18.9.09

PF vai indiciar empreiteiros, diz delegado

Responsável pela operação, que vazou para alguns investigados, afirma que "já há elementos" contra todos os envolvidos

César Hübner não culpa imprensa pelo vazamento e avalia que as buscas seriam apenas "a cerejinha do bolo" da investigação policial

Responsável pela operação da Polícia Federal contra as maiores empreiteiras do país, o delegado César Hübner, 41, disse em entrevista à Folha que "já há elementos para indiciar todos os envolvidos" por crimes relacionados a fraude a licitações realizadas pela Infraero, a estatal que administra aeroportos brasileiros.
A operação, que Hübner arrisca dizer que seria talvez a maior da história do país na área de fraude a licitações, ainda não tinha nome (internamente na polícia era chamada de "caso Infraero"). Segundo a reportagem apurou, entre as empresas investigadas estão OAS, Camargo Corrêa, Odebrecht, Nielsen e Gautama Na semana passada, Justiça, Ministério Público e PF souberam que vazara a decisão judicial da busca e apreensão na casa de investigados. No sábado, a Folha divulgou a gestação da operação. A PF abriu inquérito para apurar o vazamento.
O pedido inicial da PF incluía prisões, mas a Justiça concedeu apenas as buscas, em 2 de setembro, decisão registrada no andamento processual do caso disponível na internet. Com sete anos de PF, dois dos quais dedicados ao "caso Infraero", Hübner disse que apesar do vazamento "este trabalho está bem sólido".



FOLHA - A ação será deflagrada?
CÉSAR HÜBNER - Estamos avaliando os prejuízos efetivos. Há, por exemplo, os prejuízos materiais, relacionados a todo aquele trabalho de levantamento dos alvos, que tinha sido feito. Essa seria uma das maiores, senão a maior operação envolvendo investigação de crimes relacionados a licitações públicas. Este trabalho está bem instruído. Já há elementos para indiciar todos os envolvidos. O passo primordial, agora, nós já tomamos, que era instaurar um inquérito para apurar o vazamento das informações.

FOLHA - Que crimes estão comprovados?
HÜBNER - Os previsíveis quando se trata de fraude a licitação.

FOLHA - Corrupção ativa, passiva, quadrilha...
HÜBNER - Com certeza.

FOLHA - O indiciamento normalmente ocorre depois que os investigados foram ouvidos. Já foram?
HÜBNER - Não.

FOLHA - A PF pretende indiciá-los agora, antes do depoimento, no que se chama de indiciamento indireto?
HÜBNER - Vamos avaliar o melhor momento. Existe a possibilidade de contar com eventual colaboração, há também a delação premiada... É como disse: este trabalho, que já vimos desenvolvendo nos dois últimos anos, está bem sólido. Nosso propósito com as buscas, seria, como vocês escreveram, chegar a um complemento, uma cerejinha no bolo.

FOLHA - A PF sabia que a informação havia vazado?
HÜBNER - Ficamos sabendo, quando procurados pela imprensa, que a informação sobre a operação já circulava. Essa investigação transcorre há dois anos. Tomamos todos os cuidados para não haver vazamento. Os trabalhos policiais foram conduzidos fora da sede da PF, por exemplo. No limiar de deflagrar, ocorreu esse vazamento. Não culpamos a imprensa, que está cumprindo o seu trabalho. Mas tem um inquérito instaurado e vamos buscar saber como isso ocorreu.

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