3.12.07

O 12º partido da coalizão de Lula


No dia 1º de janeiro deste ano, o então presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Gustavo Petta, voou num jatinho da FAB de São Paulo para Brasília, com um ministro do governo. Petta teve lugar de honra na cerimônia de posse do segundo mandato do presidente Lula. A carona de luxo foi um caso sem precedente na UNE e um recado da legião de estudantes para o Planalto de como se comportaria a partir deste ano. Petta, hoje, é membro do Conselho Nacional da Juventude, ligado ao gabinete do presidente da República. A nova dirigente, a bela gaúcha Lúcia Stumpf, tomou posse na linha do antecessor. Aberta ao diálogo, priorizou a visita a gabinetes do Senado em sua agenda política.

O governo tem 11 partidos na coalizão. Perto das benesses do poder, a UNE não é mais a mesma. Parece uma 12ª sigla a esticar o alcance político-popular do Palácio. Quem percebe são parlamentares da oposição e até governistas. O senador Pedro Simon (PMDB-RS), em entrevista ao JB, perguntou onde estavam os jovens que lotavam as ruas para protestar contra denúncias de corrupção. Em anos anteriores, a UNE levou dezenas de milhares às ruas nas campanhas Fora Collor (inclusive Lúcia Stumpf, aos 11 anos), Fora FMI e Fora FH. Todas em legítima defesa da transparência. Mas não promoveu um Fora Lula no caso do famigerado mensalão, envolvendo ministros bem próximos a ele. E sumiu da Esplanada quando a sociedade clamou por explicações no caso Renan.

Agora, numa campanha também legítima, a UNE mobiliza políticos para construir a sede da entidade no Rio, orçada em R$ 30 milhões. Conseguiu reunir ministros, deputados e senadores num luxuoso restaurante de Brasília. O governo está prestes a ajudar. E esse sinal, associado ao partidarismo evidente da entidade, deixa a certeza de que, a cada dia, a UNE troca os carros de som pelos jatinhos, os discursos efusivos pelas singelas notas oficiais, os diretórios acadêmicos pelos gabinetes do Congresso, os restaurantes universitários pelas pomposas churrascarias, e a cobrança da ética pela complacência com os desmandos do poder.

Em Goiânia, na quarta-feira, a UNE realiza o 37º Congresso da UBES. Em meio ao cerrado, o encontro pode dar à entidade a chance de não se afundar no pântano do poder e resgatar, a tempo, seu maior tesouro: a independência.
Leandro Mazzini - JB

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