26.12.08

Luiz Marinho usou "candidatos de aluguel"

Aspirantes a vereador pela coligação do petista admitem ter emprestado nome para ajudar ex-ministro, sem ter intenção de se eleger
Campanha investiu cerca de R$ 5 mi em 242 candidatos de São Bernardo, sendo 211 de dez siglas da aliança; dos aliados, ninguém foi eleito

A supercoligação formada para eleger Luiz Marinho (PT) prefeito de São Bernardo do Campo (SP) contou com candidatos a vereador que, assumidamente, emprestaram seus nomes em benefício da vitória do petista. Teve também injeções financeiras generosas em concorrentes com desempenho pífio, como a contadora Fabiana Campos Ferreira (PSC), que recebeu R$ 30,6 mil do PT e conquistou um voto.
Com a benção-e os recursos- do PT nacional, Marinho investiu cerca de R$ 5 milhões na campanha de 242 candidatos na cidade, sendo 211 de dez partidos da coligação. Das siglas aliadas, nenhum se elegeu.
Postulantes derrotados entrevistados pela Folha disseram ter sido usados como "cabos eleitorais de luxo", candidatos "de aluguel". Outros admitiram ter entrado na disputa apenas para emprestar o prestígio em seus redutos eleitorais à campanha do prefeito.
"Meu objetivo era tirar votos do PSDB e passar para o Luiz Marinho. Não tinha o intuito de me eleger", disse Carlos Alberto Massura (PR), que teve 140 votos.
Apesar de ter recebido um único voto, a contadora Fabiana, 30, segundo sua família, levou a sério a campanha. Dados do Tribunal Superior Eleitoral mostram que ela recebeu oito repasses de seu partido, o PSC, que teve como única fonte de arrecadação doações feitas pela campanha de Luiz Marinho.
Fabiana gastou tudo. Entre os pagamentos feitos com o dinheiro vindo do PT, constam R$ 4.000 para Gabriela Campos Ferreira, sua irmã, que disse ter coordenado a campanha, além de gastos com cabos eleitorais e som. Gabriela afirmou que a irmã não abriu mão da disputa, e lamentou o fracasso nas urnas, pois elas "trabalharam bastante".
Em um segundo contato, negou ter recebido recursos da campanha e disse que há algo errado na prestação de contas no TSE, sem explicar o que está equivocado. Também desconversou ao ser questionada se votou na própria irmã. A reportagem esteve na casa de Fabiana, mas foi informada de que ela estava viajando. A candidata não respondeu aos recados.
Danilo Yudi, também do PSC, recebeu R$ 22 mil provenientes do PT e não teve nenhum voto. Em sua casa -até hoje decorada com uma faixa de Marinho com o presidente Lula e o forrozeiro Frank Aguiar (deputado federal pelo PTB e vice-prefeito eleito)- a informação era de que ele também estava viajando.
Segundo Lena, mulher do candidato, Yudi abandonou a disputa após ter o registro negado pela Justiça Eleitoral, mas continuou a fazer campanha para Marinho: "Ele é petista fanático", disse. Lena afirmou que o marido só se candidatou pelo PSC porque não havia vagas no PT. O TSE informou que a candidatura foi deferida, isto é, estava valendo.
Assim como Fabiana e Yudi, seis candidatos da coligação que receberam em média R$ 21 mil do PT tiveram menos de 50 votos. Além da dedicação exclusiva à campanha majoritária, o desempenho ruim também pode ser atribuído ao inchaço da coligação.

Promessas
Outros derrotados acusam a coligação de descumprir promessas feitas em troca do empenho na campanha de Marinho. "Eu nem queria estar ao lado do PT, mas a proposta era boa e eu até discursei ao lado dele [Luiz Marinho] e do Frank Aguiar. Estou esperando meu comitê e uma perua adesivada até hoje", diz Pedro Cabeleireiro (PDT), que teve 256 votos.
Também é comum entre os candidatos o relato de que eles não pensavam em se candidatar, até receberem propostas tentadoras. Popular no bairro onde trabalha, o barbeiro José Ferreira Cunha contou ter sido procurado por um consultor político da coligação, ainda em 2007. "Ele me convidou [para ser candidato] e mandou escolher entre um monte de letrinhas. Gostei do PTN", disse.
Analfabeto, o barbeiro acabou tendo sua candidatura impugnada. Mas continuou a receber recursos de seu partido (R$ 13 mil no total), oriundos do PT, e a fazer campanha para Marinho: "Eles usaram a gente, hoje não tenho dúvida. Como dez partidos não conseguem eleger uma pessoa?"
Marinheira de primeira viagem (como a maioria dos candidatos da coligação), a dentista Caren Cristina Oliveira, 36, disse que não tinha como bancar a própria campanha. "Fui pelo apoio [prometido]." Ela, que recebeu o material impresso prometido a um mês da eleição, se sentiu usada. "A gente acabou sendo cabo eleitoral de primeira linha. Fui entender isso no final da campanha", afirmou. Ela acredita que a coligação sabia que não tinha chance de eleger ninguém.
Roberto Santana da Silva suspeitou que o convite do PRTB para ser candidato não era sério quando dinheiro e material de campanha começaram a atrasar. Ele diz guardar uma caixa de santinhos que chegou um dia após as eleições. A gota d'água, porém, veio no segundo turno, quando Santana recebeu a "proposta humilhante" de segurar bandeiras para o candidato a prefeito por R$ 20 reais ao dia. O convite, diz ele, foi feito aos 32 candidatos da sigla, todos derrotados. Folha

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