Lula: Chávez foi primeiro progressista
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que não haverá integração entre os países do Mercosul se os mais fortes economicamente, como Brasil e Argentina, não fizerem concessões para os menores. Ele defendeu o avanço das esquerdas na América do Sul e Central e elogiou publicamente os colegas Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia, que se envolveram em recentes conflitos diplomáticos com o Brasil.
"Ficam de um lado uns países achando que a Argentina é um país imperialista. De outro lado os companheiros da Bolívia e do Paraguai tratando o Brasil como imperialista. Obviamente que tem de ser assim, porque nós não fazemos aquilo que tem de ser feito em política internacional. Nós temos de ceder para esses países menores poderem crescer."
Num discurso descontraído, mas repleto de citações históricas, que durou 45 minutos no evento de encerramento do Encontro de Governadores da Frente Norte do Mercosul, Lula surpreendeu a todos. Iniciou seu discurso lembrando o Fórum de São Paulo, primeiro encontro promovido na América Latina entre as esquerdas. "Lembro como se fosse hoje, só da Argentina tinha 13 organizações políticas de esquerda que não se conversavam. A única coisa que os unia era o Maradona."
Segundo ele, a partir dali começou uma revolução das esquerdas na América do Sul que agora caminha para a América Central. "O que aconteceu na América do Sul é um fenômeno político que possivelmente os sociólogos levarão um tempo para compreender, porque foi tão rápida a mudança", afirmou.
Lula citou conquistas da esquerda na Argentina, no Uruguai, no Paraguai, no Equador como um processo de crescimento. "Nessa época, o Chávez era o único presidente com cara progressista, com compromissos efetivos com o povo mais pobre", afirmou.
"E hoje vemos que o que aconteceu na América do Sul está se espraiando pela América Central e para a América Latina", disse, sob aplausos - citando as eleições na Guatemala, no Panamá e as possibilidades da esquerda em El Salvador. "E assim estamos avançando. Há um mapa exatamente antagônico ao mapa que existiu de 1980 a 1990 ou ao ano 2000." Segundo ele, quando o povo teve oportunidade na América do Sul "fez uma guinada completa, trocou o neoliberalismo pelo que tinha de mais avançado em políticas sociais".
INTEGRAÇÃO
Lula assumiu o discurso de que o Brasil, como maior País da América do Sul, tome a frente nas políticas de integração comercial do Mercosul e faça concessões aos países menores. Segundo ele, é natural que recaia nas costas do Brasil a responsabilidade de levar em conta as assimetrias existentes nas relações comerciais do continente. "Temos de trabalhar para industrializar países como o Paraguai, a Bolívia."
O presidente defendeu Chávez e Morales. Lembrou o episódio da nacionalização do gás na Bolívia como exemplo de concessão a ser feita nas relações entre países. "Estava em época de eleição quando o Evo Morales quis nacionalizar o gás dele e eu disse: ‘o gás é do Evo e ele está correto em nacionalizar, o gás é uma matéria prima e a única coisa que a Bolívia tem’."
Estadão
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