2.6.09

OEA se reúne com impasse sobre Cuba

26 países tentam negociar com EUA e Canadá texto de conciliação, mas barganha continua hoje com presença de chanceleres

Brasil defende anulação da decisão que expulsou país, mas sem reintegração automática; sem acordo, decisão pode ser adiada


Eduardo Verdugo/Associated Press

Soldado hondurenho monta guarda em salão que sediará a Assembleia Geral da OEA, hoje e amanhã, na cidade de San Pedro Sula

CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A SAN PEDRO SULA (HONDURAS)

Apesar de sinais positivos durante o dia de ontem, os 34 países-membros da OEA (Organização dos Estados Americanos) abrem hoje a Assembleia Geral anual de seus ministros das Relações Exteriores sem terem chegado a um acordo sobre a anulação da decisão que suspendeu Cuba da entidade, em 1962.
Um grupo de 26 países, incluindo o Brasil, tenta negociar com as delegações dos EUA e do Canadá uma resolução em duas etapas, que revogue o ato da Guerra Fria, mas abra processo posterior para a eventual reintegração do governo cubano ao órgão interamericano.
Os americanos e seus aliados canadenses não abrem mão de condicionar desde já esse reingresso à Carta Democrática da OEA, aprovada em 2001. Cuba, expulsa sob a acusação de "receber ajuda militar de potências comunistas extracontinentais", tem dito que não quer voltar à organização.
Durante a tarde, o embaixador na OEA de Honduras, anfitrião do encontro, se mostrou otimista. "Estamos a ponto de alcançar um consenso de 28 países. O importante é levantar a sanção", disse Carlos Sosa.
Mas, no fim do dia, ficou claro que uma decisão de conciliação, se houver, será negociada pelos próprios chanceleres, que começaram a chegar no fim da tarde de ontem à cidade do encontro, San Pedro Sula, no nordeste hondurenho.
Para negociar uma resolução que possa ser aceita por americanos, Honduras, que integra a Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), se afastou dos outros cinco países do bloco chavista que participam da assembleia -Bolívia, Venezuela, Nicarágua, São Vicente e Granadinas e Dominica.
Estes cinco, mais a Guiana, insistiam no texto apresentado na semana passada pelos nicaraguenses e que exclui quaisquer precondições caso Cuba decida se reintegrar à OEA.
As negociações ontem foram conduzidas a portas fechadas numa sala isolada, atrás da quadra de tênis do Clube Social Hondurenho Árabe, onde ocorrerá a Assembleia Geral. O Brasil era representado pelo embaixador na OEA, Ruy Casaes.
Mesmo que haja um acordo da maioria dos latino-americanos com os EUA, porém, a posição dos chavistas deixava aberta a possibilidade de que resoluções diferentes sobre o tema sejam mantidas. Nesse caso, ou a OEA deixa de lado a tradição de consenso e submete todas ao plenário ou adia decisões sobre o tema, hipótese mais provável. A reunião termina amanhã.
O presidente Hugo Chávez foi inscrito como chefe da delegação venezuelana na assembleia, mas ontem ainda não havia confirmado que vem a Honduras. Daniel Ortega, da Nicarágua, está sendo esperado. O paraguaio Fernando Lugo chegou ontem à noite.
Dissidentes cubanos, entre eles o ex-comandante guerrilheiro e ex-preso político Huber Matos, deram uma entrevista num hotel da cidade para exigir que seu país cumpra a Carta Democrática da OEA. Do lado de fora, sindicalistas hondurenhos se manifestaram a favor da suspensão da punição ao governo cubano.

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