18.12.08

Concurso do Ipea

Concurso do Ipea faz ataque a neoliberalismo e globalização

Prova atual prioriza questões ideológicas e defende ações do governo Lula
Instituto deixa de lado conhecimento de economia aplicada e quer contratar economistas alinhados a teses controversas


Com a intenção declarada de "elaborar um plano de desenvolvimento de longo prazo para o Brasil", o Ipea, vinculado desde o ano passado à Presidência da República, promove um concurso público que destaca programas do PT, reduz exigências de conhecimentos de economia e cobra dos candidatos a pesquisadores alinhamento a teses contra o "neoliberalismo" e a globalização.
Motivo de controvérsia desde o edital, em setembro, o processo seletivo é o maior da história do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -e, a partir de critérios introduzidos por seu presidente, Marcio Pochmann, quer contratar profissionais de perfis bem distantes do que indica o nome do órgão.
As primeiras provas, domingo passado, mostraram que o instituto não pretende apenas exigir o conhecimento de temas e autores pouco ligados à formação tradicional de um economista, como a obra de pensadores referenciais para a esquerda nacional. Demanda-se também concordância com afirmações que alimentam polêmicas político-ideológicas.
"O termo neoliberalismo designa uma corrente de organização de atividade econômica que capciosamente ecoa um movimento histórico com o qual em realidade e na prática não compartilha fundamentos e princípios", é uma das afirmações propostas aos candidatos, que devem assinalar "certo" ou "errado" -e o gabarito recém-divulgado indica "certo".
A questão está incluída na prova de conhecimentos específicos para pesquisadores na área de "estruturas tecnológica, produtiva e regional", que, aparentemente, exige dos especialistas familiaridade com a obra do sociólogo Francisco de Oliveira, que no governo Lula trocou o PT, do qual foi um dos fundadores, pelo PSOL.
Na prova, 6 das 69 afirmações propostas estão abrigadas em textos sobre Oliveira, incluindo: "A especulação financeira vislumbra como luz no fim do túnel o brilho do tesouro nacional" -considerada correta pelo gabarito, mas não atribuída ao sociólogo.
A variedade de especializações possíveis é uma das inovações do concurso, que pretende selecionar 62 pesquisadores, com salário inicial de R$ 10,9 mil, em sete áreas. No concurso anterior, de 2004, os 22 aprovados passaram por uma mesma prova, concentrada em conhecimentos de teoria econômica, matemática e estatística.
Aos candidatos a pesquisador na área de "infra-estruturas e logísticas de base" foi apresentado um texto sobre o Projeto Moradia, iniciativa do Instituto Cidadania, ONG historicamente ligada ao PT e ao presidente Lula. Mais adiante, faz-se referência ao programa Luz Para Todos, do governo petista, como contraponto virtuoso a políticas do passado.
Questões ligadas aos embates políticos e ideológicos permeiam todas as provas, nos textos introdutórios e nas questões -há desde a defesa das políticas sociais até críticas à mídia e ao Judiciário.
Em nota, o Ipea diz que as críticas à prova são naturais. "Os concursos do instituto acabam sempre muito discutidos e comentados interna e externamente, pela dificuldade de suas provas e importância do Ipea para o Estado e a sociedade. (...) A discussão principal hoje é que o Ipea tem como missão ajudar a elaborar um plano de desenvolvimento de longo prazo ao Brasil e quer trazer os melhores dos melhores." Folha

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