Folha
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