28.9.09

Temporada de dossiês

Denise Rothenburg - Correio Brasiliense

Às vésperas de uma eleição tão acirrada como promete ser a de 2010, convém às autoridades ficarem atentas sobre os falsos dossiês que prometem pipocar. Um foi desmontado na semana passada, mas outros virão
Na semana passada, os jornais divulgaram, alguns de forma discreta, outros com altos de página, que era falso o tal dossiê que chegou à imprensa em abril deste ano, tendo como alvo o diretor da Agencia Nacional do Petróleo, Vítor Martins. As últimas notícias apontam que o documento foi produzido com base em desrespeito às garantias individuais, como grampos telefônicos sem autorização judicial e análise de declarações de imposto renda obtidas de forma ilegal.

O caso poderia até passar despercebido não fosse Vítor, o diretor, irmão do ministro da Comunicação, Franklin Martins também citado por ter os telefonemas grampeados de forma ilegal, assim como outras nove pessoas. O fato de o dossiê ter sido atestado como falso é de fazer com que autoridades e jornalistas pensem bem antes de se deixar levar por qualquer papel que chegue às suas mãos, em especial, nessa temporada pré-eleitoral antecipada.

A história recente do país está recheada de documentos que se revelaram falsos. Em 1989, o então candidato a presidente Fernando Collor de Mello invadiu a privacidade do então adversário Luiz Inácio Lula da Silva para, na reta final da campanha, tentar evitar que o petista conquistasse alguns pontinhos a mais e vencesse o pleito. Você que é muito jovem não se lembra, mas Collor levou uma ex-namorada de Lula ao horário eleitoral gratuito para acusá-lo de ter sugerido que ela fizesse um aborto. Lula, que estava embalado, teve um baque com a mentira e chegou completamente desequilibrado aos últimos dias da eleição.

A cena ilustra a que expedientes um político cego pela vitória é capaz de recorrer para chegar à ribalta. Em 1998, por exemplo, quando Fernando Henrique Cardoso concorreu à reeleição, foi a vez dos tucanos sentirem na pele o estrago que informações falsas podem causar. Naquela época, um conjunto de papéis de autencidade não comprovada, o tal dossiê Cayman, falava da existência de uma empresa criada para envio ilegal de recursos ao exterior. A companhia estaria em nome de Fernando Henrique e de outros tucanos, como o ex-governador de São Paulo Mário Covas.

Na eleição daquele ano, cópias do falso dossiê foram espalhadas e vendidas a candidatos da oposição ao governo. Na época, Fernando Collor foi acusado de comprar o documento por US$ 2 milhões o que também nunca foi comprovado, mas está nos jornais.

No pleito seguinte, 2002, esse expediente começou cedo com a invasão da Policia Federal à empresa Lunus, da família da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Roseana desistiu da corrida presidencial por causa do dinheiro fotografado sobre uma das mesas da Lunus. Mais tarde, o Supremo Tribunal Federal mandou devolver os recursos apreendidos na Lunus.

A moral da história da invasão da Lunus é de levar a uma reflexão. O episódio não só tirou Roseana da sucessão de Fernando Henrique Cardoso como também serviu para afastar o então partido da governadora, o PFL, do palanque do PSDB de José Serra, que concorreu à Presidência da República naquele ano.

Às vésperas de uma eleição tão acirrada como promete ser a de 2010, convém às autoridades ficarem atentas sobre os falsos dossiês que prometem pipocar. Um foi desmontado na semana passada, mas outros certamente virão.

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