Investigações da Comissão de Sindicância do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) apontam o presidente da Associação dos Servidores da Abin (Asbin), Nery Kluwe, como um dos principais suspeitos de participar da operação que resultou na produção e divulgação de trechos de uma conversa do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). O ministro-chefe do GSI, general Jorge Félix, tratou do assunto com dirigentes da Abin, na quinta-feira. Sindicalista há longo tempo, Kluwe lidera uma campanha interna para tirar o delegado Paulo Lacerda em caráter definitivo do comando da Abin.
Lacerda foi afastado do cargo em caráter temporário pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de setembro, quando a revista “Veja" divulgou reportagem sobre suposto grampo. Gilmar Mendes cobrou providências imediatas de Lula e, no meio da crise, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, sugeriu o afastamento de Lacerda. Agora, o caso começa a tomar novos contornos.
— A fonte da “Veja" foi ele (Kluwe) — disse o general no encontro de quinta-feira, segundo relato de uma fonte do governo.
Em nota divulgada no início da noite de ontem, o GSI nega que o general tenha apontado suspeitos de escutas telefônicas. A Comissão do GSI foi aberta em 5 de setembro com o objetivo de investigar o envolvimento de servidores da Abin no grampo dos telefones de Gilmar ou de Demóstenes.
Desde então, a comissão vem chamando para depor servidores da Abin que trabalharam na Operação Satiagraha, investigação da Polícia Federal sobre o banqueiro Daniel Dantas que contou com o apoio de aproximadamente 80 analistas de inteligência.
Kluwe também foi interrogado.
Kluwe: “Provar é impossível. Não fiz".
Ouvido na quinta-feira à noite pelo GLOBO, o presidente da Asbin se esquivou das acusações.
— Suspeitam que eu sou o autor do grampo e do vazamento. Mas o ônus da prova cabe a quem acusa. Eu acredito em prova. Provar é impossível.
Não fiz o grampo — disse Kluwe.
A comissão suspeita ainda de mais três pessoas na trama do suposto grampo, pessoas que estão em guerra contra a cúpula da Abin, especialmente o delegado Paulo Lacerda, ex-diretor da Polícia Federal. O delegado foi bem acolhido quando chegou à Abin.
Com alto prestígio político, conseguiu aumentos substanciais de salários para os agentes. Mas, desagradou a alguns setores quando decidiu criar a Corregedoria Geral da Abin. Desde então, a corregedoria já abriu várias sindicâncias, duas delas contra Kluwe.
O sindicalista é acusado de abandono de emprego e de exercício ilegal de advocacia — não pode advogar enquanto trabalha em órgão público. Ele estaria faltando excessivamente ao trabalho. Kluwe também, mesmo sendo funcionário público, advogou em vários casos. Num deles, defendeu estudantes que pleiteavam entrar em universidades antes da conclusão do segundo grau. Em outro, atuou numa questão contra a Caixa Econômica Federal (CEF). Para a Abin, são condutas irregulares que podem resultar até na demissão do sindicalista.
Kluwe confirma que atuou como advogado, mas nega que tenha cometido qualquer irregularidade.
— Até a promulgação da lei 11.776/2008, era possível advogar, exceto contra a Fazenda Nacional — disse Kluwe.
Para integrantes da cúpula da Abin, o sindicalista faz parte de um grupo que inviabilizou a permanência do ex-diretor da agência Márcio Buzanelli no cargo e, agora, estaria em guerra aberta contra Lacerda e contra o general Jorge Félix. Outras pessoas investigadas pela corregedoria fariam parte deste grupo.
Em declarações ao longo da semana, Kluwe disse que o afastamento temporário de Lacerda se tornou insustentável. Para ele, Lula deveria decidir logo sobre a saída de Lacerda e, com isso, pôr fim ao vácuo de poder que teria se criado na Abin.
Kluwe tem criticado também a participação de agentes da instituição na Satiagraha, operação comandada inicialmente pelo delegado Protógenes Queiroz. A operação começou no período em que Lacerda ainda estava no comando da PF. Para o sindicalista, a operação deixou a Abin vulnerável a ataques externos e a situações vexatórias, como a apreensão de documentos sigilosos.
— Eles estavam acostumados a derrubar diretores da Abin e agora querem derrubar o doutor Paulo Lacerda — disse um assessor da diretoria.
A Comissão de Sindicância do GSI ainda não concluiu as investigações e, pelo menos por enquanto, o GSI não pretende tratar abertamente do tema. Em nota oficial do GSI, o general Jorge Félix “informa que não procede a notícia de que teria conhecimento sobre autor(es) de eventuais escutas telefônicas".
A conversa de Gilmar Mendes teria sido gravada em 15 de julho, uma semana depois do lançamento da Satiagraha, que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e do investidor Naji Nahas. O Globo
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