22.8.09

Lula junta os cacos do PT!

Depois de desgastar os petistas para salvar Sarney, presidente tenta reunificar bancada e buscar um discurso eleitoral

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerra a semana certo de que debelou duas pontas de crises que poderiam colocar a perder todo o esforço de concluir o mandato com alguma tranquilidade para votar temas importantes no Congresso e, de quebra, alavancar o seu próprio partido rumo a 2010. A primeira foi o arquivamento dos processos contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que deixa o PMDB como devedor ao Planalto por ter forçado os votos em favor de Sarney dentro do PT. A outra ponta de problema que o presidente acredita ter contornado foi o mal-estar do PT, com a manutenção de Aloizio Mercadante (SP) no cargo de líder do partido no Senado.

“Foi uma no cravo e outra na ferradura”, resumiu um importante assessor do presidente. Os auxiliares de Lula consideram que ao mesmo tempo em que ele salvou Sarney do constrangimento de uma investigação, tenta agora, com a permanência de Mercadante, resgatar para o PT o discurso da ética na política e da transparência. Isso porque o líder não moveu um milímetro de sua posição em favor do afastamento de Sarney da Presidência do Senado e jamais deixou de pregar a investigação das denúncias publicadas nos jornais ao longo de cinco meses. E ao continuar como a voz do partido na Casa, será essa a imagem que o partido mostrará na tribuna.

Essa posição de Mercadante, na avaliação de Lula, trará benefícios ao partido junto ao seu eleitorado de opinião, uma vez que mantém uma distância regulamentar entre a cara do PT no Senado e a do PMDB, representada pelo líder Renan Calheiros (AL). “O presidente foi um craque”, avaliou ontem o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), que acompanhou as negociações dentro do PT ao longo da semana.

Nas cinco horas de conversa entre Mercadante e Lula foi abordada não só a crise interna de identidade pela qual passa o PT como a necessidade de o presidente manter a chamada governabilidade. O gelo começou a ser quebrado, no entanto, quando Lula passou a falar do passado, dos tempos em que o senador petista gastava sola de sapato ao lado do presidente tentando construir o PT. Lula terminou prometendo que, pela manhã, enviaria uma carta a Mercadante para lhe dar o discurso que faltava para encerrar o episódio.

Lastro
Da parte de Aloizio Mercadante, a sua permanência na liderança com direito a uma carta de Lula, citam os petistas, vai lhe assegurar o lastro presidencial para a campanha em São Paulo em 2010. Conforme adiantou o Correio na edição de ontem, os adversários de Mercadante já se mobilizavam em São Paulo para tentar puxar-lhe o tapete na corrida pelo Senado no próximo ano, quando o líder concorrerá à reeleição. Se ele não aceitasse o pedido do presidente, dizem os petistas, a ex-prefeita Marta Suplicy ganharia fôlego para ingressar na chapa ao Senado e poderia inclusive obter o apoio de Lula para jogar Mercadante na disputa pelo governo paulista — missão hoje considerada internamente mais como um sacrifício do que uma premiação por serviços prestados ao partido.

O próprio líder avaliou a amigos que sua posição de liderança dentro do PT estaria comprometida: “Se eu renunciasse, a imprensa oposicionista me elogiaria durante uns três dias e depois me deixaria na chuva”. Ele sabe, no entanto, que terá alguns dias de explicações pela frente, especialmente, aos seus seguidores na internet, onde anunciou há dois dias que deixaria o cargo de líder e que a decisão era “irrevogável”. Ontem, por exemplo, foram centenas de posts em microblogs do twitter, criticando o recuo. “Vou apanhar nos próximos dias, mas tenho argumento para me defender”, afirmou Mercadante a colegas de partido, citando como exemplo a carta de Lula, que ele mesmo fez questão de colocar trechos para responder aos usuários do microblog. Agora, avaliam Mercadante, governadores e auxiliares do presidente, é aproveitar o tempo até 2010 para organizar palanques e as alianças políticas. Da parte de Lula, essas duas crises, a de Sarney e a do PT, vão virar páginas nos livros de história, de política e nos anais do Senado.
Denise Rothenburg - Correio Brasiliense

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