23.10.09

Imperador Obama fica nu ao despir rede Fox

por Caio Blinder, de Nova York

O governo Obama tem todo o direito de detestar a rede Fox de televisão. O sentimento é mútuo e no geral esta emissora conservadora é extremamente partidária e distorce o seu noticiário.Mas é censurável a decisão da Casa Branca de declarar guerra aberta contra a Fox, acusando a emissora de ser um braço de propaganda do Partido Republicano e assumindo seu propósito de isolá-la ao não conferir acesso a notícias do Executivo.

Em primeiro lugar, o Poder Executivo em uma sociedade democrática não deve intimidar seus inimigos na imprensa. Pode criticar, questionar ou mesmo ridicularizar abordagens absurdas e panfletárias como tratar o presidente Obama como camarada de terroristas, empenhado em criar uma sociedade totalitária ou ser antiamericano.

A campanha de Obama na verdade dá legitimidade a algumas acusações da Fox. Por esta razão, esta guerra aberta deve ser recebida não apenas com indignação, mas com perplexidade. O que o governo ganha com esta briga? Um motivo óbvio é mobilizar a base liberal desencantada com Obama, alvejando de forma preferencial um oponente que realmente irrita os não conservadores. Mas a Fox não está tão irritada assim com a campanha do governo. Pelo contrário. Ela cresce na guerra, não só na audiência, mas na convicção de que sua causa é justa. Já o governo fica menor.

Repito que o governo Obama tem o direito de detestar a Fox, mas é inadmissível sua exigência que todo mundo, em particular o resto da imprensa, deteste e boicote a emissora conservadora. Neste capítulo falta indignação de jornalistas, mesmo daqueles mais liberais ou simpáticos ao governo. Afinal não cabe ao Poder Executivo ditar regras de comportamento ao Quarto Poder. Basta ver que logo após os atentados de 11 de setembro de 2001 e em meio a uma febre patriótica, Ari Fleischer, o então assessor de imprensa da Casa Branca do republicano George W. Bush disse que pessoas "deveriam tomar mais cuidado" sobre o que falavam sobre o governo e o país. Houve um furor na imprensa contra este tipo de intimidação.

No entanto, o mesmo furor não acontece agora. É uma pena, pois, desde os tempos em que Richard Nixon conspirou com sua "lista de inimigos", uma Casa Branca não recorria com tanto empenho à sua influência para remover a legitimidade de uma organizaçao de mídia crítica do governo.

A Fox pode exagerar, distorcer e criar uma realidade alternativa para os seus fiéis espectadores, mas em um universo jornalístico em que Obama é tão adulado (já foi mais) é sempre saudável ter um setor da imprensa lembrando que o presidente imperial está nu. Deve ser assim em qualquer república democrática.

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