O ex-presidente João Goulart, deposto em 1964, foi anistiado neste sábado, por unanimidade, pela Comissão de Anistia. Sua viúva, Maria Tereza Goulart, também foi anistiada. Com a decisão, a família do ex-presidente vai receber uma indenização de R$ 650 mil, e a viúva, uma pensão de R$ 5.500. É a primeira vez que um ex-presidente é anistiado por perseguição política.
O neto de Jango, Christopher Goulart, filho de João Vicente e Stela Katz, representou a família e recebeu do ministro da Justiça, Tarso Genro, o documento anistiando Jango e Maria Tereza. A solenidade foi realizada durante o encerramento da XX Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Natal.
Jango defendia país mais igualitário, diz Lula
Em rara manifestação sobre os anos de chumbo no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez elogios ao ex-presidente João Goulart e, em nome do Estado, pediu desculpas pelo golpe que o derrubou do poder. Em carta, lida por Tarso Genro, Lula afirmou que Jango representa como poucos o ideal de um Brasil mais justo.
Ele representa como poucos o ideal de um Brasil mais justo, mais igualitário e mais democrático
"O evento de hoje homenageia a um grande líder da nação. Nunca será demais destacar o papel heróico de Jango para o povo brasileiro, uma vez que ele representa como poucos o ideal de um Brasil mais justo, mais igualitário e mais democrático. Infatigável defensor da pátria e das reformas de base , Jango viu o ocaso do Estado de Direito no Brasil, que o obrigou ao exílio, do qual retornou sem vida, para ser sepultado em sua amada terra natal", afirmou Lula na mensagem.
Segundo o presidente, o ato deste sábado não apenas homenageia a memória de João Goulart, mas também marca o pedido oficial de desculpas do Estado brasileiro, pela Comissão de Anistia, que "em nome do povo reconhece os erros do passado e pede desculpas a um homem que defendeu a nação e seu povo do qual jamais poderíamos ter prescindido".
Para Tarso, anistia é reparação do Estado a Jango.
Tarso afirmou, por sua vez, que a concessão da anistia política a João Goulart representa uma "reparação" do estado brasileiro.
Significa dizer à nação que ele foi injustiçado, que ele foi um grande brasileiro
João Goulart foi um homem injustamente cassado, perseguido e derrubado por meios ilegais, (perseguição política) significa dizer à nação que ele foi injustiçado, que ele foi um grande brasileiro - disse.
O ministro também lembrou os laços de sua família com Goulart, quando seu pai militou junto ao ex-presidente.
- Eu o conhecia pessoalmente. Sempre admirei seu jeito de fazer política olhando para o Brasil como um conjunto, olhando para as classes trabalhadoras e sempre procurando fazer concertações, acordos, dentro da ética e da democracia.
Neto de Jango diz que anistia é 'desagravo público'
Cristhofer Goulart afirmou que o ato representa um "desagravo público para um presidente constitucional que foi deposto por um golpe inconstitucional". Ele lembrou que seu avô foi o único presidente brasileiro a morrer no exílio.
- Que o Brasil preste uma homenagem àquele presidente que sequer teve luto oficial na data do seu falecimento. Morreu em 1976, e o silêncio foi a versão oficial do governo ditatorial que na época tinha medo da comoção popular pela morte daquele que era a personificação da queda da democracia brasileira - afirmou.
Jango foi eleito vice-presidente de Jânio Quadros em 1960. No ano seguinte, com a renúncia de Quadros, assumiu a presidência e foi deposto em 1964 pelos militares que então assumiram o poder. O ato marcou o início da ditadura militar no país.
O ex-presidente teve os direitos políticos cassados por dez anos e partiu para o exílio, onde permaneceu até sua morte, em 1976, na Argentina. Antes, viveu no Uruguai.
O Globo
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