10.9.08

Oposição fecha válvulas de gás na Bolívia

Brasil diz que fornecimento não foi afetado, mas adversários de Morales ameaçam prosseguir com ação contra gasodutos

Diferentemente de campos petrolíferos e estações de compressão, válvulas de segurança não estão sob proteção de Forças Armadas


Opositores ao governo Evo Morales da região do Chaco, zona gasífera do sul boliviano, anunciaram ontem ter fechado quatro válvulas do gasoduto que envia o combustível ao Brasil. O fornecimento ao país não foi afetado, no entanto, segundo autoridades do setor.
O gerente comercial da Transierra, empresa que administra o gasoduto Bolívia-Brasil no país vizinho, Jorge Bolant, disse que os opositores de Morales ocuparam uma das instalações com o objetivo de fechar uma válvula de segurança do gasoduto, mas não tiveram êxito.
"É uma válvula que funciona com acionamento automático, mas que também pode ser manipulada manualmente. Mas não é algo simples de ser feito, é necessário conhecer o equipamento. Por isso, não conseguiram", disse Bolant.
A Transierra tem como sócias a Petrobras, a Andina-Repsol e a francesa Total. Segundo Bolant, a operação do gasoduto funciona normalmente e, até agora, não há ameaça de interrupção do abastecimento de gás para Brasil e Argentina.
Na cidade de Villamontes, um dos focos do protesto no Chaco, a Folha falou com um homem que diz ter participado do fechamento de uma segunda válvula, a 36 km da cidade. O mesmo disse o líder dos manifestantes da região, Felipe Moza, presidente do Comitê Cívico local. "Sei que fecharam quatro, mas essa é a única que garanto, essa sim está fechada", afirmou Moza.
A válvula afetada pelos manifestantes de Villamontes é como as outras, parecida com uma chave de torneira gigante, segundo imagens da TV local. É cercada por arame farpado, rompido na ação.
Não havia confirmação sobre o fechamento das outras duas válvulas, mas a ameaça dos líderes cívicos era seguir com as ações para chamar atenção do governo, de quem cobra que reveja a decisão de reduzir o repasse aos departamentos do IDH, imposto sobre hidrocarbonetos, para financiar o pagamento de pensões a idosos.
À diferença dos campos petrolíferos e das estações de compressão, as 20 válvulas de segurança ao longo do gasoduto da Bolívia até o Brasil não estão sob vigilância militar. Tarija é responsável por 60% da produção de gás boliviano. O Brasil, por sua vez, importa da Bolívia metade do gás natural que consome.

Abastecimento garantido
No começo da noite de ontem na Bolívia, TVs informavam que o presidente Evo Morales estaria reunido com o comando militar e integrantes do gabinete. Mais cedo, o governo voltara a garantir o abastecimento do Brasil e da Argentina.
Ontem, em Manaus, a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, reafirmou que considera o governo boliviano um fornecedor confiável: "A Bolívia tem sido um excepcional supridor de gás para o Brasil, apesar de todas as suas inquietações. Até o momento não há sinal algum de que possamos ter perda de suprimento do gás da Bolívia".
A TBG (Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil), que administra o gasoduto no Brasil, informou que o abastecimento está normalizado.
Apesar dessas declarações, executivos que atuam na indústria de petróleo e gás da Bolívia temem que os opositores de Morales queiram adotar uma estratégia de interrupções pontuais do fornecimento.
Segundo essa interpretação, não interessaria a eles paralisar completamente o fornecimento de gás a Brasil e Argentina.
Isso porque o objetivo dos manifestantes seria o de pressionar os governos brasileiro e argentino a adotar uma posição mais dura quanto a Morales.
Os dois países integram com a Colômbia o chamado "grupo de amigos", que tentou sem sucesso destravar a crise que se arrasta no país desde que o governo aprovou, sem a anuência da oposição, uma nova Constituição no ano passado, e que apenas se acirrou após a ratificação de Morales, com mais de dois terços dos votos, em um referendo revogatório realizado no mês passado.
A maioria das empresas que atuam no Chaco montou um plano emergencial para assegurar o abastecimento das unidades de produção e garantir o deslocamento dos funcionários para os locais de trabalho.
Folha

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