Entre os documentos apreendidos pela Polícia Federal para o inquérito que apura o vazamento da Operação Satiagraha estão informações estratégicas da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Alguns desses dados, segundo a Folha apurou, são utilizados em relatórios confidenciais destinados à Presidência da República.
Há dados operacionais sobre temas sensíveis de interesse político, militar e econômico. Os arquivos também conteriam nomes de informantes e funcionários de inteligência, inclusive adidos estrangeiros que cooperam com a agência.
A Folha apurou ainda que entre o material apreendido há dados sobre exploração mineral no país, controle de fronteiras, espionagem internacional e contra-espionagem, além de trabalhos voltados ao monitoramento de movimentos sociais e terrorismo.
Na Abin, o clima é de irritação com a ação da PF, considerada despropositada. Também há tensão pelo eventual vazamento dos dados, que poderia colocar em risco a vida de funcionários infiltrados ou o sucesso de operações em curso.
Caso ocorra o vazamento, os agentes de inteligência ameaçam revidar. Ou seja, vazariam também informações sigilosas de agentes da Polícia Federal, mesmo sem autorização da cúpula. Também causou indignação entre os agentes da Abin a revelação pela imprensa do nome de vários funcionários do serviço secreto. Alguns tiveram até o endereço revelado.
Por enquanto, a Abin estuda medidas judiciais para preservar o sigilo dos dados, e dispositivos tecnológicos que garantam a inviolabilidade dos computadores dos agentes.
Na semana passada, policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão no Centro de Operações da Superintendência da Abin, no Rio, e nas residências de Thelio Braun D’Azevedo, diretor de operações da Coordenação de Inteligência Estratégica, e Luiz Eduardo Melo, funcionário da Receita Federal cedido à Abin.
Oficialmente, a Abin e o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) ainda não comentam a apreensão. Mas a reportagem apurou que a PF apreendeu seis desktops e três laptops, além de mídia digital (CDs e DVDs). Alguns desses equipamentos seriam de uso pessoal dos servidores. Ontem, a ação da PF foi principal tema da reunião de trabalho da cúpula do GSI, órgão de assessoramento do presidente e ao qual se subordina a Abin.
O general Jorge Felix, ministro-chefe do GSI, tenta contornar a crise. "Isso está sendo resolvido com diálogo. Vamos resolver logo. Nós [eu e Tarso], desde quarta-feira passada, estamos conversando", disse o ministro à Folha. Ele, porém, preferiu não falar sobre o grau de sigilo do material apreendido nas diligências da PF.
A direção geral da Polícia Federal é subordinada ao Ministério da Justiça. Tarso afirmou que a PF vai resguardar o sigilo dos dados.
A assessoria de imprensa da PF informou que está sendo feita uma triagem do material apreendido para selecionar apenas o que interessa ao inquérito. O resto será devolvido. O presidente da Asbin (Associação dos Servidores da Abin), Nery Kluwe, disse que a operação expôs os agentes de inteligência, gerando revolta na categoria. Segundo Kluwe, a associação defende que o diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, atualmente afastado da função, deixe de vez o cargo, mesmo provando não ter cometido nenhuma irregularidade na Operação Satiagraha. Kluwe quer a nomeação de um funcionário de carreira para dirigir o órgão.
Folha
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