Chávez convida empresas brasileiras para viagem à Bolívia
Exatamente uma semana depois de acusado pelo ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, de causar "desconforto" ao governo brasileiro, o presidente Hugo Chávez foi assunto de uma reunião reservada, no Itamaraty, com representantes de grandes empresas nacionais. Amorim informou aos empresários a profunda irritação do governo com a mais recente iniciativa de Chávez: o presidente venezuelano convidou grandes empresas brasileiras para integrar a comitiva da viagem que fará, nesta semana, à Bolívia.
O objetivo evidente do convite é reforçar a imagem de Chávez como líder emergente na região, desta vez com o endosso de grandes companhias brasileiras com investimentos e interesses nos países vizinhos. Chávez escolheu pelo menos quatro empresas de peso: Odebrecht, Brasken (que tem como acionista majoritário a própria Odebrecht), Vale do Rio Doce e Camargo Corrêa. Ele quer anunciar o apoio da estatal venezuelana de petróleo, a PDVSA, e do governo venezuelano, a investimentos dessas empresas no país presidido por Evo Morales.
A iniciativa desagradou, mais uma vez, ao governo brasileiro, que avalia caber ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e não ao venezuelano, o anúncio de algum eventual apoio de empresas brasileiras aos projetos de desenvolvimento na Bolívia. A viagem de Chávez e seus gestos em direção ao governo Evo Morales acontecem em meio a duras negociações entre a Bolívia e a Petrobras, que anunciou a paralisação de investimentos no país vizinho devido à nacionalização que retirou da estatal brasileira o controle sobre os campos de gás e as duas refinarias que tem no país.
Um ponto une as empresas convocadas por Hugo Chávez: todas têm, ou pretendem ter, negócios na Venezuela. A Brasken sonha com a implantação de um pólo gás-químico no país, e estava planejando um pólo também na Bolívia. Chávez informou à empresa que no governo Morales caíram em desgraça investimentos como o planejado pela Brasken no país, baseados exclusivamente em capitais e controle privado. A associação com a PDVSA poderia viabilizar o negócio, desde que haja também a participação da boliviana YPFB, com a brasileira como minoritária, teria argumentado Chávez.
As empresas, procuradas pelo Valor, evitaram comentar o assunto, ou manifestaram desconhecer oficialmente qualquer convite venezuelano. Fontes das próprias empresas, do setor privado venezuelano e do governo brasileiro confirmam, porém, que, até a semana passada, pelo menos as construtoras cogitavam aceitar o convite de Chávez, e que a Vale, que tem hoje apenas um escritório na Venezuela, declinou do convite.
É difícil para empresas com interesses na Venezuela, dependentes de decisões governamentais, recusar um convite desses, que traz, implícita, a ameaça de retaliações, segundo avalia um diplomata brasileiro informado sobre os planos de Chávez. Nas conversas com os empresários, o governo brasileiro informou que, caso participem da viagem de Chávez, que as companhias enviem executivos de seus escritórios venezuelanos, e não dirigentes no Brasil, como parecia ser o plano da Odebrecht.
Graduados funcionários do governo brasileiro manifestam seu desagrado com uma ironia: o empenho de incorporar empresas brasileiras à comitiva venezuelana mostra que Chávez não dispõe de muitas opções em sua anunciada colaboração com a Bolívia de Evo Morales.
Hugo Chávez dispõe, porém, da PDVSA, empresa com lucro estimado de US$ 6,5 bilhões, e um orçamento de "gastos sociais" superior a US$ 3,5 bilhões no ano passado. Nesta sexta-feira, durante a visita de Chávez a Morales, a PDVSA assinará, com a estatal boliviana YPFB um acordo de construção de usinas de industrialização de gás em território boliviano, para produção de 300 mil toneladas anuais de GLP (gás de cozinha).
Apoiado em sua "Alternativa Bolivariana para as Américas", o venezuelano ofereceu ao governo Morales a possibilidade de associações em que a YPFB tenha mais que os 51% previstos pela lei de nacionalização dos hidrocarbonetos, oferta comemorada na semana passada pelo presidente da estatal, Jorge Alvarado. A ação na Bolívia é parte de uma estratégia de crescente influência na região, bancada com o petróleo venezuelano.
Chávez tornou-se o principal financiador da dívida argentina, com a compra estimada de US$ 2 bilhões em títulos (e o anúncio de aquisição, neste ano, de mais US$ 1 bilhão), comprou cerca de US$ 250 milhões de dívida do Equador, e prometeu ao Uruguai fornecimento de combustível abaixo dos preços de mercado por 25 anos.
Valor Online
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