Lacerda vai ao Congresso e contesta versão de Jobim sobre escutas ilegais
O diretor-geral afastado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), delegado Paulo Lacerda, desmentiu ontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao negar, em depoimento na CPI dos Grampos, que o órgão tenha equipamentos capazes de fazer escutas telefônicas e tenha praticado ilegalidades na sua gestão.
Afastado do cargo devido à crise provocada pelo episódio dos grampos contra o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e outras autoridades, ele acabou se envolvendo em um bate-boca com o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), um dos supostos alvos das escutas ilegais.
Virgílio interrompeu a fala de Lacerda para indagar se ele considerava que o ministro da Defesa mentira quando disse que a Abin tinha maletas capazes de fazer escutas à margem da Justiça. "Como diretor da Abin, afirmo que ela não possui (as maletas)", respondeu, ríspido, Lacerda. "Acho que o senhor deveria indagar ao ministro", disse. "Não sou seu preso. Não me trate como se eu estivesse num pau de arara. O ministro mentiu?", retrucou Virgílio.
Lacerda explicava, ao ser interpelado, que os equipamentos adquiridos pela agência são de varredura. "A Abin não possui equipamentos específicos para ouvir ou gravar conversações."
Depois do mal-estar, Lacerda pediu desculpas, mas explicou que estava também indignado com as "acusações levianas" das quais se disse vítima. Por sugestão do senador Romeu Tuma (DEM-SP), a comissão aprovou a realização de uma diligência, com um perito, para saber quem tem razão. Jobim deporá em data a ser acertada.
A comissão aprovou, ainda, a tomada de depoimento do araponga aposentado Francisco Ambrósio do Nascimento, suspeito de ter auxiliado nas investigações da Operação Satiagraha, que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e do investidor Naji Nahas.
Presente à audiência o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Armando Felix, negou que a Abin tenha feito escutas ilegais durante a Satiagraha.
Último a depor, o diretor-geral da Polícia Federal, delegado Luiz Fernando Corrêa, disse que a PF apenas faz grampos com autorização judicial e em casos excepcionais. "Há um mito em torno do uso de escutas."
As seis horas de discussões, porém, não trouxeram respostas para questões centrais sobre as escutas ilegais. Não ficou esclarecido se a Abin e a PF estão envolvidas nas escutas ilegais e nem se as maletas da Abin podem fazer grampos.
Estadão
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