30.5.09

Doutor No dá adeus

Ex-presidente da Coreia do Sul se suicidou porque era caso raro: não aguentou as acusações de corrupção


Vilma Gryzinski

Lee Jin-man/AP

Na manhã de sábado 23, Roh Moo-hyun escreveu uma mensagem de despedida no computador, fingiu que ia dar seu passeio habitual pelo campo, pediu um cigarro ao segurança e pulou numa ribanceira de mais de 30 metros. A morte fez muito bem à reputação de Roh (pronuncia-se No). Advogado autodidata que reconheceu transações ilegítimas enquanto foi presidente da Coreia do Sul, de 2003 até o ano passado, ele recebeu incontáveis e comovidas homenagens. Em outros países, cidadãos com mais distanciamento emocional tiveram visões dos seus próprios corruptos e, corações endurecidos, simbolicamente incitaram: pula, pula. Sem chance. Roh parece ter sido um caso raro de político que, além de problemas de saúde, tinha vergonha. "Muita gente sofreu por minha causa", escreveu na mensagem de despedida. "O resto da minha vida será um peso. Não posso mais ler nem escrever." Político de esquerda nascido em família de agricultores, Roh foi peão de obra e levou para o além o ressentimento em relação aos que cursaram universidade (calma lá: estudou por conta própria e passou no equivalente ao exame da Ordem dos Advogados sem ter feito faculdade de direito). Fora da Presidência, voltou para a aldeia natal, mas não teve paz. Ônibus lotados traziam, aos milhares, turistas que iam ver o aposentado ilustre no lugarejo de apenas 120 habitantes. Também enfrentou o rito de passagem dos ex-presidentes sul-coreanos: investigações inclementes. Acabou admitindo que sua família recebeu 6 milhões de dólares de um fabricante de tênis. Mas disse que não sabia. Toda desculpa do gênero será relevada se o envolvido, depois, pular da ribanceira.

2 comentários:

Marcos Pontes disse...

Rho seria um caso raro de político se fosse ocidental, mas no Extremo Oriente os corruptos, quando flagrados, têm a honra de se matarem ou pedirem desculpas em público. Por aqui eles, como maridos adúlteros, neam até o fim, mesmo que as provas irrefutáveis sejam esfregadas em seu nariz e a Justiça lhes diz "continue negando que nós acreditaremos em você". Assim continuam impunes.

CPI Brasil (Roy Lacerda/Editor) disse...

País onde existe o respeito mútuos entre nação e políticos, ocorre isto.Mesmo que possa se comprovar a inocência,o político sente-se envergonhado por ter seu nome envolvido em 'maracutaias" e suicida-se.