Para oposição, ação é outro capítulo do jogo de poder no PT
PF não pede licença ao governo para investigar, diz Franklin Martins
A Operação Satiagraha foi tratada pelo Planalto, pelo menos em público, como um ato de rotina da Polícia Federal. No Congresso, a maioria dos parlamentares da oposição viu as prisões do sócio-fundador do Banco Opportunity, Daniel Dantas, do investidor Naji Nahas e a ressurreição das investigações em torno do mensalão como mais um capítulo do "jogo de poder dentro do PT". Para alguns senadores e deputados, a operação empurra para segundo plano os problemas com a inflação, ainda que possa não ter sido deflagrada com essa intenção.
"A PF não recebe nem pede licença ao governo para investigar o que tem de investigar", disse o ministro Franklin Martins (Comunicação Social) sobre a Operação Satiagraha. Ele afirmou que o governo federal não se beneficia politicamente das ações da PF, que passam a imagem de uma polícia eficiente e comprometida com o combate ao crime. "Pode ser bom para o País", avaliou. E acrescentou: "O governo não tem elementos para fazer avaliações. Embora essas investigações despertem a atenção do País, o que se pode afirmar, apenas, é que há um processo normal de funcionamento das instituições."
O ministro da Justiça, Tarso Genro, telefonou ontem para parlamentares, mas se limitou a citar os dois motivos que, pela apuração da PF, levaram à prisão de Dantas e demais sócios do Opportunity: as relações dele e da empresa com os envolvidos no mensalão e a evasão de dinheiro para o exterior. Porém, o Estado apurou que Tarso se irritou com o delegado que conduziu a Satiagraha, permitindo que a prisão de Celso Pitta, de pijama, fosse filmada por uma rede de TV, além de mostrar gente algemada - o que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem pedindo para que a PF evite.
Parlamentares ligados à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), como a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), disseram que foram surpreendidos com a operação. Ideli classificou a ação de "muito pesada".
Senadores da oposição, que pediram anonimato, fizeram conjecturas políticas e desenvolveram algumas teorias conspiratórias. Mas admitiram ter informações de que Dantas já esperava ser preso. Contaram até que, duas semanas atrás, Verônica Dantas, irmã do sócio-fundador do Opportunity, que também foi presa ontem, foi seguida até sua casa por um carro de chapa fria. A família teria investigado o caso e chegado à conclusão de que se tratava de vigilância da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), órgão que está sob comando de Paulo Lacerda, ex-diretor da PF.
Para alguns parlamentares, a prisão de Dantas também pode esconder interesses políticos por trás da fusão Oi/Telemar com a Brasil Telecom (BrT). De um lado, estaria Tarso, que atuaria politicamente para enfraquecer a posição de Dilma, que defende a fusão. Esse assunto divide o PT. Contra a fusão estariam o ex-ministro Luiz Gushiken e o presidente da Previ, Sérgio Rosa.
Franklin Martins rejeitou interpretações políticas sobre a operação, alegando que podem gerar avaliações precipitadas. Ponderou que, pelas informações divulgadas até o fim do dia de ontem, não era possível saber a dimensão do trabalho da polícia.
A uma pergunta sobre as palavras que sintetizariam o clima no Palácio do Planalto depois de mais uma operação da PF, Franklin Martins respondeu: "Vamos acompanhar."
Ele fez questão de ressaltar que a Polícia Federal não é um órgão do governo, mas do Estado, e que cumpre a legislação em parceria com outros Poderes: "Essas investigações não são de iniciativa do governo, mas o resultado de um trabalho conjunto da PF, Judiciário e Ministério Público." O ministro acrescentou que "o governo não fica incentivando ou cerceando investigações".
FRASES
Franklin Martins
Ministro da Comunicação Social
"A PF não recebe nem pede licença ao governo para investigar o que tem de investigar"
"O governo não tem elementos para fazer avaliações. Embora essas investigações despertem a atenção do País, o que se pode afirmar, apenas, é que há um processo normal de funcionamento das instituições"
Estadão
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