9.4.08

PAC eleitoral

Em reunião, ministro discute como usar o PAC nas eleições
Márcio Fortes (Cidades) diz a deputados que obriga prefeitos do PP a ir a eventos
Líder da bancada defende que, para ajudar candidatos, "é importante o ministro viajar aos Estados que tenham obras a inaugurar"

Responsável pela execução de uma das principais fatias do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o ministro Márcio Fortes (Cidades) discutiu explicitamente a melhor forma de usar as obras do programa para beneficiar eleitoralmente o seu partido, o PP. Afirmou que leva políticos pepistas a solenidades de lançamento de obras do PAC.Em meio a frases de deputados federais como "temos que rotular as obras do PAC como nossas" e "a agenda de viagens deve potencializar e valorizar nossos candidatos", o ministro debateu por duas horas com congressistas e dirigentes do PP ontem como colocar o PAC a serviço das candidaturas do partido nas eleições de outubro e de 2010.A reunião na Câmara, acompanhada em sua maior parte pela Folha, foi presidida pelo presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), e teve a presença, entre outros, do deputado Paulo Maluf (SP) e do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PE)."Temos que rotular o trabalho do PAC feito pelo ministro Márcio Fortes como nosso, só temos a ganhar com isso", discursou o deputado federal Vilson Covatti (RS).O líder da bancada, Mario Negromonte (BA), foi mais didático: "É importante o ministro viajar aos Estados que tenham obras a inaugurar para que as ações possam ser capitaneadas pelos nossos parlamentares, principalmente pelos candidatos a prefeito, que têm que ser mais valorizados agora". Ele relatou ainda ter considerado muito boa a sugestão anterior de Márcio Fortes para que o PP espalhasse cartazes nas cidades quando houver visita sua para inauguração ou autorização de obras do PAC.O ministro das Cidades respondeu aos congressistas que já havia transformado a estratégia em "rotina", prova é que só no último mês participou país afora, muitas vezes ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de nove solenidades para autorização de obras.O ministro diz que em todas as ocasiões sua pasta disparou "faxes, e-mails e telefonemas" aos pepistas com a agenda das solenidades e que sempre que pôde deu carona em seu avião a parlamentares e prefeitos do seu partido.E exemplificou: "Os prefeitos que não querem ir, eu os obrigo a ir. Na semana passada, o Fetter disse que não podia ir ao evento em Porto Alegre [de autorização para obras do PAC no RS] e eu falei a ele: "Se não for, eu não assino o convênio'", disse o ministro, se referindo ao prefeito de Pelotas (RS), Fetter Júnior (PP).Na quinta-feira, Fortes assinou em Porto Alegre, entre outros, convênio do PAC para obras de infra-estrutura e saneamento em áreas de risco de Pelotas, no valor de R$ 23,6 milhões. Fortes deu ainda a entender ter sido ele o responsável por levar Severino Cavalcanti -que renunciou ao mandato de deputado em 2005 após ser acusado de corrupção- ao evento de Recife, na semana retrasada, quando Lula fez um desagravo ao ex-presidente da Câmara. Severino patrocinou em 2005 a indicação de Fortes ao cargo.Ao encerrar sua fala ontem, o ministro disse aos congressistas que está à disposição para gravar "mensagens para quem quiser fazer".O Ministério das Cidades controla uma das principais verbas do PAC e é responsável por obras de forte apelo eleitoral, como urbanização de favelas, cujo investimento previsto em quatro anos é de mais de R$ 11 bilhões. Durante quase toda a reunião com os pepistas, o ministro foi festejado como "o operador do PAC", sendo que em uma ocasião brincou: "Já fui promovido a "mestre-de-obras do PAC'".
Folha

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