8.11.08

O outro lado

Delegado do caso Daniel Dantas é investigado pela Polícia Federal por comandar ações clandestinas e ilegais em associação com arapongas da Abin


Expedito Filho


Paulo Pinto/AE
O DELEGADO PROTÓGENES QUEIROZ:
relatório estrambótico e ilegalidades

Personagem principal da operação policial que culminou na prisão temporária do ex-banqueiro Daniel Dantas, o delegado Protógenes Queiroz notabilizou-se, porém, pelos motivos errados. Em primeiro lugar, seu relatório da investigação é uma peça de leveza insustentável, lisérgica, exarada em uma linguagem bastante parecida com o português e com deduções desamparadas de provas. O delegado se propôs a desmantelar o que via como uma gigantesca organização criminosa envolvendo políticos, jornalistas, empresários, ministros, magistrados e até assessores do presidente da República. Durante mais de dois anos, Protógenes teve carta-branca para grampear e investigar a "organização criminosa". Ao final, tinha em mãos um único grande feito: a prisão em flagrante de emissários de Dantas que tentavam subornar policiais federais. O triunfo se seguiu com a prisão do próprio Dantas, logo solto por habeas corpus. O sucesso da operação acabou soterrado pelo estrambótico relatório e pela revelação dos abusos cometidos por Protógenes e sua equipe durante as investigações.

Na semana passada, o delegado teve sua residência vasculhada por agentes da própria Polícia Federal. Foram apreendidos computadores e documentos pertencentes a Protógenes, que passou de investigador a investigado. A corregedoria da polícia investiga a extensão dos métodos ilegais e clandestinos do delegado, que incluíam o uso de ex-jornalistas de aluguel que hoje prestam serviços pagos na internet. As investigações da PF contra Protógenes começaram desde que se revelou que espiões da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) participaram clandestinamente da operação contra Daniel Dantas. Em depoimento ao Congresso, o delegado disse que a participação dos arapongas foi mínima. Já se sabe que os espiões fizeram de tudo, inclusive grampearam ilegalmente os telefones de várias autoridades, conforme VEJA revelou há dois meses, apresentando um diálogo interceptado entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). A conversa telefônica, confirmada pelas duas autoridades, foi obtida com um araponga a serviço da Abin.

Na tentativa de conseguir provas das ações clandestinas, a PF também fez buscas na sede da Abin e na residência de agentes que trabalham ou já trabalharam para o órgão. Além de documentos e computadores, os policiais apreenderam um furgão com equipamentos de espionagem. Na semana passada, o governo prorrogou por mais sessenta dias o afastamento do diretor da Abin, Paulo Lacerda, que deixou o cargo depois da revelação de que seus comandados estiveram envolvidos em grampos ilegais. Lacerda é aquele que, assim como Protógenes, tentou minimizar o caso no Congresso, afirmando que a participação de seus agentes se resumia a cinco ou seis profissionais. Já se sabe que eles eram mais de uma centena.

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