ONGs e padres ajudaram a armar os índios que atacaram o engenheiro da Eletrobrás no Pará
As cenas de um grupo de selvagens amazônicos atacando o engenheiro Paulo Fernando Rezende, da Eletrobrás, rodaram o mundo na semana passada. Ele foi agredido na última terça-feira, ao término da palestra em que defendeu a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. Sua participação era a parte mais aguardada de um evento internacional promovido por ONGs e ambientalistas. O tema era o projeto de 7 bilhões de reais que deverá produzir 11 181 megawatts de energia e alagar uma área de 440 quilômetros quadrados, do tamanho da cidade de Curitiba. Rezende falou durante 25 minutos, defendendo seu ponto de vista diante de uma platéia hostil. Foi interrompido por vaias duas vezes. Assim que concluiu sua exposição, a índia caiapó Tuíra se levantou e começou a dançar, facão em punho. Ouviu-se um grito de guerra. Foi a senha para que outros caiapós, também armados e igualmente pintados para a guerra, começassem a dançar e imediatamente o cercassem. Eles rasgaram sua camisa, o jogaram no chão, chutaram, encostaram a mão em seu rosto e o golpearam com facão. O corte foi profundo.
A ira dos índios era previsível. No vídeo que anunciava o evento, na internet, e nos jornais das organizações não-governamentais (ONGs), destacava-se a cena em que Tuíra, há dezenove anos, encostou um facão no rosto do então diretor da Eletronorte, José Antonio Muniz Lopes, hoje presidente da Eletrobrás. Havia a intenção deliberada de voltar a intimidar o representante do projeto, e novamente com o uso do facão, pela mesma índia, Tuíra, dando ao evento um pretenso simbolismo. A armação terminou em um crime executado por índios, mas tramado e incentivado por ambientalistas brancos selvagens. Em seu depoimento, ao qual VEJA teve acesso, Rezende registrou: "...rasgaram minha camisa e me jogaram no chão. Tudo isso sem que houvesse manifestação dos organizadores". Durante a semana, integrantes de entidades que organizaram o evento, entre eles um padre, foram filmados comprando facões em uma loja de Altamira, acompanhados de um índio. Segundo o delegado federal Jorge Eduardo Oliveira, havia o intuito de gerar um clima hostil na discussão sobre a hidrelétrica. "Possivelmente, os índios foram usados como massa de manobra", disse Oliveira. O delegado acredita que a intenção era impressionar os jornalistas estrangeiros – austríacos, ingleses, alemães e franceses – que cobriam o evento.
Não foi a primeira demonstração de insensatez por parte dos opositores ao projeto de Belo Monte. A discussão se arrasta há vinte anos e é cercada de obscurantismo. O andamento do projeto foi paralisado por ações judiciais durante anos, antes mesmo da conclusão de um estudo de impacto ambiental, como notou o ex-ministro de Minas e Energia Antonio Dias Leite em seu livro A Energia do Brasil: "Entre as peripécias do processo, cabe destacar a ação do Ministério Público Federal... Impedir que se estude!", escreveu, demonstrando seu espanto. A discussão foi retomada agora porque a Justiça deu sinal verde para que os levantamentos prossigam. O consumo de energia no Brasil cresce à razão de 5,5% ao ano, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Gerar mais energia (seja em Belo Monte ou não) é fundamental. Como a obra é considerada estratégica pelo governo, os estudos são imprescindíveis. Ainda mais porque a construção de barragens é considerada por especialistas de todo o mundo a mais prejudicial entre as intervenções humanas na natureza. Avaliar a viabilidade ambiental é urgente. A projeção do lago que será formado já foi reduzida de 18 000 quilômetros quadrados para os atuais 440. Note-se que foram as pressões dos índios e ambientalistas que produziram esse e outros avanços. Tudo isso só demonstra a importância do debate.
A Polícia Federal fará agora uma perícia antropológica para avaliar se os índios que participaram do ataque tinham consciência dos seus atos. Em caso positivo, serão processados por lesão corporal, como qualquer brasileiro. Caso contrário, quem os armou poderá ser incriminado. A PF tinha informações de que o clima da manifestação ia ser pesado – dado que os caiapós são tradicionalmente agressivos. Eles chegaram pintados para a guerra, mas nem a PF nem a Secretaria de Segurança Pública do Pará se preocuparam em impedir que entrassem com facões e bordunas. "Os índios entram sempre com apetrechos que comumente utilizam em suas manifestações. Não podemos dizer que estavam armados, pois esses objetos também são instrumentos de trabalho", disse o superintendente da PF no Pará, Manoel Fernando Abbadi. Um policial antropólogo é o que faltava para o crime se perpetuar na Amazônia. Os pistoleiros que matam por dinheiro na região agora podem alegar que seus revólveres e espingardas são apenas "instrumentos de trabalho".
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