19.6.10

Laços militares de Cuba e Venezuela preocupam!

Ex-assessor de Chávez denuncia que consultores cubanos atuam em áreas sensíveis na Venezuela, para exercer pressão e manter no poder alguém que fornece petróleo a Havana.

Os laços entre o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e os líderes comunistas de Havana são bastante claros: Cuba mantém milhares de médicos na Venezuela, para não mencionar numerosos consultores que ajudam num amplo leque de questões, da engenharia agrícola ao treinamento de atletas olímpicos.

Mas a discreta expansão do papel militar de Cuba neste país tem suscitado uma preocupação especial entre críticos de Chávez, para os quais as forças militares estão sendo reformuladas - com a ajuda de Cuba - numa instituição que poderá ser usada para suprimir qualquer contestação interna ao presidente.

Numa rara recriminação pública, um ex-assessor de Chávez criticou o papel de consultores cubanos em áreas sensíveis que, segundo ele, incluem inteligência militar, treinamento em armas, planejamento estratégico e a logística do próprio Chávez, que viaja com frequência num avião cubano.

"Estamos à mercê de ingerências em áreas de segurança nacional por um regime cubano que deseja que Chávez permaneça no poder porque ele lhes dá petróleo", disse, numa entrevista, o ex-assessor, Antonio Rivero, um general que passou para a reserva este ano. "Os consultores cubanos estão lá para exercer pressão", acrescentou. "E com frequência eles dizem falar em nome do presidente como se fossem seus emissários."

Ajuda. Chávez não faz segredo sobre a presença de consultores militares cubanos, que ele diz que estão "modestamente" ajudando em algumas áreas. Mas não apresentou publicamente detalhes de quantos eles são ou onde estão atuando.

Carlos A. Romero, um cientista político da Universidade Central da Venezuela que pesquisa os laços militares com Cuba, calcula que 500 consultores militares cubanos estão no país, incluindo um grupo de elite de cerca de 20 oficiais operando de Forte Tiúna, o principal quartel da Venezuela.

Um porta-voz da Embaixada de Cuba em Caracas não respondeu aos pedidos de comentários.

A crítica de Rivero, que atuou como assessor de Chávez no início de sua presidência e mais tarde como chefe da agência de gestão de emergência, surge anos depois de Cuba tornar-se uma peça-chave de apoio a Chávez.

Os médicos cubanos forneceram ajuda médica gratuita a pobres venezuelanos. Em troca desse apoio, Cuba obtém importações de petróleo da ordem de 100 mil barris diários da Venezuela, o que a ajuda a se recuperar do colapso econômico que se seguiu ao fim dos subsídios à energia da era soviética nos anos 90. Mas o intercambio militar tornou-se uma questão sensível aqui.

"Cuba não vende sistemas de armas, o que a diferencia dos acordos de cooperação militar que a Venezuela mantém com Rússia ou China", disse Rocío San Miguel, uma advogada venezuelana especializada em assuntos militares. "O que Cuba vende é inteligência e planejamento estratégico, com base em 50 anos de experiências de manter um regime repressivo no poder."

Repressão. Rivero, que disse ter aberto suas críticas "por uma questão de soberania", não ofereceu evidências de que os militares adotaram políticas repressivas de inspiração cubana. Mas disse que os cubanos haviam assumido deveres além das atividades normais de uma aliança militar, e sua presença em áreas como a inteligência militar poderia comprometer a segurança nacional.

Chávez já tomou medidas para politizar as Forças Armadas, preterindo centenas de oficias considerados desleais e promovendo os que o apoiam.

O presidente mudou o nome do Exército para Forças Armadas Bolivarianas, e em funções militares exige que os soldados gritem o slogan "Pátria, socialismo ou morte!".

Ele foi ficando mais próximo de Cuba à medida que se enfraqueciam os laços com os Estados Unidos - que já foram os principais fornecedores de consultores militares à Venezuela. Depois que Chávez foi removido por um breve período do poder com um golpe em 2002, ele interrompeu os acordos de cooperação militar com os Estados Unidos, que haviam saudado a deposição. Desde então, Chávez forjou laços de defesa com China, Irã e Rússia e vê essas alianças como um contrapeso ao poder americano na América Latina. Estadão

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