Sonia Racy
Altamente reservado, o sueco Johan Eliasch - um dos homens mais ricos da Inglaterra e da Suécia - dá a entender, por declarações monossilábicas, que seu projeto na Amazônia era conhecido do governo Lula. Portanto, a ação de órgãos do governo contra sua proposta seria algo política, coincidindo com o momento em que o Brasil anuncia desmatamento recorde. O empresário caiu na malha da Abin, ressuscitando antigo preconceito contra estrangeiros no País. O gancho foi uma declaração sua, durante reunião em uma seguradora, onde teria dito que a Amazônia poderia ser comprada por US$ 50 bilhões. “Não disse isso”, afirmou Eliasch, em conversa esta semana, em Paris, logo após a partida final do torneio de Roland Garros, do qual sua empresa, Head, é patrocinadora.
O tycoon sueco tem evitado dar declarações. Na condição de assessor “verde” do primeiro-ministro inglês Gordon Brown, prefere não dar continuidade a uma história que teve pouca repercussão na Europa e nos EUA, foco de seus principais negócios. No Brasil, seu principal interesse é outro: Ana Paula Junqueira, companheira dos últimos seis anos. “O Brasil é hoje minha segunda casa”, diz Eliasch, que, depois de muita insistência, acabou sendo convencido por Ana Paula a dar esta entrevista. Afinal, o celular da brasileira foi literalmente invadido por telefonemas do Brasil, em busca de informações.
Você está tentando comprar a Amazônia?
Definitivamente não. A Amazônia é do povo brasileiro.
É verdade que você disse que a Amazônia pode ser comprada por US$ 50 bilhões?
Não. O que eu disse é que a indústria de seguros seria incentivada financeiramente a preservar as florestas tropicais no Amazonas, lembrando o que aconteceu com o Katrina, que custou US$ 75 bilhões. Existe claramente uma correlação entre desflorestamento e desastres naturais.
Por que você comprou terras na Amazônia?
Eu amo o Brasil. É como uma segunda casa para mim. Minha relação vem também de meu casamento com Ana Paula, há 6 anos. Sou apaixonado pelo povo e pelo País. O processo de conservação da floresta amazônica me atrai e pensei que poderia fazer a diferença tentando protegê-la.
Você tem algum projeto sustentável para a Amazônia?
Sim. O que fazemos é dar para as comunidades locais 100% dos direitos sobre o que plantarem e colherem. Damos oportunidades para as pessoas na própria terra.
Vocês escolhem quem vai entrar na terra?
Todas as comunidades locais podem entrar. Elas protegem as florestas porque é a vida delas. Não querem que ninguém entre lá e corte as árvores.
Hoje, é permitido que se desmate até 20% da área, certo? E é isso que está desmatado hoje?
Não, mas isso já estava assim antes de eu chegar.
E a multa do Ibama, de R$ 381 milhões?
Foi aplicada muito antes da compra que fiz. Jamais derrubamos uma árvore. Ao contrário: plantamos algumas.
Desde que a terra é sua, você nunca derrubou árvores?
Não. Quando comprei as companhias elas desmatavam, mas assim que assumi, parei com a atividade.
Que companhias eram essas?
Eram empresas que pertenciam ao U.S. Fund Management Company. O que eles faziam era uma atividade de desenvolvimento sustentável. Não seguiam os 20% da lei brasileira, seguiam as linhas do Forest Steward Council, que aliás, é muito mais severo que as linhas brasileiras.
Então, essa terra já era estrangeira?
Sim. Desde 1999. Eu a comprei há três anos.
Por quanto?
Não posso dizer. É informação confidencial.
O que é o Cool Earth?
Eu e Frank Field (ex-ministro do governo de John Mayor) somos os co-fundadores do Cool Earth. Tudo começou com proposta feita ao Brasil, em 2006, cujos termos comunicamos tanto a Tony Blair como ao presidente Lula.
Recebeu resposta para a sua idéia?
Não.
Esse projeto tem alguma semelhança com as idéias da ex-ministra Marina Silva?
Sim. O conceito é bastante similar.
Como funciona esse projeto?
A proposta é criar um fundo internacional que possa garantir a proteção da floresta.
Qualquer floresta?
Não, florestas na Amazônia, Congo e Ásia.
Você já havia sofrido ataques em 2006 por causa das terras que comprou. Como resolveu isto?
Deixei claro para o Ministério das Relações Exteriores que qualquer sugestão de compra de florestas na Amazônia era considerada incorreta por nós.
O Itamaraty entrou em contato com vocês?
Sim, Frank Field e eu fomos contatados pelo embaixador José Bustani. E expusemos nossa posição. Explicamos a declaração sobra a Amazônia, que não foi feita. E que o Cool Earth não tinha nenhuma intenção de comprar mais terras e preservaria a floresta na sua totalidade.
O Bustani tinha conhecimento dos contatos de vocês com as autoridades brasileiras?
Surpreendentemente, não.
É correto que você se encontrou com o ministro Celso Amorim em Davos, em 2007, para falar sobre este assunto?
Sim, é correto.
Marina Silva acabou de sair do ministério e temos agora um novo ministro. O desmatamento é assunto central já que cresceu 774,48% , segundo o Inpe. Os ataques a você têm conotação política?
Adoraria pensar que não, mas considerando a conjuntura... As coisas estavam acontecendo na mesma semana. As ações do Ibama têm algumas (conotações políticas).
Você se arrepende? Não.
Por conta dessa pressão, pretende vender?
Não. Estou totalmente comprometido com o meu trabalho.
A maneira nada amigável com que tem sido tratado pode afastar outros investidores estrangeiros?
Espero que os investidores vejam isso como uma exceção. O povo brasileiro é amigável. Na verdade, o Brasil é um exemplo para o resto do mundo. É a única nação onde pessoas de diferentes etnias convivem em paz e não existem tensões raciais.
O fundo para a Amazônia, criado pelo ex-secretário Virgílio Vianna e o Bradesco, tem alguma ligação com o Cool Earth?
Não.
Mas vocês ajudaram?
Informalmente. Tive reuniões com o Virgílio, que pediu conselhos. E Matthew Owen, diretor do Cool Earth, participou de vários workshops organizados por ele.
Qual é o papel de Johan Eliasch? Foi você que fundou a Head Company?
Não, eu a comprei em 1995. Há 25 anos, eu compro empresas com problemas e faço reestruturações, a partir de Londres.
Sua família tem empresas de siderurgia?
Sim.
Você é sempre assim, monossilábico?
Sou sueco...
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