Correio Brasiliense
Reconhecida nos últimos cinco anos como a poderosa arma do governo Lula no combate à corrupção, a Polícia Federal está na berlinda. Depois de construir uma áurea de credibilidade por conta das centenas de megaoperações, que levaram à prisão quase 10 mil pessoas, a corporação imergiu em uma crise que deriva, em boa parte, pelo racha criado em torno das disputas internas de poder. De um lado, estão as mudanças adotadas pelo atual diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, no cargo há um ano, e, do outro, a eminência parda do ex-chefe Paulo Lacerda, comandante da PF no primeiro mandato Lula.
A face mais exposta dessa crise apareceu em julho, desde que se revelou o efetivo apoio de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), comandada por Lacerda, na Operação Satiagraha. Há suspeita até de que grampearam ilegalmente autoridades. A partir daí, passou-se a questionar desde os métodos de investigação da PF da era Lula, calcada praticamente em escutas telefônicas, até o nome das operações, consideradas pelos críticos como propagandas que podem impelir juízes a condenarem de antemão os suspeitos.
Ninguém fala no assunto em público. Reservadamente, porém, delegados experientes e novos ouvidos pelo Correio admitem um choque de gerações , promovido pelo atual diretor, que retirou a polícia do eixo criado na gestão Lacerda. Eles apontam que, há um ano, a situação começou a complicar no momento em que o então diretor de Inteligência, Renato da Porciúncula, e o ex-diretor-executivo Zulmar Pimentel entraram numa ferrenha briga de bastidores, até mesmo com dossiês, para substituir Lacerda. Os dois saíram do páreo, o que facilitou a ida de Corrêa para a chefia da instituição.
Indicado pelo atual ministro da Justiça, Tarso Genro, Corrêa tomou logo de início duas decisões drásticas: trocou 25 dos 27 superintendentes nos estados (faltam ser substituídos os do Paraná e Amapá), colocando delegados novos nos cargos e tirou das mãos das diretorias Executiva e de Inteligência Policial o comando das grandes operações. Com isso, conseguiu dar mais autonomia e poder para as superintendências, retirando do Máscara Negra, o edifício-sede da PF, o conhecimento absoluto das ações. Na gestão anterior, uma das raras investigações que não chegou à cúpula foi a do dossiê contra tucanos, em 2006. E em setembro passado, a instituição experimentou o sabor amargo da autonomia: a prisão de seu então número dois, Romero Menezes, que vinha sendo investigado pela Superintendência do Amapá, acusado de violação de sigilo por supostamente ter beneficiado um irmão.
Menezes continua afastado de suas funções, para a qual não deverá retornar. Cogitam-se vários nomes da própria cúpula que devem substituí-lo, com vantagem para Luiz Pontel de Souza, hoje responsável pela Diretoria de Gestão de Pessoal. Outra baixa na atual cúpula deverá acontecer em 2009, com a possível aposentadoria do atual diretor de Inteligência Policial, Daniel Lorenz. O delegado foi envolvido no furacão causado pela Operação Satiagraha. Ele teve seu nome citado como suspeito de vazar informações para jornalista. O delegado, que nega as acusações, é mais um desafeto de seu subordinado, Protógenes Queiroz, ex-comandante da Satiagraha.
Revelações
Lula não deve tirar Tarso e o ministro ri quando perguntado se vai trocar seu diretor-geral. Corrêa e Tarso negaram na semana passada a existência de uma crise na PF, especialmente por causa das desagradáveis revelações da Satiagraha. Mas a situação, afirmam delegados, não é de tranquilidade. A Polícia Federal, em si como instituição, não passa por uma crise. O que ocorre é uma crise de gestão administrativa , afirmou o presidente do Sindicato Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Sindepol), Joel Mazo.
Na semana passada, um congresso reuniu na capital paulista delegados federais de todo o estado e a ausência dos convidados Tarso e Corrêa foi duramente criticada. Na ocasião, o presidente do sindicato da categoria, Amaury Portugal não escondeu seu descontentamento com a falta dos superiores. Talvez seja para evitar a polêmica (da crise institucional). Mas eles deveriam estar aqui defendendo a casa deles, por mais embaraçosas que sejam as perguntas , lamentou. Leia linha do tempo com as crises enfrentadas pela PF
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