Cacau Araújo e Eduardo Tavares,
Brasília e São Paulo - A situação dos aeroportos brasileiros é preocupante e já se esgotou o tempo para grandes investimentos voltados à Copa do Mundo de 2014. A opinião é do professor de transporte aéreo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Respício do Espírito Santo. Segundo o especialista, tudo o que for feito de agora em diante será em regime de urgência.
"A  copa virou referência porque é uma obrigação, mas o Brasil não tem  feito seu dever de casa e a 'professora Copa do Mundo' veio e mostrou  que o caderno estava em branco", compara o professor, avisando que,  agora, o Brasil deveria estar se concentrando apenas em detalhes.
Para  o especialista, o brasileiro que usa os serviços aeroportuários no  dia-a-dia é quem mais sofre. "Desde 1998 discute-se a privatização da  Infraero, mostrando que é um caso antigo. Em 2007, o caos aéreo provou  que o problema ultrapassou o limite da infraestrutura aeroportuária e  atingiu a estrutura aeronáutica", avalia ele.
E a  situação ainda pode piorar muito. Segundo o professor Respício, com o  aumento da renda e do parcelamento de passagens aéreas, os brasileiros  vão viajar cada vez mais de avião. "O sistema não vai aguentar", prevê.
Aeroportos em números
Dados  da Infraero (estatal que administra os aeroportos) mostram que, entre  2004 e 2007, o aeroporto de Guarulhos, na grande São Paulo, teve um  fluxo de 646,7 mil aviões, entre voos nacionais e internacionais. No  aeroporto de Congonhas, na capital paulista, foram 882 mil aeronaves. Os  números de passageiros que circularam em Guarulhos e Congonhas ao longo  destes anos foram de 63 milhões e 90 milhões, respectivamente. 
Porém,  segundo estimativas de um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas  Avançadas (Ipea), no período considerado, apenas 7% (cerca de 200  milhões de reais) dos recursos que a Infraero investiu em aeroportos  foram destinados a Congonhas, o mais movimentado. Guarulhos ficou com  12%, o equivalente a 340 milhões. 
Enquanto isso,  aeroportos com uma demanda menor receberam investimentos superiores no  período. Ao aeroporto Eurico de Aguiar Salles, em Vitória, foi destinada  a fatia de 15% do total (mais de 400 milhões de reais). De 2004 a 2007,  neste aeroporto, circularam 129 mil aeronaves e 12 milhões de pessoas.
Veja a distribuição dos investimentos da Infraero entre 2004 e 2007:
| Aeroporto | Aeronaves | Passageiros | Investimentos (R$ milhões) | % do total investido pela Infraero neste período  | 
|---|---|---|---|---|
| Guarulhos | 646.744 | 63.329.767 | 340 | 12% | 
| Congonhas | 882.451 | 90.580.611 | 210 | 7% | 
| Santos Dumont | 276.483 | 16.174.929 | 385 | 13% | 
| Vitória | 129.208 | 12.296.570 | 434 | 15% | 
| Goiânia | 162.788 | 5.150.932 | 349 | 12% | 
| Macapá | 48.673 | 1.814.203 | 133 | 5% | 
Estes  dados refletem, na opinião do consultor em transportes Josef Barat, uma  incapacidade do sistema aeroportuário brasileiro em planejar os  investimentos de forma estratégica. "Falta clareza na definição de qual  será a função de cada aeroporto. A partir daí, é possível estabelecer  prioridades de investimentos compatíveis com isso. Não adianta investir  muito em aeroporto com baixa demanda e criar uma capacidade ociosa  depois", afirma.
Barat diz que este é, por exemplo, o caso do aeroporto  Santos Dummont, no Rio de Janeiro. No período considerado pela pesquisa  do Ipea, a Infraero investiu aproximadamente 13% do total (380 milhões  de reais). Os números de passageiros e de aeronaves em circulação foram  de 16 milhões e 276 mil, respectivamente. "Depois eles tiveram que  inventar linhas para preencher esta ociosidade."
Para  o especialista, que foi diretor da Empresa Metropolitana de Transportes  Urbanos (EMTU) do Estado de São Paulo, o problema é que a Infraero  passa por uma séria crise institucional. "Ela não é uma concessionária, e  sim, uma empresa pública criada para administrar aeroportos  brasileiros. Conforme o setor de aviação evolui, fica mais complexo, e a  Infraero deveria acompanhar este movimento, mas não consegue." 
A  Infraero informou ao site EXAME que estão previstos 5,55 bilhões de  reais em investimentos em 12 aeroportos do país até a Copa de 2014.  Desta quantia, 1,2 bilhão de reais será destinado ao Aeroporto  Internacional de Guarulhos. Nele, estão previstas reformas no sistema de  pistas e no pátio e a construção de um terceiro terminal de  passageiros. 
O Aeroporto Internacional do Galeão,  no Rio de Janeiro, receberá 687 milhões de reais em investimentos para  reformas no Terminal 1 e a finalização do Terminal 2. Não estão  previstos investimentos em Congonhas e no Santos Dummont.
Solução
Para  que a Infraero evolua junto com a aviação, Barat avalia que não há  outro caminho a não ser reformular sua gestão, blindando-a de pressões  políticas. Uma das possibilidades para resolver os problemas apontados  sempre vem à tona quando o assunto é Infraero - trata-se da  privatização. Melhora ainda seria se houvesse a abertura de capital da  empresa. O argumento é que a ida para a bolsa tornaria a avaliação da  administração da empresa mais exigente. 
"Haveria  um controle muito maior sobre a aplicação dos recursos, reduzindo as  interferências dos interesses políticos. Aeroportos deficitários  receberiam recursos redistribuídos a partir dos superavitários. Além  disso, passaria a haver obrigatoriedade de auditoria externa e prestação  de contas ao mercado", explica Barat. 
O  professor Respício concorda que é necessário realizar uma reforma na  gestão dos serviços aeroportuários, mas acredita que, sozinha, ela não  resolve todo o problema. "A solução deve ser sistêmica, não adianta só  privatizar os aeroportos ou só mudar a gestão da Infraero. É necessária  uma série de ações conjuntas, incluindo o uso de novas tecnologias que o  Brasil precisa trazer do exterior", conclui.  Exame
Um comentário:
intiresno muito, obrigado
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