27.5.08

Déficit externo até abril é o pior da história

Queda do saldo comercial e aumento das remessas ao exterior geram saldo negativo de US$ 14 bi entre janeiro e abril

BC previa um déficit negativo de US$ 12 bi no ano todo, mas analistas já prevêem resultado negativo de US$ 20 bi em 2008


A queda do superávit da balança comercial e o aumento das remessas de lucros e dividendos ao exterior foram os responsáveis pela piora das contas externas brasileiras de janeiro a abril. Nos quatro primeiros meses do ano, o déficit foi de US$ 14 bilhões, o pior da história para o período. O valor ultrapassa a projeção do BC (Banco Central) para o ano todo, que era de US$ 12 bilhões.
Nos últimos 12 meses, o saldo negativo corresponde a 1,08% do PIB (Produto Interno Bruto). Só em abril, o déficit nas transações correntes -que contabiliza a compra e a venda de bens e serviços com outros países- foi de US$ 3,3 bilhões. O resultado foi negativo pelo sétimo mês consecutivo, sendo que em março o déficit foi ainda maior, de US$ 4,4 bilhões.
As transações correntes são formadas pela balança comercial (exportações menos importações), a balança de serviços (pagamento de juros da dívida externa, gastos com viagens internacionais, remessas de dividendos ao exterior, entre outros) e as transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa).
Em abril, as remessas de lucros e dividendos das empresas com filiais no Brasil para suas matrizes foram de US$ 3,6 bilhões. No acumulado do ano, esse saldo- que tem contribuição negativa para as contas externas- soma US$ 12,4 bilhões.
O real forte tem parte importante no resultado, pois encarece as exportações e estimula as importações e a remessa de lucros, que rendem mais dólares após a conversão.
Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC, aposta que o ritmo de remessas de lucros e dividendos para o exterior deve cair ao longo do ano. Ele também acredita que o saldo positivo da balança comercial deve começar a se acelerar a partir de maio, com o fim da greve dos auditores fiscais da Receita e a normalização do embarque da soja. Se confirmado, o déficit em transações correntes do país tende a se reduzir. Lopes espera que, em maio, esse déficit seja de US$ 1,5 bilhão, menos da metade do resultado de abril.
"Com o tempo, as empresas vão reverter o lucro em investimento no Brasil. E as remessas vão se reduzir", comentou Lopes. "Hoje, vemos que as companhias que mais fizeram remessas são as que estão com dificuldades financeiras no exterior por causa da crise", acrescentou. Juntos, os setores financeiro, automobilístico e de metalurgia respondem por 60% das remessas.
Lopes ressaltou que o crescimento econômico também impulsiona o déficit nas contas externas, pois o aumento na importação de bens de consumo e de capitais, para investimentos, são resultado do aumento da demanda interna.
O mercado financeiro, porém, não está otimista como o BC. Segundo pesquisa feito pelo próprio órgão, divulgada ontem, a projeção média dos analistas para as transações é um déficit de US$ 20 bilhões neste ano, US$ 8 bilhões acima do previsto pela instituição.
Nelson Carneiro, economista sênior da consultoria Austing Rating, é ainda mais pessimista. Ele projeta um déficit de US$ 30 bilhões nas transações correntes. O cenário mais provável para o especialista é de aumento das remessas de lucros e dividendos. E queda do saldo da balança comercial.
"Acredito em déficit da balança comercial nos últimos meses do ano. No ano, o saldo comercial deve ser de US$ 15 bilhões", afirma Carneiro. No ano passado, o saldo comercial foi de US$ 40 bilhões.
Folha

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