Tarso não citou nomes, mas afirmou que falava com base no que os jornalistas divulgam; ele também disse que a elite financia o tráfico
Rafael Andrade/Folha Imagem |
"E aqui vem uma gravidade excepcional da situação do Rio, que faz do Rio para nós um espaço de luta fundamental. Este grupo estruturado como poder de fato dentro de uma determinada região começa a aprofundar seus vínculos com a esfera política e começa a produzir determinadas lideranças políticas", declarou.
"Então naquele espaço territorial onde o Estado se nega como força legítima aparece uma força ilegítima, que se transforma em força política", disse Genro, durante uma palestra na Polícia Militar do Rio.
Nas eleições do ano passado, a Polícia Federal investigou a ligação de candidatos com traficantes e milicianos -grupos geralmente formados por policiais civis ou militares que cobram por suposta "segurança" e impõem punições próprias aos moradores de determinadas áreas.
A vereadora Carmem Guinâncio (PT do B), a Carminha Jerominho, chegou a ser presa após as eleições, sob a acusação de receber apoio de grupos paramilitares da zona oeste do Rio de Janeiro. Ela, que nega as acusações, foi solta por ordem judicial e eleita.
Aula inaugural
A declaração de Tarso Genro foi feita na aula inaugural do Curso de Aprimoramento da Prática Policial Cidadã, para 300 policiais militares. De acordo com o relatório da CPI das Milícias, 156 dos 521 milicianos identificados pela Secretaria da Segurança são PMs.
Questionado se conhecia algum político fluminense envolvido com grupos criminosos, respondeu: "Estou baseado em informações que vocês [jornalistas] mesmo divulgam. Não iria citar ninguém".
Em seguida, afirmou que grupos criminosos se infiltram na política em outros lugares do mundo. "O crime organizado, não só no Brasil, chega a um determinado momento [em que] cresce em direção à política e cria quadros políticos."
Ele afirmou que o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) tem também como objetivo "cortar essas veias alimentadoras do delito, fazendo com que a comunidade não seja sufocada por políticos locais que são mandatários do crime organizado e que utilizam a comunidade para seus fins políticos, fazendo do crime um partido político que penetra em diversos partidos políticos".
O próprio PT, sigla de Genro, tem em seus quadros um político investigado por ligação com a milícia: o vereador Elton Babu. O irmão dele, o deputado Jorge Babu, foi expulso do PT pela mesma acusação. Eles negam as acusações.
Genro disse que o Pronasci precisa apresentar resultados no Rio em três anos. Caso contrário, disse, "será uma demonstração de fracasso".
Em seu discurso, Genro ainda disse que é graças aos "setores mais elitizados da sociedade" que "o criminoso realiza o seu lucro, realiza a sua relação de compra e venda". "Esse grupo [a elite] é utilizado pelo crime organizado como estrutura consumidora."
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