14.12.09

O bode na sala

por Leonardo Attuch

Nada é tão intrigante na política brasileira quanto o fato de o presidente Lula, com 80% de aprovação, estar tentando impor à sociedade brasileira uma espécie de anti-Lula como seu sucessor. Ainda que a ministra Dilma Rousseff tenha sido vendida nos comerciais do PT como uma fiel seguidora das palavras do Profeta de Garanhuns, aquele “que nos ensinou o caminho”, a distância que separa o presidente da candidata é oceânica. E não se trata apenas da falta de carisma. Na essência, um é quase o oposto do outro. Forjado no meio sindical, Lula representa o diálogo, a negociação. Formada na guerrilha, Dilma simboliza o confronto, o embate. Lula agrega e sorri. Dilma divide e assusta. E, se ele é capaz de dominar qualquer plateia com seus improvisos verbais, ela faz dormir. Eis aí a explicação básica para o dado mais relevante da pesquisa CNI/Ibope realizada na semana passada. Embora Lula seja o presidente mais popular da história recente do País, sua candidata não decola e tem o maior índice de rejeição 41% dos brasileiros não votariam nela em hipótese alguma. Jamais.

Se a história serve como parâmetro, ela ensina que políticos com rejeições altíssimas têm chances mínimas de vencer eleições de dois turnos. No primeiro, o eleitor vota a favor. No segundo, vota contra. No candidato menos pior, escolhendo, dos males, o menor. E, se Dilma já é tão rejeitada antes mesmo da largada, resta a ela uma única possibilidade de vitória em 2010: o popular WO. Se todos desistirem, aí sim ela ganha. O curioso é que essa talvez seja a estratégia do governo. No Palácio do Planalto, já se decretou que Ciro Gomes não pode ser candidato à Presidência tem que concorrer em São Paulo. A pressão é também intensa para que o governador José Serra, que hoje venceria no primeiro turno, jogue a toalha. Há até ameaças veladas de que a Operação Castelo de Areia, a da Camargo Corrêa, acabará desaguando no Palácio dos Bandeirantes. O que se tenta é uma limpeza de terreno para que Dilma possa desfilar sozinha, num ano de forte crescimento do PIB. Dias atrás, ela chegou até a dizer que fará campanha inspirada em Bill Clinton, usando o slogan “É a economia, estúpido”. Vindo da voz autoritária de Dilma, chega a doer nos ouvidos.

A escolha eleitoral do governo é tão estranha que faz lembrar a imagem do bode na sala. Ter Dilma como candidata já provoca um certo desconforto. Imaginá-la quatro anos no poder, é melhor nem pensar. Por isso mesmo, se lá pelos idos de fevereiro ou março do ano que vem esse bode vier a ser retirado da sala, o alívio será tão grande que qualquer nova alternativa será recebida com entusiasmo. Quem sabe até um terceiro mandato do presidente Lula.

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