22.6.10

TCU vê desperdício em repasses para ONGs e assentamentos

As duas áreas receberam metade das ressalvas e advertências do tribunal na análise de contas do governo
Entre as 15 ressalvas e 13 recomendações existentes no relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre as contas do governo federal no ano passado, quase a metade delas se refere apenas a dois temas: reforma agrária e repasse de recursos para organizações não-governamentais (ONGs) e outras entidades privadas.

O documento será entregue nesta terça-feira, 22, aos presidentes da Câmara e do Senado, Michel Temer (SP) e José Sarney (AP), ambos do PMDB. Cabe agora aos parlamentares analisar o texto aprovado com ressalva pelos ministros do TCU, na semana passada.

No seu voto, o relator, ministro Raimundo Carreiro, faz uma série de alertas sobre o desperdício de dinheiro público nas duas áreas e levanta a suspeita de politização nos dois setores, evidenciada – segundo as auditorias – pela lista de beneficiários alheia a critérios técnicos e de aproveitamento. "São áreas cuja avaliação é dificultada pela baixa confiabilidade dos dados disponíveis", adverte o documento.

Sobre a reforma agrária, o texto afirma que a falta de estrutura nas áreas assentadas pode tornar o programa "insustentável", com o consequente desperdício do dinheiro público.

No caso das ONGs, o relatório do ministro Carreiro diz que, de 2006 a 2009, o valor empenhado nos convênios cresceu 77% – de R$ 16,86 bilhões em 2006 para R$ 29,75 bilhões em 2009.

A ausência da prestação de contas, na maioria municípios, também aumentou. Em 2006, 5.546 favorecidos com R$ 2,80 bilhões deixaram de informar os gastos. No ano passado, 6.132 beneficiados por R$ 4,50 bilhões não informaram ao governo como, quando e onde aplicaram o dinheiro. Em quatro anos, o total de prestações de contas não analisadas cresceu 19%.

Fragilidades. Os auditores do TCU encontraram "diversas fragilidades" no setor, especialmente quanto aos dados que deveriam subsidiar a análise dos programas, a falta de pessoal capacitado para os serviços previstos nos contratos e o descompasso entre valores repassados e metas dos programas. Pediram "que sejam adotadas medidas para reduzir o estoque de prestações não analisadas".

Com relação à reforma agrária, o relatório lembra que as "falhas identificadas" se repetiram nos últimos anos, resultando no desperdício de dinheiro, no baixo aproveitamento e na retomada de lotes vendidos irregularmente ou abandonados em projetos já implantados.

Outro problema sério é a "excessiva ingerência de organizações sociais e grupos políticos na estratégia de obtenção de imóveis". A lista de beneficiários "não obedece adequadamente aos princípios constitucionais da transparência e de isonomia e aos critérios de preferência previstos em lei", alerta o relator.

O TCU cobra ainda medidas contra a realização de convênios com entidades de caráter privado "sem capacidade operacional para cumprir seu objeto". E aponta a "ausência" de contabilidade das terras em poder do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Estadão

19.6.10

Laços militares de Cuba e Venezuela preocupam!

Ex-assessor de Chávez denuncia que consultores cubanos atuam em áreas sensíveis na Venezuela, para exercer pressão e manter no poder alguém que fornece petróleo a Havana.

Os laços entre o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e os líderes comunistas de Havana são bastante claros: Cuba mantém milhares de médicos na Venezuela, para não mencionar numerosos consultores que ajudam num amplo leque de questões, da engenharia agrícola ao treinamento de atletas olímpicos.

Mas a discreta expansão do papel militar de Cuba neste país tem suscitado uma preocupação especial entre críticos de Chávez, para os quais as forças militares estão sendo reformuladas - com a ajuda de Cuba - numa instituição que poderá ser usada para suprimir qualquer contestação interna ao presidente.

Numa rara recriminação pública, um ex-assessor de Chávez criticou o papel de consultores cubanos em áreas sensíveis que, segundo ele, incluem inteligência militar, treinamento em armas, planejamento estratégico e a logística do próprio Chávez, que viaja com frequência num avião cubano.

"Estamos à mercê de ingerências em áreas de segurança nacional por um regime cubano que deseja que Chávez permaneça no poder porque ele lhes dá petróleo", disse, numa entrevista, o ex-assessor, Antonio Rivero, um general que passou para a reserva este ano. "Os consultores cubanos estão lá para exercer pressão", acrescentou. "E com frequência eles dizem falar em nome do presidente como se fossem seus emissários."

Ajuda. Chávez não faz segredo sobre a presença de consultores militares cubanos, que ele diz que estão "modestamente" ajudando em algumas áreas. Mas não apresentou publicamente detalhes de quantos eles são ou onde estão atuando.

Carlos A. Romero, um cientista político da Universidade Central da Venezuela que pesquisa os laços militares com Cuba, calcula que 500 consultores militares cubanos estão no país, incluindo um grupo de elite de cerca de 20 oficiais operando de Forte Tiúna, o principal quartel da Venezuela.

Um porta-voz da Embaixada de Cuba em Caracas não respondeu aos pedidos de comentários.

A crítica de Rivero, que atuou como assessor de Chávez no início de sua presidência e mais tarde como chefe da agência de gestão de emergência, surge anos depois de Cuba tornar-se uma peça-chave de apoio a Chávez.

Os médicos cubanos forneceram ajuda médica gratuita a pobres venezuelanos. Em troca desse apoio, Cuba obtém importações de petróleo da ordem de 100 mil barris diários da Venezuela, o que a ajuda a se recuperar do colapso econômico que se seguiu ao fim dos subsídios à energia da era soviética nos anos 90. Mas o intercambio militar tornou-se uma questão sensível aqui.

"Cuba não vende sistemas de armas, o que a diferencia dos acordos de cooperação militar que a Venezuela mantém com Rússia ou China", disse Rocío San Miguel, uma advogada venezuelana especializada em assuntos militares. "O que Cuba vende é inteligência e planejamento estratégico, com base em 50 anos de experiências de manter um regime repressivo no poder."

Repressão. Rivero, que disse ter aberto suas críticas "por uma questão de soberania", não ofereceu evidências de que os militares adotaram políticas repressivas de inspiração cubana. Mas disse que os cubanos haviam assumido deveres além das atividades normais de uma aliança militar, e sua presença em áreas como a inteligência militar poderia comprometer a segurança nacional.

Chávez já tomou medidas para politizar as Forças Armadas, preterindo centenas de oficias considerados desleais e promovendo os que o apoiam.

O presidente mudou o nome do Exército para Forças Armadas Bolivarianas, e em funções militares exige que os soldados gritem o slogan "Pátria, socialismo ou morte!".

Ele foi ficando mais próximo de Cuba à medida que se enfraqueciam os laços com os Estados Unidos - que já foram os principais fornecedores de consultores militares à Venezuela. Depois que Chávez foi removido por um breve período do poder com um golpe em 2002, ele interrompeu os acordos de cooperação militar com os Estados Unidos, que haviam saudado a deposição. Desde então, Chávez forjou laços de defesa com China, Irã e Rússia e vê essas alianças como um contrapeso ao poder americano na América Latina. Estadão

Onézimo rejeitou proposta de espionagem

Veja
Ordem para espionar

Delegado da Polícia Federal depõe no Congresso e confirma que foi convidado por pessoas contratadas pelo PT para montar um grupo de espionagem ilegal contra adversários e inimigos internos

Sofia Krause e Gustavo Ribeiro
Fotos Dida Sampaio/AE e Lúcio Távora/Folha Imagem
TIRO CERTO
O delegado Onézimo Sousa e o tucano Eduardo Jorge (à dir.), que teve os sigilos fiscal e bancário
quebrados clandestinamente

Não houve os tradicionais embates entre representantes do governo e da oposição, não houve tentativas de desqualificar a testemunha nem a criação de teorias conspiratórias extravagantes. O delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa compareceu na semana passada ao Senado, onde prestou depoimento sereno à Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional. Ele contou aos parlamentares detalhes da reunião com integrantes da pré-campanha presidencial da ex-ministra Dilma Rousseff na qual ele foi convidado a participar de um grupo que tinha o objetivo de espionar o candidato tucano José Serra, como revelou VEJA no início do mês. Deputados petistas que estavam no plenário elogiaram o delegado, principalmente depois que ele confirmou que no encontro não havia ninguém filiado ao PT. Além disso, ao tomar conhecimento do caso, a própria candidata do partido já havia dito que desconhecia e desautorizava investidas desse nível contra adversários. O jornalista Luiz Lanzetta, que era o responsável pela área de comunicação da campanha e articulou a reunião com o grupo de arapongas, foi afastado de suas funções. No final, os petistas consideraram o caso encerrado – reduzindo tudo a uma atrapalhada tentativa de espionagem patrocinada por pessoas contratadas pelo partido, mas sem ligações oficiais com o PT. Caso liquidado?
Não fosse por alguns buracos surgidos no campo de força da versão petista que preserva a cúpula da campanha, seria mesmo um caso para arquivo. Um desses buracos se deve à reportagem do jornal Folha de S.Paulo segundo a qual a campanha do PT reuniu clandestinamente dados protegidos por sigilo fiscal e bancário do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira. Ex-secretário-geral da Presidência no governo Fernando Henrique Cardoso, Eduardo Jorge sempre esteve na mira dos petistas. A reportagem narra que a "equipe de inteligência" da campanha de Dilma Rousseff tem em seu poder cópias de depósitos bancários e das últimas declarações de imposto de renda do ex-secretário. VEJA apurou que as declarações em questão cobrem de 2005 a 2009, inclusive uma retificação feita na última delas, por causa de um erro de digitação na declaração do ano anterior. A suspeita é que os documentos teriam sido obtidos dentro da própria Receita Federal. Há ainda guardado no comitê petista, de acordo com o jornal, um conjunto de papéis sobre as investigações do caso Banestado – um gigantesco esquema de lavagem de dinheiro que foi investigado por uma CPI do Congresso, em 2003, e que envolveria partidos políticos.
Os inquéritos do caso Banestado morreram de desidratação, mas existe a suspeita de que os petistas queiram ressuscitá-lo, como uma forma de criar um clima de desconfiança em relação ao principal adversário de Dilma Rousseff – na crença de que não basta a um político ser honesto, ele também tem de parecer honesto. VEJA apurou que, em março passado, o delegado da Polícia Federal José Castilho Neto procurou o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) para lhe contar que havia sido sondado por colegas do Ministério da Justiça sobre a possibilidade de ele voltar a Brasília e retomar as investigações do caso Banestado. "Recebi um telefonema perguntando se eu tinha disponibilidade para retomar essa investigação", conta o policial. "Quando me sondaram, eu não falei nem que sim nem que não. Fiquei aguardando um convite formal da Polícia Federal, mas não houve retorno", conta. No início do mês, logo depois de VEJA ter revelado a existência do grupo de espionagem, o delegado voltou a ligar para o senador: "Lembra quando eu te procurei?... Era isso que eles estavam querendo que eu fizesse!", disse, referindo-se ao conteúdo da reportagem que mostrava a tentativa do comitê petista de formar um grupo para espionar o candidato José Serra. O delegado, que até dias atrás ocupava o cargo de assessor de segurança do governo do Paraná, não quis revelar a identidade de quem fez a sondagem, mas confirmou que é uma pessoa "bem colocada no Ministério da Justiça".
O que ajuda a dar credibilidade a esse conjunto de informações é que os precedentes são negativos para o PT. A formação de equipes encarregadas de bisbilhotar a vida de adversários foi testada com sucesso pelo partido em 2002 e reeditada em 2006, quando o grupo, que ficou conhecido como "aloprados", foi preso em flagrante tentando comprar um dossiê fajuto contra Serra, candidato ao governo de São Paulo. A turma que se reuniu agora no comitê de Dilma também teve uma passagem nebulosa na última campanha municipal. Em 2008, na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte, o jornalista Luiz Lanzetta assessorava o candidato Marcio Lacerda, que concorria à sucessão com o apoio do então prefeito, Fernando Pimentel. O ex-jornalista Amaury Ribeiro, apontado como parceiro de Lanzetta no caso da espionagem contra Serra, trabalhava como repórter do jornal Estado de Minas. Dois dias antes do segundo turno das eleições, quando Marcio Lacerda e o peemedebista Leonardo Quintão se enfrentariam nas urnas, Amaury Ribeiro publicou uma notícia destruidora sobre o adversário do cliente de Lanzetta. Baseada em documentos da CPI do mesmo Banestado, a reportagem denunciava que Quintão e familiares haviam enviado ilegalmente dinheiro ao exterior.
A revelação acabou com as pretensões eleitorais do candidato. O peemedebista foi obrigado a desmarcar compromissos de campanha e passou as 48 horas anteriores à eleição tentando se explicar. Com a ajuda da reportagem de Amaury, Quintão perdeu a disputa para Lacerda, o cliente de Lanzetta. Tempos depois, em conversas reservadas com amigos, Quintão afirmou ter descoberto que a denúncia fazia parte de um dossiê produzido pela equipe comandada por Lanzetta – num roteiro em que aparecem os mesmos personagens de agora. Procurado, Quintão se negou a falar sobre o assunto. Informou, por meio de sua assessoria, que as denúncias abalaram sua família e que não gostaria de falar a respeito. Ele acrescentou que só descobriu que a história era produto de um dossiê eleitoral muito tempo depois de ter sua candidatura fulminada.
Fotos José Cruz/Ag. Senado e Joedson Alves /AE
TIRO ERRADO
Luiz Lanzetta, que idealizou o grupo de arapongas, e o delegado José Castilho, que também
foi sondado para participar: "Era isso que eles estavam querendo que eu fizesse!"

17.6.10

Embaixada dá tratamento VIP a "autoridade" petista

Valter Pomar, do diretório nacional do PT, utilizou carro oficial em Paris
Comunicado interno do Itamaraty informa sobre a viagem de dirigente à Europa na 2ª quinzena de maio

O Itamaraty deu tratamento de autoridade para o integrante do Diretório Nacional do PT, Valter Pomar, em pelo menos uma das escalas da incursão que fez pela Europa entre 14 e 29 de maio.
A viagem para as capitais de Espanha, França, Suécia e Inglaterra, além de uma parada em Frankfurt (Alemanha), teve agenda estritamente partidária. Em Paris um carro oficial da embaixada deu apoio ao seu trabalho.
Na capital francesa, Pomar manteve encontros com quadros do Partido Socialista francês e do Partido Comunista, além do partido radical de esquerda La Gauche, com o intuito de aprofundar o relacionamento com o PT.
Coordenador da corrente Articulação de Esquerda, Pomar foi secretário de Relações Internacionais por dois mandatos e já ocupou uma das vice-presidências do PT.
Pomar chegou a Paris no dia 17 e foi levado para o hotel Vaneau Saint German. "Nós buscamos, levamos para o hotel e na volta, quando ele foi embora. Demos toda a assistência quando esteve aqui, como é normal nós fazermos", disse Orlando Santana, funcionário de chancelaria da embaixada, à Folha.
O apoio na capital francesa terminou no dia 19, quando Pomar foi deixado na estação central de Paris, onde pegou o trem para Londres.
A Folha não conseguiu confirmar se Pomar recebeu apoio nas outras capitais.
Não há regulamentação para o tratamento a lideranças partidárias na chamada lei do serviço exterior, nas funções consulares do Manual de Serviço Consular e Jurídico nem no guia de administração do postos.
A maratona de Pomar, com horários detalhados de voos, partidas de trens e hotéis para estada, foi informada pela circular telegráfica n.º 77.283, enviada pelo Itamaraty para as embaixadas daquelas capitais e o Consulado-Geral de Frankfurt.
O documento oficial, obtido pela Folha, diz: "Para conhecimento, informo que a Secretaria de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores comunicou hoje, 14 de maio, que Valter Pomar, membro da Direção Nacional do PT, cumprirá agenda em diversos países da Europa durante a segunda quinzena do mês de maio".
A Folha apurou que delegações oficiais e autoridades em viagem recebem o adendo "rogo prestar o apoio de praxe". Os presidentes do DEM e do PSDB, Rodrigo Maia e Sérgio Guerra, disseram desconhecer o tratamento para agentes partidários em viagens ao exterior. Folha

Lei chavista facilita expropriação agrária


Texto permite tomada de terreno se uso contrariar planos nacionais de desenvolvimento e segurança alimentar
Assembleia aprova nova regra, festejada como passo rumo ao socialismo; Chávez ainda precisa sancionar



Palácio Miraflores/Reuters

O presidente Hugo Chávez em visita a fábrica automotiva em Maracay; governo já expropriou 10% das terras do país

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS A Assembleia Nacional da Venezuela, dominada pelo chavismo, aprovou anteontem à noite reforma na lei de terras que proíbe qualquer tipo de concessão de terras a terceiros -quer de maneira remunerada ou não.
O texto também diz que a produção agrícola deverá se ajustar aos parâmetros determinados pelo governo para garantir a segurança alimentar do país, que importa mais de 80% da comida que consome, boa parte do Brasil.
O governo Chávez diz ter expropriado ou comprado 2,7 milhões de hectares de terras desde 1999 -há estimados 30 milhões de hectares cultiváveis no país- e afirma que o objetivo de médio prazo é exportar comida.
A nova redação da lei, que tem de ser sancionada pelo presidente Hugo Chávez, foi criticada por organismos empresariais e agrários. Para eles, as regras aprofundam a insegurança jurídica no país, freando investimentos.
O texto determina que as fazendas e os terrenos podem ser expropriados se forem considerados ociosos, se forem cedidos a terceiros e se "sua utilização for contrária aos planos nacionais de desenvolvimento e segurança agroalimentar".
Os deputados governistas festejaram a aprovação como passo rumo ao socialismo.

ESCÂNDALO
"Trata-se da segunda mudança na lei aprovada em 2001. Estão armando uma montagem legal para dar lastro a ações inconstitucionais do governo. Vamos à Justiça reclamar", disse à Folha Rafael Hernández, da ONG opositora Cedice. O setor de alimentos é estratégico para o governo Chávez. Como o país depende da importação, o raciocínio é que deixá-lo em mãos privadas poderia desaguar em crise de desabastecimento intencional, com o objetivo de enfraquecer o chavismo.
O governo controla agora 75% da produção de café e quase a metade da produção de milho, base da alimentação local. Mas a maior participação já traz problemas. Desde o fim de maio Chávez enfrenta o "escândalo da comida", o achado de ao menos 70 mil toneladas de comida vencida ou podre num porto.
Mesmo economistas ligados ao chavismo criticam as nacionalizações, ante a falta de quadros gerenciais. Segundo o Banco Central da Venezuela, o setor público e suas empresas responderam por 30,3% do PIB venezuelano em 2009. Além da maior parte do setor petroleiro, o governo é dono das maiores empresas de telefonia e de eletricidade.Folha

15.6.10

Tuma fala em injustiça e diz que 'verdade virá à tona'!

Tuma fala em injustiça e diz que 'verdade virá à tona'
Ressentido com a demissão, que tentava reverter a todo custo, o secretário saiu atirando

Acusado de envolvimento com a um dos chefes da máfia chinesa em São Paulo, o secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, foi demitido nesta segunda-feira, 14, do cargo pelo ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto. Em nota, o ministro observou que Tuma Júnior responde a três investigações - na Comissão de Ética da Presidência da República, no próprio Ministério e na Polícia Federal e que, estando fora do cargo, ele "poderá melhor promover sua defesa".

Ressentido com a demissão, que tentava reverter a todo custo, o secretário saiu atirando. Ele disse que foi alvo de arbitrariedades da Polícia Federal, atribuiu sua desgraça à conspiração de setores mafiosos incomodados com sua atuação, acusou o governo de agir com "covardia política" e deu a entender que haverá troco. "A verdade virá à tona! Vão surgir fatos que vocês vão se arrepiar, aguardem!", disse. Tuma disse que é amigo do ministro. "Ele é meu amigo e está tão amargurado quanto eu", disse Tuma, negando que o termo "covardia política" era destinado ao ministro.

Barreto ainda tentou suavizar o ato, destacando na nota "os relevantes trabalhos" prestados por Tuma à frente do cargo, mas não funcionou. Tuma disse que, agora, sem as amarras éticas de estar à frente de um cargo de confiança, vai se defender e mandou um aviso aos setores do governo que, a seu ver, contribuíram para sua queda. "Minha história de vida, do meu pai e minha família, ninguém vai manchar", afirmou. O secretário explicou que contrariou interesses à frente do cargo e, como garantiu, ele é que teria sido vítima "da verdadeira máfia". Indagado a quem se referia, o secretário evitou citar nomes, mas registrou que "tem muita gente envolvida, políticos também". E insistiu, enigmático: "Vocês verão coisas cabeludas! Confio na justiça, o tempo vai restabelecer a verdade".

Tuma, que chegou ao governo numa negociação política para que seu pai, o senador Romeu Tuma (PTB-SP), aderisse à base aliada do governo, não quis condenar diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas mostrou-se ressentido com o governo. "Foi uma grande injustiça para um governo democrático".

Gravações telefônicas e e-mails interceptados pela Polícia Federal durante investigação sobre contrabando ligaram Tuma Júnior, ao principal alvo da operação, Li Kwok Kwen, como revelou o Estado em uma série de reportagens. A relação do ex-secretário com Kwen, conhecido como Paulo Li, foi mapeada ao longo dos seis meses da investigação que deu origem à Operação Wei Jin (trazer mercadoria proibida, em chinês), deflagrada em setembro de 2009.

De acordo com a assessoria do Ministério da Justiça, Tuma Júnior afirmou que a divulgação completa dos áudios da investigação demonstrariam sua completa inocência. Por intermédio da assessoria, Tuma disse que não vai retaliar nem faz ameaças.

A situação do secretário ficou insustentável diante das provas levantadas pela PF e seu destino foi selado numa reunião de Lula com Barreto, na última sexta-feira. Mas Tuma resistia a pedir demissão, como sugerira o ministro, por considerar que isso significaria admissão de culpa. Ontem, Barreto perdeu a paciência com a teimosia do secretário e o demitiu por ato administrativo, sem apelação.

Tuma, que ainda tinha esperança de reverter o quadro, ficou desconsolado ao tomar conhecimento da demissão pela imprensa.

"Não pedi demissão, nem pretendia fazê-lo", disse ele, visivelmente emocionado. "Na hora que o secretário de justiça se curvar a uma injustiça monstruosa dessas, presta um desserviço à população", explicou. "Minha obrigação é proteger à sociedade, pois se acontece isso comigo, imagine com o Zé da Silva", acrescentou. Estadão

12.6.10

Três homens e alguns segredos

Reportagem da Veja
O empresário investigado por tentar vender ao governo cafezinho a 352 reais a xícara tem uma equipe cuidando das finanças do comitê da campanha presidencial do PT

Daniel Pereira e Alexandre Oltramari
Reprodução/AE
Benedito de Oliveira: ele alugou a casa, pagou a viagem de marqueteiros e indicou os funcionários que cuidam do dinheiro

Três homens que aparecem nesta reportagem têm muito em comum. Os três frequentaram o comitê eleitoral do PT, em Brasília. Os três têm ligações com uma empresa de eventos, a Dialog, que faturou dezenas de milhões em negócios com o governo federal. Os três não falam, nunca deram entrevistas e se esquivam de explicar o que realmente fazem – ou faziam – na campanha petista. As digitais do trio – o empresário Benedito de Oliveira Neto, o contador Luiz Carlos Ferreira e o ex-funcionário público Jorge Luiz Siqueira – apareceram no bojo do escândalo que foi a tentativa de montar um grupo de policiais e arapongas para espionar adversários e aliados incômodos. O elo mais forte entre esses três senhores é o dinheiro. Há duas semanas, em entrevista a VEJA, o delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa revelou que o serviço de espionagem custaria 1,6 milhão de reais. Quem pagaria? Benedito de Oliveira. Como? Em dinheiro vivo.
Por que Benedito? O enredo que responde a essa pergunta parece levar à repetição de uma história tão ou mais antiga do que as eleições: amigo de mandatário é beneficiado materialmente com contratos milionários feitos sem licitação ou ao arrepio delas e, mais tarde, devolve a gentileza custeando despesas do seu antigo benfeitor. O Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) investigam dezenas de negócios da Dialog, empresa de Benedito de Oliveira, com o governo, cujos termos e irregularidades ilustram com nomes e números o milenar enredo narrado acima. Criada em 2004, a Dialog saiu da irrelevância para o domínio quase hegemônico da prestação de serviços e realização de eventos para ministérios e outros órgãos públicos. Não se sabe a razão, mas no ano passado o Ministério da Pesca propôs usar 72% de tudo o que gastou em 2009 em um único contrato com a Dialog.
Seriam entregues a Benedito 94 milhões de reais para... criar uma frota pesqueira? Montar fazendas de camarão no Nordeste? Ensinar a pescar? Não. Nada disso. O Ministério da Pesca queria destinar 94 milhões à Dialog para ela fornecer, entre outras coisas, cafezinho a funcionários e visitantes. Cada xicrinha custaria aos pagadores de impostos do Brasil a fortuna de 352,22 reais. Atenção: o Ministério da Pesca se dispôs a pagar ao empresário 352,22 reais por 50 mililitros de café na xícara, usando para isso o dinheiro dos impostos subtraídos dos brasileiros honestos que acordam cedo e vão trabalhar. Com o valor que Benedito receberia por uma única xicrinha, qualquer dona de casa do Brasil compraria 40 quilos de café torrado e moído (9 reais o quilo) e serviria 4 000 chávenas de café forte. Em outras palavras, uma família brasileira de quatro pessoas, cada uma tomando três xícaras de café por dia, levaria onze meses para gastar o mesmo que o empresário receberia do Ministério da Pesca por uma mísera xicrinha de 50 mililitros. Seria o cafezinho mais caro da história do planeta se o Tribunal de Contas da União não tivesse percebido a tramoia e suspendido o processo de contratação da Dialog.
Benedito foi "convidado" para acompanhar o encontro com arapongas pelo amigo Luiz Lanzetta, dono de uma empresa contratada pelo PT para assessorar a campanha presidencial e que se demitiu na semana passada. O empresário alugou a casa onde funcionava o comitê liderado por Lanzetta. Tudo o que se referia à administração estava sob a responsabilidade de certo Jorge Luiz Siqueira, que, até o ano passado, era coordenador de serviços e logística do Ministério da Agricultura. Pois bem, milhões de reais em contratos justamente de serviços e logística obtidos pela Dialog junto ao Ministério da Agricultura estão agora sob investigação da Controladoria-Geral da União. O ninho dos espiões tinha outro personagem da órbita de Benedito. Ele se chama Luiz Carlos Ferreira, consultor da Dialog, que na Casa do Lago Sul cuidava dos pagamentos em dinheiro vivo feitos a pedido da Lanza, a empresa de Lanzetta.
Os três sombrios personagens desta reportagem devem se encontrar de novo, sob trovões, raios e chuva, em comissão investigadora do Congresso que, na semana passada, aprovou a convocação de Jorge Hage, ministro da Controladoria-Geral da União. Hage tem informações sobre os contratos fechados pela Dialog com ministérios, órgãos reguladores e a Presidência, incluindo o do cafezinho mais caro do mundo. A meta é verificar se há alguma relação entre o dinheiro do empresário e o dinheiro da campanha presidencial petista. Os americanos Ben Self e Scott Goodstein, especialistas em internet a serviço do PT que vieram ao Brasil às expensas de Benedito de Oliveira Neto, foram convidados a depor pela comissão. Diz o deputado Gustavo Fruet, do PSDB do Paraná: "Uma empresa que ganhou milhões em contratos com o governo nos últimos anos e se envolve na campanha da candidata desse mesmo governo é suspeita por definição".
Sergio Dutti
O CONTADOR
Luiz Carlos Ferreira, ex-funcionário
de Benedito, é o encarregado de todos
os pagamentos da casa onde funciona
a comunicação da campanha
de Dilma Rousseff

Sergio Dutti
AMIZADE
O comitê era gerenciado por pessoas indicadas pelo empresário
 

Gráfica de Bené atuou para agência do mensalão

Empresário que vinha ajudando comitê de Dilma recebeu dinheiro da DNA e SPM&B

A Gráfica Brasil, da família de Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, empresário brasiliense que até semana passada vinha atuando como uma espécie de gerente informal da campanha de Dilma Rousseff, aparece como destinatária de pagamentos das agências de publicidade DNA e SPM&B, dois dos principais dutos do mensalão do PT.

Levantamento feito pelo Estado na base de dados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, que apurou o esquema, indica que a gráfica recebeu R$ 1,9 milhão das agências do empresário Marcos Valério de janeiro de 2001 a junho de 2005.

Os valores constam das planilhas de entrada e saída de caixa das agências. Em tese, os pagamentos se referem a serviços supostamente prestados pela Gráfica Brasil às empresas de Marcos Valério.

A Gráfica Brasil chegou a ser incluída no rol de empresas suspeitas de emitir notas fiscais frias para a DNA e SMP&B. O próprio relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), apresentou requerimento pedindo que as agências apresentassem cópias dos contratos.

"Havia muitos pagamentos por serviços não realizados, feitos por meio de notas frias, só para fazer de conta", explica Serraglio. Os trabalhos da comissão foram encerrados sem que a investigação sobre a gráfica avançasse.

Visanet. Nos balanços das empresas de Valério, muitos dos repasses listados como pagamentos a fornecedores serviam apenas para justificar saídas de dinheiro destinado ao mensalão. "Foi assim no caso da Visanet", lembra Serraglio.

À época, laudo da Polícia Federal mostrou que a DNA Propaganda recebeu indevidamente R$ 39,5 milhões de recursos do Banco do Brasil no Fundo Visanet. Supostos serviços prestados pela agência ao fundo eram justificados com notas frias.

A Visanet fez os pagamentos à DNA entre 2001 e 2005, mas a maior fatia se refere a 2003 e 2004, auge do mensalão. É nesse período que se concentram os repasses à Gráfica Brasil. Do total de R$ 1,9 milhão repassados pela DNA e pela SMP&B à gráfica, 70% (R$ 1,3 milhão) se referem ao período 2003-2005.

Procurado pelo Estado, Marcos Valério afirmou por meio de um auxiliar que não conhece nem a Gráfica Brasil nem Benedito Neto, o Bené. Disse ainda que a área de serviços gráficos não era de sua responsabilidade.

Semelhanças. Valério e Bené têm trajetórias semelhantes em sua relação com o PT. Foram apresentados ao partido pelo deputado Virgílio Guimarães (PT-MG). "Bené é meu amigo, conheço a família dele, mas não tem nada a ver com Marcos Valério", afirma Virgílio. "A gráfica dele é conhecida em Brasília."

A aproximação de Bené com o partido rendeu bons resultados. As duas principais empresas de sua família, a Gráfica Brasil e a Dialog Comunicação e Eventos, experimentaram um boom em seus negócios com o governo. De 2004 até este ano, faturaram R$ 214,4 milhões em contratos na Esplanada. Alguns dos contratos estão sob investigação do Tribunal de Contas da União, do Ministério Público Federal e da Controladoria- Geral da União.

Pelas mãos de Virgílio, Bené, de 34 anos, tornou-se amigo do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, coordenador da campanha de Dilma. Até estourar a crise do suposto dossiê contra o pré-candidato tucano José Serra, o empresário vinha transitando livremente na campanha de Dilma.

Como uma espécie de gerente informal do comitê, encarregou-se, por exemplo, de providenciar casas utilizadas pela campanha. Também participou de negociação com arapongas contatados para integrar o núcleo de inteligência da campanha do PT. Estadão

8.6.10

Acareação vai 'desmascarar' petistas, diz ex-delegado

Pivô do escândalo do suposto dossiê disse ter provas de que a proposta de espionagem partiu do PT
08 de junho de 2010 | 9h 02

Vannildo Mendes / BRASÍLIA, Marcelo Auler / RIO - O Estado de S.Paulo
Pivô do escândalo do suposto dossiê contra o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, o ex-delegado da Polícia Federal Onézimo Sousa disse na segunda-feira, 7, ao Estado ter provas de que a proposta de espionagem política partiu do comando do PT, em reunião para a qual foi convocado num restaurante de Brasília. Ele disse que aceita fazer uma acareação "para desmascarar" os emissários petistas presentes, que teriam se apresentado em nome do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. "Tenho provas definitivas da abordagem que eles me fizeram e topo a acareação de bom gosto, desde que seja séria, na Justiça", afirmou.
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Ele disse que recusou a proposta de trabalho, pela qual receberia R$ 1,6 milhão em dez parcelas, porque considerou o comitê petista uma bagunça, sem controle e dirigido por irresponsáveis. "O PT é um serpentário, que não está preparado para fazer uma campanha e muito menos para governar o País", disse.
Ligado à comunidade de informações, Onézimo afirmou que, pelo que constatou, "há uma guerra de facções" no PT envolvendo, de um lado, Pimentel e do outro o ex-ministro Antônio Palocci e o deputado estadual Rui Falcão.
Ele disse que recusou a proposta e avisou que a iniciativa repetiria o episódio dos "aloprados" - o escândalo que levou à prisão de um grupo de petistas envolvidos na confecção de um dossiê contra Serra na eleição de 2006.
Da reunião em Brasília, realizada em abril, participaram o jornalista Luiz Lanzetta, dono da empresa Lanza, ex-coordenador da área de comunicação da campanha petista, o empresário Benedito de Oliveira Neto, sócio das empresas Dialog e Gráfica Brasil, que prestam serviços ao governo federal, e o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que acusa Onézimo de ser o autor da proposta de espionagem política.
O ex-delegado negou a acusação de que tenha trabalhado numa equipe de espionagem montada pelo deputado Marcelo Itagiba, também ex-delegado federal, a serviço de Serra quando este era ministro da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso. Mas admitiu ter ligações com ele.

Planilha mostra doações de empresa de fachada da Bancoop ao PT

8 de junho de 2010 -Veja
Por Fernando Mello


Trechos da planilha com as movimentações da Mirante /Mizu listam doações ao PT. (Foto: Reprodução)
Uma planilha que acaba de chegar às mãos da CPI da Bancoop na Assembleia Legislativa de São Paulo traz doações feitas pela empresa Mirante/Mizu Artefatos Ltda ao PT, no valor de 43.200 reais. O Ministerio Público considera que a empresa era de fachada. Em 2002, ano das doações, o TSE não registra nenhuma contribuição oficial feita pela Mirante/Mizu a qualquer campanha ou candidato.

A Mirante/Mizu Artefatos foi registrada em 23 de julho de 2002. Parece ter sido feita sob medida para atender a um único cliente, a Bancoop, à qual fornecia blocos de concreto. Segundo a planilha, já nos três primeiros meses de funcionamento tinha recebido da cooperativa 900.000 reais.

Quatro dirigentes da Bancoop, incluindo o então presidente Luiz Eduardo Malheiros, faziam parte da diretoria da Mirante/Mizu. Malheiros autorizava os depósitos da Bancoop na conta da fabricante de blocos. A cooperativa e a empresa tinham conta na mesma agência bancária. Naquele momento, o diretor financeiro da Bancoop era o petista Ricardo Berzoini.
A suspeita do Ministério Público e de integrantes da CPI da Bancoop é de que a cooperativa usava uma rede de empresas contratadas para abastecer o caixa dois do PT na eleição de 2002 e para enriquecimento dos dirigentes da cooperativa. A Mirante/Mizu seria uma dessas empresas.
Nesta terça-feira, os deputados da CPI da Bancoop votam o pedido de quebra de sigilo de 15 pessoas e empresas. Os deputados querem saber como, apenas nos cinco primeiros meses de vida, a Mizu movimentou mais de 1 milhão de reais recebidos da Bancoop. Entre as movimentações suspeitas estão os 43.2000 reais de doações ao PT, 162.000 reais em compra de apartamentos da própria Bancoop, 153.000 em divisão de lucros e 27.000 injetados em uma ONG do próprio Malheiros, que morreu em novembro de 2004, em acidente de carro em Petrolina (PE). Ao Ministério Público, seu irmão, Hélio Malheiros, afirmou que "muitas vezes se via obrigado a entregar valores de grande monta" para o PT.

7.6.10

PSDB e PT trocam acusações sobre as ações dos "aloprados"

"Era para levantar tudo,inclusive coisas pessoais"
Delegado conta que aloprados planejavam mesmo espionar aliados e o ex-governador José Serra

Policarpo Junior e Daniel Pereira
Moreira Mariz
TRABALHO CARO
Delegado Onézimo Sousa: oferta de 1,6 milhão de reais para saber tudo o que falavam os adversários

Na semana passada, VEJA revelou a existência de um grupo que se reunia dentro do comitê eleitoral do PT, em Brasília, com a missão de espionar adversários e integrantes do próprio partido. A notícia estremeceu as relações até então amigáveis entre os principais atores ligados à campanha presidencial. O PSDB anunciou que pretende convocar para depor no Congresso os personagens que tentaram montar uma rede de espionagem onde funciona o comitê de comunicação da pré-campanha da ex-ministra Dilma Rousseff. "Haverá um acirramento", avisou Eduardo Jorge, vice-presidente executivo dos tucanos. Já os petistas correm em sentido oposto, tentando pôr um ponto final à discussão. "Não fomos nós que colocamos esse assunto absurdo em pauta. Esse tipo de debate não interessa ao país", afirma o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Na sexta-feira passada, em entrevista a VEJA, o delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa revelou detalhes que ajudam a dimensionar com maior exatidão o que se planejou nos subterrâneos do comitê petista - forçando uma intervenção direta do comando da campanha com ordens expressas de parar com tudo.
Apontado como o chefe do grupo de espionagem, o policial garante que sua atuação se restringiu a uma reunião de planejamento. O que foi proposto, segundo ele, era inaceitável. Em carta a VEJA, ele reafirmou que divergia "cabalmente quanto à metodologia e ao direcionamento dos trabalhos a ser ali executados". O comitê petista queria identificar um suposto membro da cúpu-la da campanha que estaria vazando informações estratégicas. Para isso, era necessário reunir os extratos telefônicos e rastrear com quem cada um deles conversava. Acreditava que por meio do cruzamento de números o traidor seria facilmente identificado. A outra missão era ainda mais explosiva: monitorar o ex-governador José Serra, candidato à Presidência pelo PSDB, e o deputado tucano Marcelo Itagiba, seus familiares e amigos. Os aloprados do comitê queriam saber tudo o que os dois faziam e falavam.
No início de abril, ainda distante do atual clima de euforia com o resultado das pesquisas eleitorais, havia uma disputa interna pelo controle da campanha. De um lado, o ex-prefeito Fernando Pimentel, coordenador e amigo de Dilma. Do outro, um grupo do PT de São Paulo ligado ao vice-presidente do partido, o deputado Rui Falcão. Onézimo Sousa conta que foi convidado para uma conversa com Pimentel, na área reservada de um restaurante tradicional de Brasília. No local marcado, não encontrou o coordenador da campanha, mas um representante do comitê, o jornalista Luiz Lanzetta. Responsável pela parte de comunicação da campanha, Lanzetta explicou ao delegado que o objetivo deles era montar um grupo de espionagem. Não haveria contrato, e o pagamento - 1,6 milhão de reais, o equivalente a 160 000 por mês - seria feito pelo empresário Benedito de Oliveira Neto, um prestador de serviços que enriqueceu durante o governo Lula e estava presente à reunião, da qual participou também o ínclito, reto e vertical ex-jornalista e agora escritor Amaury Ribeiro.
O senhor foi apontado como chefe de um grupo contratado para es-pionar adversários e petistas rivais?
Fui convidado numa reunião da qual participaram o Lanzetta, o Amaury (Ribeiro), o Benedito (de Oliveira, responsável pela parte financeira) e outro colega meu, mas o negócio não se concretizou. Havia problemas de metodologia e direcionamento do trabalho que eles queriam.
Como assim?
Primeiro, queriam que a gente identificasse a origem de vazamentos que estavam acontecendo dentro do comitê. Havia a suspeita de que um dos coordenadores da campanha estaria sabotando o trabalho da equipe. Depois, queriam investigações sobre o governador José Serra e o deputado Marcelo Itagiba.
Que tipo de investigação?
Era para levantar tudo, inclusive coisas pessoais. O Lanzetta disse que eles precisavam saber tudo o que eles faziam e falavam. Grampos telefônicos...
Pediram ao senhor para grampear os telefones do ex-governador Serra?
Explicitamente, não. Mas, quando me disseram que queriam saber tudo o que se falava, ficou implícita a intenção. Ninguém é capaz de saber tudo o que se fala sobre alguém sem ouvir suas conversas. Respondendo objetivamente, é claro que eles queriam grampear o telefone do ex-governador.
Disseram exatamente que tipo de informação interessava?
Tudo o que pudesse ser usado contra ele na campanha, principalmente coisas da vida pessoal. Esse é o problema do direcionamento que eu te disse. O material não era para informação apenas. Era para ser usado na campanha. Na hora, adverti que aquilo ia acabar virando um novo escândalo dos aloprados.
Quem fez essa proposta?
Fui convidado para um encontro com Fernando Pimentel. Chegando lá no restaurante, estava o Luiz Lanzetta, que eu não conhecia, mas que se apresentou como representante do prefeito.
Ele pediu para investigar os petistas também?
Disse que estava preocupado, que tinha ocorrido uma reunião entre os seis coordenadores da campanha e que tudo o que havia sido discutido foi parar nos jornais. Havia alguém vazando informações, e ele queria saber quem era. Suspeitava do Rui Falcão.
O ex-prefeito Fernando Pimentel informou que não conhece o delegado e que Luiz Lanzetta não fala em seu nome. O jornalista, que continua trabalhando no comitê da campanha, disse que "fez uma bobagem" ao tentar criar um grupo que tinha como objetivo apenas evitar ataques dos adversários.

Campanha de Dilma trouxe araponga da Satiagraha para montar dossiês

Conhecido por suas apurações sigilosas, sargento da reserva Idalberto Matias de Araújo aceitou missão proposta por petistas e indicou delegado para ajudá-lo; trabalho custaria R$ 200 mil mensais.
Rodrigo Rangel, de O Estado de S. Paulo

A articulação para montar uma central de dossiês a serviço da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República contou com a participação de arapongas ligados aos serviços secretos oficiais. Um deles é o sargento da reserva Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, recém-saído do Cisa, o serviço secreto da Aeronáutica.
Conhecido personagem de apurações sigilosas em Brasília, o sargento esteve, por exemplo, ao lado do delegado Protógenes Queiroz nas investigações que deram origem à Operação Satiagraha, que levou o banqueiro Daniel Dantas à prisão.
A participação de Idalberto de Araújo remonta às origens do plano de inteligência petista. Em abril, após ter sido procurado por emissários da campanha, o sargento disse que aceitaria o serviço, mas necessitaria de apoio. Deixou claro que, para executar a missão proposta pela campanha, seria preciso chamar mais gente.
O sargento, então, indicou um amigo de longa data, o delegado aposentado da Polícia Federal Onésimo de Souza, dono de uma pequena empresa de segurança instalada num conhecido centro comercial de Brasília. As conversas avançaram.
Outros agentes, dentre eles um araponga aposentado do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) e um militar que já serviu à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), chegaram a ser contatados para integrar a equipe. O passo seguinte foi chegar a um valor para o serviço.
É onde começa o contato direto entre o agente e um dos principais profissionais da área de comunicação da campanha de Dilma, o jornalista e consultor Luiz Lanzetta. Dono da Lanza Comunicação, empresa contratada pelo PT para fazer a assessoria de imprensa da campanha, Lanzetta marcou um encontro com o sargento e o ex-delegado.
A reunião ocorreu no restaurante Fritz, na Asa Sul de Brasília. A dupla disse a Lanzetta que, pelo serviço, cobraria R$ 200 mil por mês. O delegado justificou o preço com o argumento de que seria preciso montar uma equipe de 12 pessoas para a missão.
Bunker. Lanzetta se encarregou de detalhar o serviço de que precisava. A primeira tarefa seria interna, no bunker que ele próprio montara no Lago Sul. Desconfiado de que seu trabalho estaria sendo sabotado por gente do próprio PT, o consultor queria que os arapongas descobrissem a origem do fogo amigo.
O pacote incluiria ainda investigações que pudessem dar à campanha de Dilma munição para ser usada, em caso de necessidade, contra adversários. O alvo preferencial era o candidato tucano José Serra.
A proposta para contratação dos serviços do araponga e do delegado foi levada, então, para o núcleo central do comitê de Dilma. O assunto chegou a ser discutido com o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, coordenador da campanha. Num primeiro momento, Pimentel avaliou que o preço estava alto demais. Disse que topava pagar, no máximo, R$ 60 mil.
O grupo já estava discutindo estratégias de trabalho - um dos planos era infiltrar um agente no núcleo de inteligência da campanha de José Serra - quando começaram a vazar para a imprensa informações acerca de supostos dossiês produzidos pelo bureau montado por Lanzetta na fortaleza petista do Lago Sul.
Era o que faltava para os ânimos se acirrarem ainda mais no comitê. O imbróglio realçou, no interior da campanha de Dilma, o conflito entre dois grupos: o do mineiro Fernando Pimentel, responsável por levar Lanzetta para o staff de Dilma, e o do ex-ministro Antonio Palocci.
Conspiração. Nos bastidores, Pimentel, alçado ao comando da campanha por conta de sua velha amizade com Dilma, acusa Palocci e o deputado paulista Rui Falcão, coordenador de comunicação do comitê, de tramarem para derrubá-lo. Aliados de Pimentel afirmam que foi Falcão quem deixou vazar informações sobre o dossiê, para enfraquecer o ex-prefeito na cúpula da campanha.
Ao Estado, Pimentel negou que tenha sido procurado pelo grupo de Lanzetta para tratar de contrato o araponga. "Se houve isso, é iniciativa da empresa do Lanzetta, para resolver algum problema relacionado à empresa dele", disse. "Nunca tratamos disso na coordenação da campanha." Pimentel também negou desentendimento com Falcão. "Mnão sei se tem esse negócio de grupos, o que sei é que sou amigo fraterno do Rui há 40 anos."
Procurado pela reportagem, Idalberto não quis falar sobre o assunto. "Não estou entendendo por que você está me ligando", disse ele, antes de desligar o telefone. Lanzetta se negou a dar declarações, embora tenha admitido o contato com o araponga e o ex-delegado. Onésimo de Souza não foi localizado até o fechamento desta edição. A assessoria de Dilma limitou-se a reproduzir declaração da pré-candidata petista, segundo a qual não havia ninguém autorizado a negociar dossiês para a campanha.


1.6.10

Ordem na casa do Lago Sul

O comando da campanha do PT à Presidência teve de intervir pesado para evitar que companheiros afoitos reeditassem o escândalo dos "aloprados" de 2006


Policarpo Junior e Daniel Pereira
Fotos Sergio Dutti e Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press
NOS OLHOS DOS OUTROS
O ex-prefeito Fernando Pimentel, coordenador da campanha de Dilma, desconfiou de grampos na casa, mas para ele nenhum telefone é seguro

"Campanha é lama, irmão!" Este era o bordão usado por um operador de terceiro escalão do PT de São Paulo quando seu chefe-candidato perguntava se ele e a turma não estariam indo longe demais nas atividades de coleta de evidências potencialmente desastrosas para os adversários. O candidato foi aceitando a justificativa até que a lama estourou mesmo foi no colo dele. O PT nacional agiu de forma bem mais rígida com os companheiros sinceros mas radicais que estavam tentando montar em Brasília um esquema de espionagem de adversários e até de correligionários rivais baseados na ideia de que campanha é lama. Os companheiros mais afoitos foram ao mercado em busca das competências necessárias à execução das missões planejadas. Profissionais para esse tipo de trabalho abundam em Brasília, e eles foram contatados. São policiais, ex-agentes dos serviços de espionagem do governo e detetives particulares especializados em obter provas de adultério ou fazer varreduras ambientais e telefônicas para afastar a possibilidade de grampos. A turma começava a exercitar os músculos e testar suas rotinas subterrâneas quando o pessoal do andar de cima soube do que se passava naquela casa do Lago Sul protegida por muros altos e vigiada por seguranças. Desceu sobre eles então uma rajada de bom senso vinda do comando da campanha mandando parar com toda atividade de inteligência que se valesse de métodos ilegais. Houve gritos de "é para parar com isso já" e ameaças de demissão dos envolvidos nos planos.
Fotos Sergio Dutti e Jose Varella
ESTRANHOS NO NINHO
O delegado Onésimo (à dir.), que foi convidado para chefiar o grupo de "inteligência" do PT, e o "contador" que cuida dos pagamentos do comitê (à esq.)

"Já tivemos problemas demais com esse tipo de coisa no passado, deixando que fosse muito longe. A ordem agora foi cortar tudo pela raiz de uma vez por todas", diz um dos mais próximos colaboradores de Dilma Rousseff, candidata do PT, de quem partiu a ordem irada para alagar os porões que, de outra forma, iniciariam suas operações. Dilma deixou claro a outro colaborador próximo sua posição sobre a questão: "Não é para fazer nada disso. Se fizer, demito. Mesmo assim, se aparecer sobre minha mesa, jogo no lixo sem ler". Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, dizia com amargura que algumas vezes ele se sentia de pés e mãos amarrados no exercício do cargo, como se desse ordens em um cemitério: "Ninguém embaixo ouve". Se na Presidência é assim, o que não seria em uma campanha presidencial?
Em outras palavras, será que a estrutura montada na casa de Brasília, alugada por 18 000 reais, onde trabalham dezenas de pessoas, deu marcha a ré na linha de montagem de ilegalidades e passou a funcionar apenas como o braço de comunicação e internet da campanha? Ninguém pode responder com toda a certeza. O que se sabe é que a linha justa foi dada por Dilma Rousseff - e é sobejamente conhecida sua disposição, demonstrada no cargo de ministra, de garantir que abaixo dela as pessoas não se finjam de mortas para descumprir ordens.
O HOMEM DA GRÁFICA
Benedito (no detalhe), dono de empresas que negociam com o governo e ajudam o PT

A casa do Lago Sul não deve assombrar mais durante a campanha se depender da atividade e - diga-se - competência da turma dos porões contatada pelos companheiros mais afoitos. Antes que viesse a ordem de cima para interromper as ações bem e mal-intencionadas, porém, foi uma festa de trapalhadas. Os espiões foram a campo bisbilhotar a vida de adversários políticos e até de petistas. Rui Falcão, vice-presidente do PT e deputado estadual paulista, entrou no radar da arapongagem amiga. Ele ficou sabendo e deu um espalho geral na turma da casa do Lago Sul. Falcão foi informado de que não se tratava de espionagem, mas de contraespionagem - ou seja, ele estava sendo investigado para seu próprio bem. Falcão não se convenceu. Até os telefones do coordenador da campanha, Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, podem ter sido grampeados. Não se sabe bem se por espiões da casa ou do lado adversário. Pimentel não deu ao episódio muita importância. Diz ele: "Eu trabalho sempre com a hipótese de que todos os meus telefones estão grampeados. Isso não me preocupa, pois, como dizia o doutor Tancredo Neves, ‘telefone é para marcar reunião no lugar errado e não comparecer’".
Os repórteres de VEJA procuraram quem parece ser o responsável pela casa do Lago Sul. Ele se chama Luiz Lanzetta e é dono da Lanza Comunicação, uma das empresas contratadas pelo PT para coordenar a área de produção dos programas de Dilma Rousseff. Lanzetta nega as intenções, mas não nega que recrutou gente da pesada com experiência em espionagem - ex-agentes dos serviços de inteligência, um delegado aposentado da Polícia Federal e até um ex-jornalista que teria conhecidos dotes investigativos. O grupo se reuniu pela primeira vez na área reservada de um tradicional restaurante de Brasília, ocasião em que se discutiram finanças e a maneira como seria feito o trabalho. Os pagamentos variavam de 15 000 a 30 000 reais por mês e seriam feitos em dinheiro vivo. Todos receberiam verba extra para custear as despesas operacionais. Do encontro saiu uma lista de "alvos", da qual constavam o ex-governador José Serra, candidato tucano à Presidência, e o deputado Marcelo Itagiba (PMDB), identificado pelos presentes à reunião como o "espião-chefe" da candidatura tucana. Mas como explicar que entre os alvos estava o companheiro Rui Falcão? Um dos participantes da reunião contou que Falcão era apontado como líder em uma conspiração interna para sabotar o trabalho do grupo que comandava a campanha. Nada mais se falou na sala reservada do restaurante.
O NOVO RICO BANCOU
O marqueteiro americano Scott Goodstein (entre os petistas Marcelo Branco e André Vargas): viagem ao Brasil paga pelo empresário Benedito

VEJA procurou saber por que Lanzetta montou um time com sujeitos com aquelas características. Assessores dele explicaram que tudo o que se falava aqui acabava saindo nos jornais. Foi feita, então, uma varredura, e ela encontrou evidência de grampos nos telefones de Fernando Pimentel e de três funcionários contratados. Pimentel corrobora a versão da contraespionagem interna e benigna sustentada por Lanzetta e reconhece que nem tudo são flores quando se monta uma campanha eleitoral complexa como a presidencial. Diz ele: "Houve de fato um atrito entre quem já estava na campanha e quem estava chegando. Além, é claro, de uma disputa empresarial". Qual a intensidade do atrito? Não se sabe, mas as fontes de VEJA que presenciaram os eventos mais de perto contam que, a certa altura, Luiz Lanzetta deu a dimensão da encrenca ao se referir ao ex-secretário de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo, Valdemir Garreta, como "gordinho sinistro" e "ladrão dos Bandeirantes". Garreta seria a opção paulista para dirigir a campanha caso o grupo de Lanzetta fosse defenestrado. Depois da intervenção de cima, essas disputas terão de ser resolvidas sem arapongagem. Até porque mesmo o pessoal do ramo contatado pressentiu que não haveria um futuro muito glorioso na empreitada. "Aquilo ia acabar numa nova versão dos aloprados. Foi bom o negócio não ter dado certo", explica o ex-delegado Onésimo de Souza, convidado para chefiar a equipe que, segundo ele, nunca chegou a trabalhar de fato. Onésimo de Souza se referiu aos "aloprados", como ficaram conhecidos os trapalhões que se meteram a espionar adversários do PT na campanha estadual paulista de 2006.
Jose Cruz/Ag. Senado
CONTRA ESPIONAGEM
Luiz Lanzetta, um dos responsáveis pela comunicação
da campanha: foi em defesa própria

Talvez o contato com espiões trapalhões que não conseguem ficar de boca fechada seja um problema menor para a campanha do PT do que explicar o real papel de um misterioso frequentador diário da casa do Lago Sul - o empresário Benedito de Oliveira Neto. Ele não tem vínculos formais com o PT e oficialmente não faz parte da campanha do partido. Segundo informa o próprio comitê de campanha, Benedito custeou a vinda ao Brasil dos especialistas em internet que trabalharam na campanha vitoriosa do presidente americano Barack Obama. Meses depois do favor feito por Benedito, os luas pretas digitais americanos foram contratados oficialmente pelo PT. Até 2005, Benedito era diretor da pequena empresa do pai, a Gráfica e Editora Brasil - que naquele ano prestou serviços ao governo no valor de 494.000 reais. Nos dois anos seguintes, o faturamento da gráfica saltou para 50 milhões de reais ao ano. Benedito é agora também dono da Dialog, uma companhia de eventos que nos últimos dois anos se transformou em potência do ramo em Brasília. A Dialog faturou 40 milhões de reais em contratos com ministérios, agências reguladoras e a Presidência da República. A ascensão meteórica das empresas de Benedito chamou a atenção do Tribunal de Contas e da Controladoria-Geral da União, que passaram a investigá-la por suspeitas de manipulação e fraudes nas licitações. As investigações ainda estão em curso. Foi de Benedito a escolha da casa do Lago Sul para sediar o comitê de comunicação da campanha petista. Como se vê, toda a vigilância é pouca quando o objetivo é evitar que a campanha vire lama. Veja