8.11.06

A volta do MST!

MST faz primeira invasão no Pontal após 2º turno

20 famílias ocupam fazenda que, segundo o movimento, é do Incra e deveria ter sido usada para assentamento


Integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiram na madrugada de ontem a Fazenda São Mateus, no município de João Ramalho, no Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado de São Paulo. O grupo de 20 famílias cortou a cerca, entrou na propriedade e iniciou a construção de barracos. Essa é a quarta fazenda invadida na região depois do fim da trégua dada pelo MST ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - a primeira depois do segundo turno das eleições.

A fazenda, de 54 hectares, é usada para pecuária. O proprietário, Serafino Fianbelli, registrou a invasão na delegacia. Segundo ele, os sem-terra também estouraram o cadeado de uma porteira. Fianbelli deve entrar hoje com pedido de reintegração de posse na Justiça.

De acordo com o coordenador do MST, Luciano de Lima, desde 1981 a área pertence ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mas teria sido ocupada indevidamente por um pecuarista da região. 'Essa terra deveria ter sido usada para assentar famílias.'

Lima disse ter obtido em um cartório da Comarca de Rancharia cópias do documento de transmissão da fazenda para o Incra.

Segundo a assessoria do órgão em São Paulo, a área foi repassada à União porque o antigo dono morreu e não deixou herdeiros. O governo federal destinou-a para reforma agrária em 2005. O Incra, que considera irregular a posse de Serafino Fianbelli, vai entrar com ação para reaver a terra.

DESPEJO

As 300 famílias do Movimento dos Sem-Terra que invadiram, no dia 25 de outubro, quatro dias antes do segundo turno das eleições presidenciais, as fazendas São Luiz, em Presidente Prudente, Santa Cruz, em Mirante do Paranapanema, e São José, em Teodoro Sampaio, foram despejadas pela Justiça.

Os sem-terra montaram acampamento em um terreno pertencente à Rede Ferroviária Federal (RFFSA), vizinho da Santa Cruz, em Mirante, mas foram notificados para deixar também essa área.

De acordo com o coordenador estadual Valmir Ulisses Sebastião, os oficiais de Justiça estão exigindo que o acampamento seja transferido para uma distância de 10 quilômetros do local.

Segundo Sebastião, a exigência é arbitrária. 'Eles apresentaram um mandado expedido no início do ano, em outro processo. Não houve uma nova ordem judicial.' Os sem-terra não estão dispostos a deixar a área da RFFSA.

Descontente com os resultados do primeiro mandato de Lula em relação à reforma agrária, o MST promete intensificar suas ações no ano que vem.
Estadão

6.11.06

Telefonemas ligam Berzoini a Freud!!

Quebra de sigilo revela comunicação intensa entre escritório do então presidente do PT e empresa do segurança

A quebra dos sigilos telefônicos da empresa Caso Sistemas de Segurança Ltda., pertencente ao ex-guarda-costas do presidente Lula Freud Godoy e sua mulher, Simone Godoy, registra intensa comunicação com o escritório do presidente licenciado do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). Em agosto e setembro há pelo menos 32 ligações dos telefones do comitê de campanha de Berzoini, em São Paulo, para a Caso.

Apesar de se dizer inocente no caso do dossiê Vedoin, Berzoini foi afastado da coordenação da campanha de Lula quando estourou o escândalo da compra do dossiê. Freud foi apontado por Gedimar Passos, ex-integrante do núcleo de inteligência da campanha, como a pessoa no PT que mandou pagar pelo dossiê. Depois, Gedimar mudou seu depoimento, passando a isentar Freud e a afirmar que citou-o por pressão do delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno, primeiro a interrogá-lo.

Algumas das ligações coincidem com um momento crucial do processo de negociação do dossiê. Há uma seqüência de seis telefonemas nos dias 11, 12 e 13 de setembro. No dia 14, conforme as investigações da PF, Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), levou ao Hotel Ibis o dinheiro destinado à compra do dossiê.

A mais longa delas, com cinco minutos de duração, foi realizada às 11h08 do dia 13 de setembro. Outra seqüência de 13 telefonemas do comitê de Berzoini para a Caso é identificada entre os dias 21 e 29 de setembro, às vésperas do primeiro turno das eleições. No dia 29, quando Freud Godoy prestou depoimento na superintendência da Polícia Federal em São Paulo, há o registro de duas chamadas entre os dois escritórios: uma de apenas sete segundos e outra de 3 minutos e 17 segundos.

Procurado, o advogado de Freud Godoy, Augusto Botelho, explicou que a Caso presta serviços de segurança ao comitê de Berzoini e as ligações são decorrentes deste contrato. Segundo Botelho, as chamadas refletem as conversas de funcionários do comitê do deputado com funcionários da empresa de Freud discutindo assuntos relacionados aos serviços de segurança e não têm relação com o dossiê. “Freud Godoy não vai à Caso com freqüência”, diz Botelho. O advogado reitera que seu cliente não está envolvido no escândalo.

Não há, até o momento, registro de telefonemas entre os celulares pessoais de Freud e Berzoini. Das 32 chamadas, nove têm duração inferior a um minuto. A reportagem pediu contato com o deputado, que estava viajando, por meio de sua assessoria. Até 19 horas não havia recebido retorno.

FRENESI NO DIA 13

Em seu celular pessoal, com prefixo de Brasília, Berzoini recebeu dezenas de ligações do comitê de campanha de Lula. A maior seqüência delas é precisamente no dia 13 de setembro, quando Gedimar aguarda o recebimento do dinheiro no hotel.

Naquela mesma semana, Expedito Veloso e Oswaldo Bargas, do alto escalão da campanha de Lula, estavam em Cuiabá checando a entrevista que Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, daria acusando a administração tucana no Ministério da Saúde de cometer irregularidades.

Foram 11 chamadas, todas entre 19h e 23h. No dia 12 de setembro, Berzoini recebe duas ligações de Jorge Lorenzetti, chefe do núcleo de inteligência do PT e patrão de Gedimar.
Estadão

5.11.06

PT contra a Imprensa!

Embalado pela vitória, PT ensaia ‘terceiro turno’ contra a imprensa

Lula prometeu melhorar relação com a mídia, mas o pós-eleição mostrou hostilidade de petistas contra jornalistas

A festa da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se um terceiro turno contra a mídia. Dizia uma faixa na Avenida Paulista, domingo à noite, durante o comício da vitória: “O povo venceu a mídia.”

No dia seguinte, na volta de Lula a Brasília, duas centenas de petistas empurraram e xingaram jornalistas. Um repórter da Folha de S. Paulo levou uma bandeirada. Um automóvel da TV Globo acabou coberto por adesivos da campanha de Lula. Temendo novas agressões, funcionários da área técnica da emissora trancaram-se no carro de link - para tentar abrir a porta, uma repórter teve de esmurrá-la.

“Acho que a imprensa deveria fazer uma auto-reflexão sobre o que ocorreu nestas eleições”, declarou Marco Aurélio Garcia, presidente interino do PT, coordenador da campanha de Lula e assessor influente do presidente, assumindo a visão de que jornais e jornalistas têm ao menos parte da culpa pela baderna de que foram vítimas.

Garcia condena manifestações desse tipo. “Sou contra toda manifestação que conduza à violência”, ressalta. Os militantes que proferiram ameaças contra jornalistas usavam crachás de ministérios e muitos são figuras carimbadas de atos públicos de Brasília. Se houvesse interesse, não seria difícil localizá-los para explicar por que não se deve promover “manifestações que conduzam à violência”.

Um dos mistérios do segundo mandato será descobrir como o governo Lula pretende conviver com a mídia. Não adianta procurar pistas no programa de governo, que não recebeu leitura atenciosa nem dos signatários. O presidente já disse que pretende dar mais entrevistas - o que é sempre uma boa notícia, desde que concorde em ser cobrado por fatos desagradáveis. Nas entrevistas que deu no segundo turno, quando a necessidade de conquistar o eleitorado recomendava muita simpatia, Lula chegou a se dirigir em tom impróprio diante de perguntas sobre a “carga tributária” e sobre a “reforma da Previdência.”

IMPRENSA BURGUESA

A realidade é que no Planalto “ainda tem muita gente que acredita em imprensa burguesa”, admite, em conversas reservadas, Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais. Não se trata de uma herança retórica, mas de uma visão da mídia como adversária a ser pressionada e confrontada.

Uma repórter dedicada à cobertura do Palácio do Planalto desde a Nova República de José Sarney resume: “Cobri cinco presidentes diferentes, mas nunca vi relações tão tensas entre o governo e os jornalistas.” Mesmo funcionários de carreira do palácio têm receio de conversar com os jornalistas, pelo temor de serem acusados de fornecer informações sem autorização. No Planalto também existem os funcionários-militantes, que formam um mundo exclusivo -- no aniversário de Lula, tiveram um encontro fechado com o presidente.

A liberdade de circulação de repórteres enfrenta restrições crescentes desde o governo Collor. Mas eles contam que nunca foram tão vigiados como agora.

PROMESSA

As cenas dos últimos dias só foram surpreendentes porque se falou em melhorias antes da eleição. Muito antes do mensalão, o presidente teve um encontro com líderes sem-terra, em Brasília, quando centenas de militantes se aproximaram dos repórteres em tom de ameaça. Para evitar agressões, os jornalistas foram resgatados por José Genoino, então presidente do PT, e por José Dirceu, ministro-chefe da Casa Civil, e conduzidos a um local reservado às autoridades.

Garcia diz que “gostaria de viver num país com imprensa mais plural, onde, como na Espanha, eu pudesse ler El País e o ABC.” Ele também diz que os “donos dos meios de comunicação nunca concordaram com as idéias do partido”. E frisa: “Mas agora os próprios jornalistas também manifestam uma posição de conflito conosco. Mudaram de campo cultural.” Os adversários sempre acusaram a imprensa de dar um tratamento VIP ao PT, dispensando à legenda de Lula um olhar menos agressivo e inquiridor.

A crítica faz algum sentido, quando se conta a história do PT de trás para frente. Num fenômeno que tem a ver com política e até com antropologia -- pois eram pessoas de uma mesma geração, muitas vezes colegas de escola e de ambientes culturais - o PT contava com uma credibilidade nas redações como nenhuma outra legenda da Nova República. Isso poupou o partido por um longo período. Como Lula descobriu no primeiro mandato, esse momento acabou - e o convívio com a imprensa será, em primeiro lugar, um convívio com sua liberdade.
Estadão

Planalto já afaga tucanos!

Lula precisa negociar e começa a sondar governadores

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva promete receber com “tapete vermelho” os seis governadores tucanos que serão empossados em 1º de janeiro. Mas não é só. De acordo com um assessor do Palácio do Planalto, os seis serão tratados a “pão de ló”, expressão do velho jargão político que significa receber com mimos, cuidando para que não falte alguma coisa ao convidado.

Lula tem dito a assessores que goza da amizade dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) e que tem conversado rotineiramente com ambos por telefone. Serra e Aécio estarão, nos próximos quatro anos, à frente dos dois maiores colégios eleitorais do País. O presidente tem dito que essa proximidade o ajudará a desanuviar as negociações com o PSDB, o principal partido de oposição, e com os outros governadores tucanos -Yeda Crusius (RS), Cássio Cunha Lima (PB), Teotônio Vilela Filho (AL) e Ottomar Pinto (RR).

Yeda era motivo da maior preocupação de Lula, não só porque a campanha eleitoral de segundo turno no Rio Grande do Sul, contra Olívio Dutra (PT), foi muito tensa, mas porque Yeda foi uma liderança tucana que, no Congresso, não deu tréguas ao PT. É dela, por exemplo, a ação na Justiça que tenta proibir a cobrança, nas folhas de pagamento do Estado, das contribuições de servidores públicos ao PT.

Mas a gaúcha se mostrou disposta ao diálogo. Ela já conversou por telefone com Lula, falou de suas preocupações com a situação do Estado, que, entre os 27 da União, é o que compromete a maior fatia da receita para pagar a dívida com a União e o que tem menor disponibilidade de recursos para investimentos. A governadora eleita não se dá bem com Olívio Dutra, mas tem um bom relacionamento com o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, o que facilitou o diálogo.

Lula quer também ter uma relação próxima com o único governador eleito pelo PFL, o atual deputado José Roberto Arruda, que assumirá o governo do Distrito Federal em 1º de janeiro. Na segunda ou terça-feira o presidente receberá Arruda para uma primeira conversa sobre a situação de Brasília.

Quase toda a arrecadação do DF tem origem nos repasses do governo federal, como o Fundo de Participação dos Estados (FPE), o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), dinheiro para o custeio do Judiciário e do Ministério Público e o Fundo Constitucional do Centro-Oeste, que repassa R$ 4 bilhões anuais para Brasília.
Estadão

3.11.06

'Operação abafa é fantasia', diz superintendente

Para Araújo, delegado Bruno mentiu ao depor sobre prisão de Gedimar e Valdebran e precisa de tratamento

O superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Geraldo José de Araújo, afirmou ontem que são falsas e fantasiosas as afirmações feitas pelo delegado Edmilson Pereira Bruno ao Ministério Público Federal sobre uma suposta 'operação abafa' após a prisão dos petistas envolvidos com a compra do dossiê Vedoin. Para ele, as acusações de Bruno têm 'conotação política'.

O delegado Bruno foi o responsável pela prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha, no dia 15 de setembro, no Hotel Ibis Congonhas, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão. No depoimento prestado em 23 de outubro, ele afirmou aos procuradores que o superintende da PF e o delegado Severino Alexandre teriam demonstrado preocupação quanto ao caso. Bruno acrescentou que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi avisado por São Paulo sobre a prisão e quis saber se o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia sido envolvido.

'Isso tudo é fantasia da cabeça desse rapaz', rebateu o superintendente da PF ontem. 'Eu não sei o que está acontecendo com o Bruno. Espero que ele se recupere logo e volte ao seu estado normal. Ele precisa se tratar.'

Araújo confirmou que recebeu um telefonema de Bastos - e não que teria ligado, como diz Bruno -, mas negou que tenham falado sobre o presidente. 'É a coisa mais normal quando tem alguma operação de repercussão o ministro querer tomar conhecimento. O ministro ligou para mim, mas não foi conversado nada demais. Nunca houve nada sobre o presidente da República.'

Araújo negou ainda que Bastos tivesse feito qualquer pedido para que os envolvidos não ficassem detidos. 'Nunca houve isso. Ele está interpretando uma conversa sem saber o que foi falado. Como ele pode saber o que meu interlocutor falava do outro lado da linha?'

Para Araújo, 'salta aos olhos a conotação política' das afirmações do delegado. 'Não dá mais para confiar no Bruno. Cada hora ele apresenta uma versão diferente. Nem a imprensa está mais dando crédito para ele.'

PROCESSO

Além disso, Araújo negou que Bruno esteja sendo perseguido dentro da PF e não tenha direito à defesa. É que o delegado é alvo de um processo administrativo interno por causa do vazamento das fotos do dinheiro apreendido com os petistas.

'É mentira que ele está sendo perseguido e não tem direito de defesa. É exatamente o contrário, ele se recusa a receber a intimação para apresentar sua defesa no processo administrativo', explicou Araújo.

O superintendente da PF também desqualificou as afirmações feitas pelo delegado Bruno de que tenha sido afastado do caso da compra do dossiê. 'Isso não é verdade, ele não poderia ter sido afastado do caso porque o caso nunca foi de São Paulo. Essa é uma investigação de Cuiabá', afirmou. 'Ele era um mero plantonista que atendeu a uma ocorrência e, justiça seja feita, trabalhou muito bem naquele dia.'
Estadão

Polícia oferece delação premiada a dono da Vicatur

Ribas não aceitou acordo, que tem como vantagem a diminuição da pena; prazo da PF está acabando

Correndo contra o tempo, a Polícia Federal decidiu apostar na delação premiada para fazer prova contra quem encomendou os dólares que o PT reuniu para adquirir o dossiê Vedoin.

Os benefícios da delação foram oferecidos a Fernando Ribas, sócio-proprietário da Vicatur, casa de câmbio da Baixada Fluminense que mobilizou família de laranjas para repassar US$ 109,8 mil aos quadros do PT envolvidos na trama. Essa quantia representa menos da metade do total em dólares - US$ 248,8 mil - apreendidos em 15 de setembro com Gedimar Passos e Valdebran Padilha, negociadores do dossiê.

Punição mais branda e outras vantagens é o que a PF oferece a Ribas. Mas o doleiro resiste, em nome do pacto de silêncio que marca as atividades do mercado negro da moeda americana.

A delação é legal, recentemente adotada pelo Brasil no combate a organizações criminosas. A polícia pode acenar com esse recurso em favor do investigado, mas cabe ao juiz a eventual homologação do acordo. A proposta foi feita na semana passada, em conversa com policiais que antecedeu o seu indiciamento. A PF o acusa de crime contra o sistema financeiro - operações fraudulentas de câmbio. A colaboração pode ser negociada em qualquer fase da apuração.

A polícia já dispõe de dados sobre quem fez a encomenda dessa parte da bolada de R$ 1,75 milhão que o PT juntou para adquirir o material contra tucanos. A suspeita cai sobre um petista histórico, que trabalha em Brasília. Sem provas, propôs a delação premiada e, simultaneamente, formalizou pedido à Justiça para quebra do sigilo telefônico da Vicatur e de seus controladores. Por esse caminho espera confirmar a identidade do personagem que teve a incumbência de arrecadar os dólares.

A delação será oferecida a outros doleiros. O prazo da PF para desvendar o escândalo é exíguo - tem pouco mais de três semanas para encerrar a investigação.

CASAS DE CÂMBIO

Os federais miram mais quatro casas de câmbio como possíveis fornecedoras do segundo lote de dólares (US$ 139 mil). A PF obteve na Justiça autorização para abrir o sigilo de operações de câmbio dessas instituições. Os documentos estão sendo analisados pelos investigadores.

'Parte dos dólares americanos estava com numeração seqüencial', anotou o delegado que preside o inquérito, Diógenes Curado, em relatório enviado ao juiz Jeferson Schneider, da 2ª Vara Federal de Cuiabá. Segundo os EUA, as séries de notas entraram no Brasil através do Banco Sofisa. 'Até aquele momento, havia um controle sobre a numeração das cédulas', destacou o delegado.

O banco vendeu a corretoras, que passaram o dinheiro às casas de câmbio, que fizeram a venda a particulares. 'Em todo esse caminho não existiu mais controle das notas e, pior, começaram a surgir fraudes para esconder a real operação', disse.
Estadão

2.11.06

Bolívia sofre com êxodo em massa

Milhares enfrentam caos para conseguir passaporte e deixar país em busca de vida melhor

Numa viela, sob o sol quente e ar escasso de La Paz, milhares de bolivianos enfrentam o caos em busca de um documento - o passaporte. É com ele que os pobres e remediados nutrem o sonho de dar a si e a sua família uma vida que a Bolívia jamais lhes permitiu.

São horas, são dias numa rotina dura em frente ao Serviço Nacional de Migração, órgão governamental encarregado de permitir aos bolivianos a fuga do país. 'Calma, calma!', grita um oficial da Polícia Nacional, diante do prédio apertado e escuro onde funcionários tentam dar conta de atender aos futuros exilados econômicos.

O presidente Evo Morales prometeu emprego, dignidade, uma revolução social. 'Evo fala muito', resume Romer Quisbert, estudante de ciência política na Universidade de La Paz. Por enquanto, ele quer ficar na Bolívia, mas enfrentava o sol ardente quase no final da fila para pegar documentos para uma prima, esta sim, de malas prontas para a Europa. Quisbert, desde as 6 da manhã, estava no mesmo ponto de quando chegou: em frente à sede da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), a estatal sobre a qual repousa agora a esperança de alento econômico capaz de frear tamanho êxodo. Falta trabalho e renda neste país castigado pela história de desajustes econômicos.

Lorenzo Quispe, de 27 anos, não quer ficar no país. Prepara-se para ser um emigrante reincidente. No começo do ano, para vencer o desemprego e a falta de perspectiva, enfrentou uma jornada. Aceitou ir a São Paulo para ser mão-de-obra barata e ilegal nas confecções do bairro do Bom Retiro.

PRECONCEITO

'Trabalhei durante quatro meses e não suportei', conta Quispe. 'Trabalho duro, 18 horas por dia.' Pior do que isso era o preconceito. 'Cachorros bolivianos que vêm tirar emprego dos brasileiros' - essa era uma das ofensas ouvidas por Quispe. Suportou calado, mas preferiu voltar.

Agora, ele se prepara para sair de novo. As promessas de Evo não o convenceram a ficar. 'Talvez um dia, mas hoje não vejo nada', diz Quispe. Agora, pensa mais alto. Tenta obter um passaporte para ir à Espanha. A relação entre Bolívia e Espanha é a mesma existente entre Brasil e Portugal. A Espanha, ex-colonizadora, é a esperança dos bolivianos de entrar na Europa, ter emprego e dignidade. Cerca de 1.500 bolivianos chegam todos os meses à Espanha.

Ghuilmar Benítez, de 23 anos, é outro boliviano que amplia as estatísticas deste êxodo. Em 8 de agosto, Benítez embarcou rumo à Espanha. Sonho frustrado. Esse jovem teve de voltar no dia seguinte, deportado, para seu país. Refeito do baque, Benítez prepara nova tentativa. Ele trabalha em cafezais. A família ganha, por ano, cerca de 3 mil pesos bolivianos (R$ 1 mil). Na Espanha, amigos ganham 70 por dia, mais do que a remuneração média mensal em La Paz.

David Carrillo, de 40 anos, quatro destes vividos na Espanha, é a prova do que o conterrâneo imagina. Também estava no caótico prédio da migração. Tentava tirar o passaporte de toda a família. 'Voltei para levar todos, será melhor', diz.

A filha, Yomar Carrillo, aguardava na fila o momento de tirar a fotografia que será estampada no passaporte.

E num último esforço do Estado boliviano em demover a jovem da decisão de largar o país, o funcionário do Serviço de Migração pede para ela olhar a bandeira da Bolívia. Yomar olha e... flash! A Bolívia dá adeus a mais um boliviano.
Estadão

1.11.06

Volta a truculência!!!

Passada a eleição, grupos governistas ensaiam campanha para intimidar a imprensa livre e coibir o direito à informação

CONFIRMA-SE o ceticismo a respeito da brandura que marcou a atitude da campanha de Lula para com a imprensa no segundo turno. Um verniz de humildade substituíra a arrogância, o desapego à prestação de contas e a truculência do petismo governista enquanto interessava ao cálculo eleitoral. Fechadas as urnas, setores da militância do PT puseram em marcha uma campanha que tenta intimidar meios de comunicação independentes.
Na segunda-feira, um grupo de petistas -muitos dos quais gozando de prebendas no funcionalismo federal- se arrogou o direito de fazer uma "triagem" dos jornalistas que cobriam o primeiro retorno de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio da Alvorada como presidente reeleito. Um repórter foi agredido.
Particularmente grave foi o episódio de ontem em que um delegado federal usou um inquérito interno como pretexto para intimidar jornalistas da revista "Veja". Mandou às favas o direito de uma repórter de consultar seu advogado. A intenção do policial era a de, ao feitio das ditaduras, enviar um "recado" aos responsáveis pelo semanário.
Não surpreende a hostilidade. Durante mais de um ano, lideranças e "intelectuais" do PT, para não mencionar o próprio presidente Lula, acalentaram a farsa de que os flagrantes de corrupção sistêmica em seu governo teriam sido fruto de uma conspiração da mídia.
Nos incautos que esperavam uma mudança agora, após a refrega do dossiegate, Marco Aurélio Garcia desferiu um choque de realidade. O presidente do PT repudiou a violência de militantes em Brasília, mas não se esqueceu de dar um "conselho" à imprensa. Sugeriu "auto-reflexão" à mídia, afirmando que ela deve ao país a informação de que o mensalão não existiu.
Às páginas 11 e 12 de denúncia assinada em 30 de março pelo procurador-geral da República, lê-se que uma quadrilha, integrada por membros da cúpula do governo e do PT, agia em plano federal com o objetivo de "garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores mediante a compra de suporte político de outros partidos".
"Auto-reflexão" deveriam ter feito o PT e o governo. As cúpulas de ambos desmoronaram, mas a necessária depuração dos métodos e dos quadros não ocorreu. Sobreveio, como filho da impunidade, o escândalo do dossiê. Mais uma série de cabeças petistas rolou, mas a lição ainda não foi assimilada.
Lideranças do PT continuam a alimentar a ira de correntes partidárias descompromissadas com a soberania das leis. Envereda pelo mesmo caminho o governador Roberto Requião, conhecido pela boçalidade, que inventou um complô de veículos de comunicação para explicar sua reeleição apertadíssima no Paraná.
O que essas manifestações de hostilidade ameaçam é muito mais do que a imprensa: é o direito da sociedade de ter livre acesso à informação e à opinião. A pretexto da vitória legítima de Lula, tentam silenciar o jornalismo crítico. As urnas não outorgaram nenhum tipo de anistia para os crimes cometidos pelos companheiros do presidente.
Ainda há muito a esclarecer.
Folha

30.10.06

Desabafo de uma mulher de bem.

Ao acabar a campanha de segundo turno para presidente,cabe um agradecimento a todos os brasileiros e parabenizar aqueles que mantiveram e trouxeram novos valores e talentos para a política nacional. Parabéns aos brasileiros que com muita honra no último dia 1º de Outubro elegeram grandes pessoas e grandes estadistas para nos representar durante 08 anos no senado e 04 anos câmara federal:
Fernando Collor, José Genoíno, João Paulo Cunha, Antonio Palocci,Paulo Maluf, Jarder Barbalho, Clodovil Hernandes, Luiza Erundina, Frank Aguiar, Ricardo Berzoini, José Mentor, Valdemar Costa Neto. Essa é apenas uma parte da lista de pessoas
de "grande caráter e capacidade" para representar a política de nosso país nesses próximos anos. PARABÉNS BRASILEIROS!!!!!!!!!

Vergonha, como votam num costureiro que em uma entrevista na TV diz: "Não sei, só sei que lá não se faz política, vou até lá pra ver o que acontece". (Clodovil, ao ser perguntado o que vai fazer em Brasília). E para completar a lista de politicos "honrados", reelegeram lula.
Se depois de tanto tempo de problemas e corrupção em nosso país, o povo ainda não aprendeu, ao menos mostrou que realmente deseja continuar na MERDA e viver sempre sendo
enganado e sendo feito de IDIOTA por aqueles que se dizem nossos representantes... PARABÉNS BRASILEIROS!!!
Sabia que a memória dos brasileiros era curta, mas isso foi demais com certeza!!!
lula não ganhou a eleição. O povo brasileiro é que perdeu.

Perdeu a vergonha na cara, a noção de responsabilidade, de honestidade, de decência. Assinou um atestado público e inconteste de sua condição inferior, de sua nulidade como povo, demonstrando mais uma vez que não passa de um povinho, uma nação menor. Votando neste delinqüente cínico, que com sua quadrilha aviltou todas as instituições nacionais, esse povinho se tornou cúmplice. Como elles gostam de dizer, o povinho deu seu "aval".
E se já roubavam, mentiam e corrompiam antes, podemos imaginar o que virá pela frente. Assumiu assim o povinho brasileiro, sua real vocação: o cinismo, a desonestidade, a safadeza,
a ganância, a inveja, o despeito. Tudo que pareça bom e justo deve ser banido, para que reinem absolutas, a corrupção, a impunidade, a ganância, o engodo. O povinho nada mais fez que eleger um seu igual, um seu real representante:
sórdido, mesquinho, vulgar, corrupto, recalcado, menor.
Em todos os sentidos. lula não ganhou a eleição. Tomou a força. Na marra. Movimentando descaradamente a máquina pública, desfalcando os cofres públicos, enganando, mentindo,
corrompendo. E que com isso, se pare de uma vez por todas de endeusar esse "ente" enigmático a que chamam povo.
Povo é uma coisa, gentalha é outra, e infelizmente, o Brasil desgraçamente é formado em sua maioria por gentalha.
Mãe do Brasil - de luto, envergonhada pela constatação do óbvio: o povinho brasileiro não vale nada mesmo. Regina

29.10.06

Ele mora em Brasília e tem ligações com o PT!!!

Dólares para dossiê Vedoin foram pedidos por petista, afirma PF

Polícia pede quebra de sigilo telefônico dos donos da casa de câmbio de onde saíram U$ 248,8 mil apreendidos

A Polícia Federal já descobriu que quem encomendou parte dos US$ 248,8 mil na Vicatur Casa de Câmbio e Turismo, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, mora em Brasília e tem estreitas ligações com o PT. Para reunir provas contra o arrecadador do dinheiro - R$ 1,75 milhão de origem criminosa que seria usado para a compra do dossiê Vedoin -, a PF pediu a quebra do sigilo telefônico dos proprietários da Vicatur, Fernando Ribas Soares e Sirley da Silva Chaves. A operação mobilizou um grupo de laranjas profissionais residentes em Magé (RJ) e Ouro Preto (MG).

A consulta a esses documentos vai permitir a identificação do momento exato em que a operação foi montada e os seus desdobramentos. A investigação federal avalia o rastreamento como passo essencial para fechar o cerco a outros nomes do PT, ainda não citados no inquérito do dossiê. Os investigadores também acreditam que o levantamento vai apontar outras operações fraudulentas de câmbio, eventualmente realizadas pelo grupo petista.

Há sete anos os laranjas recrutados pela Vicatur emprestam seus dados pessoais para o fluxo ilegal de dólares. Ao delegado federal Washington Clarck os laranjas confessaram essa rotina de atos lesivos ao sistema financeiro nacional.

O delegado Daniel Lorenz, superintendente regional da PF em Mato Grosso, onde estão concentradas as investigações sobre o dossiê Vedoin, afirmou que não há mais dúvidas de que os dólares que saíram da Vicatur são os mesmos encontrados no Hotel Ibis, em São Paulo, onde foram presos, dia 15 de setembro, Gedimar Passos e Valdebran Padilha - recrutados pelos petistas para negociar o dossiê - de posse do R$ 1,75 milhão.Os maços de dólares integravam o total apreendido.

Sirley e Soares, os sócios da Vicatur, já foram indiciados pela Polícia Federal, quinta-feira, por crimes de falsificação de documentos (Artigo 304 do Código Penal) e fraude em operação de câmbio (Artigo 21 da Lei de Crimes Financeiros). Eles são acusados de fraude na venda dos dólares. Podem pegar de três a dez anos de prisão, mais multa.
Estadão

27.10.06

Padeiro conta tudo!!

PF investiga em Minas padeiro que diz ter levado R$ 250 mil a petista

Em entrevista a jornalistas de Pouso Alegre, Aguinaldo Delino disse que entregou dinheiro a Hamilton Lacerda

Ouvido ontem por policiais, padeiro disse em gravação que parte dos recursos passou por sua conta, mas não apresentou extratos


A Polícia Federal investiga o teor de uma entrevista gravada em vídeo pelo padeiro Aguinaldo Henrique Delino, 31, na qual ele afirmou ter ajudado a transportar R$ 250 mil de Pouso Alegre (MG) para São Paulo (SP) para entregar a uma pessoa que ele identificou como o petista Hamilton Lacerda, perto do hotel Ibis, em São Paulo, pouco antes da apreensão de R$ 1,7 milhão pela PF.
Delino foi interrogado ontem por uma equipe da PF de Varginha (MG). No vídeo, gravado há cerca de 20 dias por jornalistas do site da internet TV Uai e do "Jornal do Estado", de Pouso Alegre, o padeiro afirmou que o promotor de eventos Luiz Armando Silvestre Ramos, para quem trabalhou há um ano, pediu para usar sua conta bancária para receber uma transferência eletrônica de R$ 80 mil no último dia 10 de setembro.
O dinheiro, que teria vindo de empresa do interior de São Paulo, foi sacado um dia depois no Bradesco. Ramos teria sacado mais R$ 170 mil da conta de sua empresa, a Produções SR Silvestre Ramos Rodeio Show, que está desativada há um ano.
Indagado se o padeiro confirmou os saques em seu depoimento, o delegado da PF Daniel Daher afirmou à Folha que sim. Sobre a entrega, Daher disse que só conversaria com a imprensa após tomar depoimentos que começaram às 18h30 e continuavam até o fechamento desta edição. A PF não recebeu extrato de Delino que comprovaria a operação.
Depois dos supostos saques, Ramos teria chamado Delino para ir a São Paulo, acompanhado de dois seguranças. "Ele me convidou, se eu queria ir com ele, aí eu peguei e fui. [Em São Paulo,] a gente chegou perto do hotel, do hotel Habib's, Ibis, e sentamos numa padaria. Ficamos lá, aí ele [Ramos] ligou no celular. Aí passou um tempo e chegou um rapaz lá, um carro com mais uns seguranças. Aí o Silvestre saiu da padaria, encontrou ele, e passou o dinheiro pra ele", descreveu.
Ao ver na TV o noticiário sobre o dossiê, o padeiro afirmou ter reconhecido Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha do candidato derrotado ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante (PT).
"Aí eu vi aquele, o Hamilton Lacerda. Eu comentei com a minha família: "Nossa, fui a São Paulo, junto com meu patrão, e levamos dinheiro pra esse rapaz aí'", disse Delino, no vídeo.
Segundo o padeiro, ele decidiu então procurar a imprensa de Pouso Alegre. "Eu fiquei com medo de ser preso, porque usam minha conta para fazer um depósito e passou para o rapaz que apareceu na televisão."
Os seguranças citados por Delino estavam sendo ouvidos pela PF no final da noite de ontem. Eles disseram à imprensa que não conhecem nem o padeiro nem Ramos.
O empresário Silvestre Ramos, procurado ontem pela Folha, não foi localizado.
No depoimento que prestou à PF de São Paulo, Lacerda negou envolvimento com a tentativa de compra do dossiê contra tucanos por petistas.
Folha

26.10.06

Aposentado nega participação

'Não tenho nada com isso', diz aposentado sob investigação
Chefe da família que consta como sacadora dos dólares nega envolvimento e teme por sua segurança

Sob a placa com o nome de sua pequena chácara, Sítio Rancho Alegre, Levy Luiz da Silva, de 72 anos, chorou ao falar com o Estado anteontem sobre o fato de o seu nome e os de seu filho, Levy Luiz da Silva Filho, de sua mulher, Demilde Gomes da Silva, e de outros parentes aparecerem na lista de sacadores de dólares da Vicatur, em Nova Iguaçu. Aposentados, Levy e Demilde vivem na zona rural de Magé, numa casa simples.

Ao saber do motivo da reportagem, a família ficou amedrontada. A filha deles, Denise, que não está na lista, contou que os pais são hipertensos e ficaram nervosos ao serem informados da possibilidade de terem tido o nome usado no caso. Depois de muita insistência, apenas o patriarca, Levy, aceitou conversar com o Estado, mas pediu que não fossem feitas fotos.

Homem simples e franzino, disse que trabalhou 32 anos como agente de portaria do Ministério das Relações Exteriores no Rio. Com três anos de licença-prêmio, aposentou-se. Há dois anos, comprou o sítio e ainda trabalha como agricultor. Frisou que sempre teve muito cuidado para manter seu nome limpo e nunca viu uma nota de dólar. 'Como posso ter sacado dólares? Há 12 anos não recebo aumento', afirmou. 'Sempre tive muito capricho com meu nome. Sempre prezei minha honestidade', completou.

Levy contou que tem acompanhado pela TV as notícias sobre a investigação da origem do dinheiro do dossiê Vedoin. Ouviu que uma família poderia ter sido usada como laranja, mas disse nunca ter imaginado que pudesse ser a sua. Sem conter as lágrimas, afirmou temer que seus parentes paguem por crimes de poderosos. 'Vi na TV que estão procurando laranjas, mas não sou eu que estou por trás daquilo. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Eu sou o lado mais fraco. Não tenho nada com isso, mas estou preocupado. Neste País, sempre o pequeno paga tudo. E eu sou um pequeno.'

Assim como o filho, Levy diz não ter idéia de como os dados dos documentos foram parar na Vicatur. 'Não sei. Mesmo quando a gente vai numa loja comprar algo, pedem documentos', especulou. O aposentado também relatou não se lembrar de algum familiar que tenha perdido documentos e afirmou não possuir nenhuma relação com políticos. 'Nem gosto de políticos. Voto porque é meu dever.'
Estadão

25.10.06

Escândalos acompanham donos da Vicatur

Um deles chegou a ser denunciado no esquema PC, mas foi absolvido

Dona da Vicatur Câmbio e Turismo, agência em Nova Iguaçu que, segundo a Polícia Federal, foi responsável pela venda dos US$ 248,8 mil apreendidos com os petistas que comprariam o dossiê Vedoin, a família Ribas Soares já se envolveu em outros escândalos financeiros desde os anos 90. Um dos irmãos chegou a ser acusado em investigação contra Paulo César Farias, tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor.

Em 1995, Jorge Ribas Soares Júnior foi denunciado no processo contra doleiros que ajudaram PC Farias a movimentar dinheiro de caixa 2 obtido na campanha de Collor à Presidência em 1989. Como sócio da Cambitur, antecessora da Vicatur, foi acusado de 'atribuir ao 'fantasma' Francisco Martins de Souza falsa identidade para a realização de operação de câmbio'. Mas nas alegações finais do processo, o Ministério Público pediu sua absolvição, concluindo que não havia provas de sua participação nas fraudes.

Mas ele teve 2 condenações. Em 1994, foi aberta investigação por conta da remessa ilegal de US$ 63,8 milhões da Cambitur para o Uruguai, por contas CC-5, com ajuda dos uruguaios Gonzalo Alvarez Mourele, procurador da empresa uruguaia Guide Financeira, e Ramon Vila Vazquez, ex-operador da Cambitur. O juiz Wilson José Witzel, da 8ª Vara Federal Criminal, condenou Soares Júnior a 6 anos e 8 meses de prisão e os outros a 5 anos. Na sentença, ele diz que a empresa 'servia apenas como fachada para que os responsáveis pela Cambitur realizassem a lavagem de quantias cuja procedência não havia como justificar'. Soares Júnior foi condenado à revelia: desde 1997 vive em Estoril, Portugal.

A outra condenação é por estelionato, a 4 anos de reclusão. Ele foi acusado de fraudar o resgate de FGTS de um ferroviário, no valor de R$ 10,3 mil, falsificando documentos junto à Caixa Econômica Federal.

FALSA IDENTIDADE

Seu irmão, Fernando Manoel Ribas Soares, sócio majoritário da Vicatur, já estava sendo investigado por vender dólares a pessoas com falsa identificação antes de ser envolvido no caso do dossiê Vedoin. Em 2003, apuração do Banco Central descobriu que a empresa vendeu dólares a pessoas físicas fictícias, ou laranjas, crime previsto na Lei do Colarinho-Branco. A Procuradoria da República do Rio pediu então abertura de inquérito à PF em Nova Iguaçu.

A Delegacia de Combate aos Crimes Financeiros da Polícia Federal no Rio começou outra investigação, pelos mesmos motivos, este ano. No dia 11 de setembro, o procurador André Coutinho deu mais 120 dias para a PF concluir a investigação. Até ontem, porém, o inquérito permanecia na procuradoria à espera da polícia.
Estadão

PF está com excesso de trabalho!

PF só pretende intimar laranjas depois da eleição

Órgão alega que tem excesso de trabalho e que não se pauta pela votação; meta agora é saber se compradores dos dólares 'alugaram' os CPFs

A Polícia Federal só vai intimar depois da eleição os laranjas que adquiriram os US$ 248,8 mil dólares usados na frustrada tentativa de compra do dossiê Vedoin. Segundo a PF, o volume de trabalho tem sido avassalador e a instituição tem que pautar sua atuação conforme a conveniência da investigação e não pelo calendário eleitoral.

Para dar uma idéia do volume de trabalho desse inquérito, a PF informou que foram processadas 1,6 milhão de transações financeiras, a partir do cruzamento de 43,7 mil contas. No total, foram processados 66,2 mil dados. Desde o início da investigação, foram rastreadas 2,8 milhões de chamadas telefônicas de 56 mil aparelhos. Dessas ligações, 380 mil partiram ou se destinaram à Presidência da República.

O principal objetivo do inquérito, nesta nova etapa, é desvendar a origem do R$ 1,75 milhão - destinado à compra do dossiê - apreendido em poder dos petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha num hotel de São Paulo, em 15 de setembro. A origem dos dólares está praticamente desvendada.

Segundo a PF, a maior parte do dinheiro estrangeiro foi adquirida por um grupo de cinco a nove pessoas de uma mesma família, na Vicatur Câmbio e Turismo, de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Pobre e sem meios para justificar operação dessa monta, a família seria do município de Magé.

O objetivo da investigação agora é descobrir se eles 'alugaram' seus CPFs ou tiveram os nomes usados indevidamente pelos petistas e se os donos da empresa que vendeu os dólares tinham conhecimento da operação.

Autorizada a operar com câmbio de moeda estrangeira desde 1999, a Vicatur foi objeto de uma comunicação do Banco Central ao Ministério Público do Rio, por suspeita de irregularidade em operações de câmbio.

Em alguns casos, as pessoas nem sequer sabiam que seus nomes tinham sido usados nas operações na agência.
Estadão

PF ouve "laranja"

Laranja ouvido pela PF diz que não soube de compra de dólares

Venda de moeda foi realizada pela casa de câmbio Vicatur, uma das investigadas pela Polícia Federal no caso do dossiê contra tucanos

PF analisa dados de 66.256 pessoas, 56.047 números de telefone e 2.828.000 chamadas, milhares delas para o Palácio do Planalto

A Polícia Federal ouviu pelo menos um dos laranjas cujos nomes foram utilizados para comprar dólares supostamente usados por petistas na tentativa de compra de um dossiê contra os tucanos.
O laranja ouvido negou ter conhecimento da compra de dólares feita em seu nome, em uma operação realizada pela casa de câmbio Vicatur, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
A pessoa ouvida pelos policiais é integrante de uma família pobre, que tem oito de seus integrantes registrados como compradores de dólares em operações com a Vicatur investigadas pela PF. Os demais laranjas devem prestar depoimento ainda nesta semana.
Além da Vicatur, são alvos preferenciais da PF as casas de câmbio Diskline e Travel, em São Paulo, e a Centaurus, em Florianópolis.
Por meio dessas empresas, suspeita a PF, passaram US$ 110 mil em notas seriadas, lote que faz parte do R$ 1,75 milhão em dólares e reais que seriam utilizados para comprar o dossiê, mas foram apreendidos em 15 de setembro, no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo.
Os nomes dos laranjas fazem parte de uma base de dados montada pela PF especificamente para investigar a negociação do dossiê contra políticos tucanos.
A análise das informações envolve dados relativos a 66.256 pessoas, 56.047 números de telefones e 2.828.000 chamadas de sigilo telefônico.
As sucessivas quebras de sigilo telefônico, no período entre 15 de agosto e 15 de setembro, revelaram que os suspeitos e as pessoas com as quais se comunicaram receberam do Palácio do Planalto e fizeram para o local 380 mil ligações telefônicas. A PF investiga com quem do governo os suspeitos de negociar o dossiê conversaram.
O lado financeiro da investigação trabalha, no mesmo sistema -chamado de "Arquivo X"-, com dados de 43.778 contas bancárias, 1.580.094 transferências financeiras, além de 311.039 contratos relativos à compra de lotes superiores a US$ 10 mil.
Os números vão aumentar ainda mais. Ontem à noite, a PF começou a alimentar o "Arquivo X" com dados sobre contratos de compra de dólares em valores inferiores a US$ 10 mil. O novo pedido de informações foi feito ao Banco Central porque há suspeita de que as compras destinadas ao negócio com o dossiê tenham sido mais pulverizadas do que o limite de US$ 10 mil que havia sido fixado para a quebra de sigilo pedida à Justiça anteriormente.
Folha

24.10.06

Geraldo, Lula e as elites

Se comparações podem ser feitas, muito mais Lula do que Geraldo Alckmin representa os interesses das elites

"Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade." (Joseph Goebbels)

Segundo a campanha petista, Geraldo Alckmin seria o candidato das elites, enquanto Lula representaria os pobres deste país. Quais são os fatos?
Geraldo é de família de classe média, tem formação universitária e desde jovem atua na vida política exercendo diversos cargos eletivos, sempre do lado certo.
Lula tem origem de família pobre do Nordeste, tem pouca formação escolar, veio para São Paulo como milhões de migrantes nordestinos e chegou a líder sindical. Quanto à origem e à formação, Geraldo faz parte da elite intelectual do país. Lula, não, porque não quis. Tempo e condições não lhe faltaram.
Contudo, Lula teve mais acesso aos bens materiais -e propriamente ao poder- que Geraldo, pois comandou um dos maiores sindicatos da América Latina. Conheceu o inescrupuloso jogo do poder que utiliza com maestria na função que exerce. Aprendeu a trocar favores para manter lealdades.
Lula não é mais aquele homem pobre e humilde de outrora. No exercício do poder federal, atendeu interesses de grandes grupos empresariais, que por isso o apóiam, e de centenas de membros da elite sindical, que deixaram a sua função para se refestelar em cargos públicos.
Enquanto membros da família de Lula, em tenra idade, passaram a possuir patrimônio invejável por meio da associação com grandes grupos concessionários de serviços públicos, Geraldo e família continuam com vida modesta. Se comparações podem ser feitas, muito mais Lula do que Geraldo representa os interesses das elites.
No governo anterior, o Bolsa-Escola era a contrapartida para possibilitar que famílias abaixo da linha da pobreza mantivessem seus filhos na escola. Criavam-se, assim, as condições para seu desaparecimento no tempo, quando os filhos já não estivessem em idade escolar ou quando a obtenção de um emprego tornasse desnecessária a ajuda. O Bolsa Família, instituído por Lula, é assistencialismo puro, provoca dependência permanente.
Para as elites dominantes, particularmente no Nordeste, não interessa a incorporação de milhões de pessoas à cidadania. Melhor é mantê-las -em troca de um punhado de reais- na exclusão e na ignorância, como massa de manobra.
No que diz respeito às estatais, as elites empresariais e sindicais sempre influenciaram fortemente as suas ações. As empresas telefônicas estatais, por exemplo, pouco produziam.
Só serviam, pelos fundos de pensão, aos interesses de seus próprios funcionários, dos líderes sindicais e, principalmente, de seus dirigentes, lá colocados por interesses políticos. Nelas se enraizavam os grupos econômicos privados que sugavam seus recursos de forma predatória.
A Vale do Rio Doce, por sua vez, era pouco lucrativa e pouco colaborava com o esforço exportador na área mineral. Em uma mina da empresa, no Pará, ouvimos dos gerentes que os baixos investimentos e as limitações impostas à empresa, por ser estatal, impediam seu crescimento. Hoje, privada, tem alta lucratividade e é uma das maiores exportadoras do mundo.
O mesmo vale para a Embraer e as usinas siderúrgicas. Não fosse a privatização, as exportações seriam bem menores, e os nossos índices de crescimento, ainda mais medíocres. Outras empresas estatais não foram e não devem ser privatizadas, porque não convém ao país.
Quando da quebra do monopólio estatal do petróleo, o PT alardeava que queríamos privatizar a Petrobras. Sugeri, então, ao presidente FHC -e ele o fez- a redação de um compromisso, o qual foi lido nos plenários da Câmara e do Senado, de não privatização da estatal. Foi respeitado o interesse nacional, pois a Petrobras, além de grande fornecedora de recursos ao caixa da União, não podia deixar de ser um monopólio estatal para se tornar um monopólio privado.
O Banco do Brasil também não deve ser privatizado por ter funções públicas que o diferenciam de um banco com objetivos puramente comerciais. Cada caso é um caso. Fora disso, é oportunismo eleitoral.
Lula nos acusa de defendermos projetos que não temos, como, aliás, o PT fez há quatro anos, quando nos acusou de aprovarmos leis eliminando direitos trabalhistas. São adeptos de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do regime nazista.
A ausência de escrúpulos é uma característica de parte das elites econômicas e sindicais, que privilegiam os ganhos nos negócios e o enriquecimento pessoal. Quando se juntam para transformar-se em poder político, sob o comando de um presidente com as mesmas concepções morais, é o país que sofre.
ALBERTO GOLDMAN

Petistas têm o direito de mentir!!!

Wagner diz que petistas do dossiê Vedoin têm o direito de mentir
Um dos coordenadores da campanha de Lula, governador eleito afirma que eles são 'cidadãos que se abrigam na lei'

Depois de acusar o PSDB de insistir no 'samba de uma nota só', o governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), admitiu ontem que os petistas acusados de tentar comprar o dossiê Vedoin podem estar mentindo em seus depoimentos à Polícia Federal quando dizem não saber de onde veio o dinheiro (R$ 1,75 milhão) que seria usado na negociação do material destinado a envolver políticos tucanos com a máfia dos sanguessugas.

'Ao réu é dado o direito de mentir, então não acho que o réu petista seja diferente de outros réus', afirmou o governador eleito da Bahia, que integra o time de coordenadores da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. 'Atestado de idoneidade não vem com ficha de filiação partidária. É uma coisa anterior.'

Wagner disse acreditar que os seis petistas envolvidos no escândalo foram 'induzidos por uma armação'. Não esclareceu quem teria montado a trama, mas insinuou participação de integrantes do PSDB - embora o dossiê fosse contra os próprios tucanos. Falou em 'lambança' e 'burrice', mas afirmou que, mesmo causando desgaste à campanha de Lula, os petistas têm 'o direito' de mentir.

'Eu não estou defendendo que eles mintam. Estou dizendo que eles estão usando do direito, concedido pela lei, de que o réu não é obrigado a dizer toda a verdade. Se não fosse assim, seria simples descobrir os crimes. Eu posso estar com toda indignação em relação a esses que produziram tanto desgaste na reta final da campanha do presidente, mas, antes de eles serem petistas, são cidadãos brasileiros que se abrigam na lei', argumentou.

O futuro governador baiano fez questão de destacar que não engrossa as fileiras dos que pregam atenuante para companheiros unicamente pelo fato de serem do PT. Para ele, a legenda não dá salvo-conduto a ninguém porque honestidade não se aprende em partido. Em uma demonstração de que pretende baixar a temperatura da campanha, Wagner também lançou afagos na direção dos opositores.

'Reconheço no PFL e no PSDB pessoas íntegras, assim como reconheço que dentro do PT possa haver pessoas que não tenham essa mesma integridade', observou ele. 'Isso a gente traz de outro lugar. O partido pode ajudar a manter ou pode deteriorar, mas o fato é que vem de outra praia.'

SHERLOCK

Sentado diante de um painel gigante de Lula, no comitê da reeleição, Wagner disse que nunca gostou do mundo da arapongagem. Questionado se parecia crível que o presidente não soubesse da negociação para a compra do dossiê Vedoin, tendo tantas pessoas de seu círculo íntimo envolvidas no escândalo, ele não perdeu o bom humor. 'O velho Sherlock perguntaria: a quem interessa isso?', insistiu, numa referência ao personagem Sherlock Holmes, o maior detetive da literatura mundial. 'Seguramente ao presidente Lula é que não interessa.'

Ex-ministro das Relações Institucionais do governo petista, Wagner também saiu em defesa de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência. Rastreamento telefônico feito pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, revelou que Carvalho telefonou duas vezes para Jorge Lorenzetti, o petista apontado nas investigações como o homem que articulou a operação de compra do dossiê, exatamente no dia em que a Polícia Federal prendeu Gedimar Passos e Valdebran Padilha, no Hotel Ibis, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão em dólares e reais. À época, Lorenzetti coordenava a área de inteligência da campanha de Lula, a chamada 'Abin do PT'.

Carvalho disse ter discado para Lorenzetti no dia 15 de setembro - três dias antes de o nome dele ter sido citado no escândalo - em busca de esclarecimentos sobre a prisão dos petistas, porque ele era o responsável pela área de informações da campanha. 'O fato de Gilberto ter falado com Lorenzetti não autoriza nenhuma conclusão de envolvimento do chefe de gabinete nesse processo', comentou Wagner. Em seu diagnóstico, a suspeita lançada 'é uma tentativa desesperada de subir o tom por parte daqueles que não estão encontrando outros argumentos para virar o jogo eleitoral'.
Estadão

23.10.06

FMI não enche mais o saco

Presidente diz que ´FMI não enche mais o saco`

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que repetidamente vem manifestando seu orgulho em ter encerrado antecipadamente o acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), retomou o tom que adotava nos velhos tempos ao se referir à instituição. Ontem, em comício em Cidade Tiradentes, zona leste na capital paulista, a imagem do presidente da República deu lugar ao ex-sindicalista que tantas vezes repetiu o slogan 'Fora FMI'.

Ao comentar as realizações de seu governo e exaltar os benefícios que resultariam de um segundo mandato, Lula voltou-se para milhares de militantes e moradores da zona leste da cidade e bradou: 'O FMI não enche mais o saco. Foi embora.'

A afirmação foi feita no momento em que o presidente dizia que seu governo conseguiu não apenas reduzir o custo de vida da população mais pobre, como também manter a inflação sob controle. Ao mesmo tempo em que acusava o PSDB de governar para as elites, o presidente exaltava seu projeto como um governo para todos.

O FMI, de fato, deixou de 'encher o saco' porque o Brasil cumpriu tudo o que foi determinado pelo organismo internacional. Pagou em dezembro de 2005 a dívida de US$ 15,5 bilhões que venceria nos próximos dois anos e aprofundou o ajuste fiscal. Além disso, o programa original com o FMI exigia um superávit primário (economia para pagar juros) de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB). O governo, porém, elevou a meta para 4,25% do PIB. A medida foi apresentada como uma 'decisão soberana'.

Lula e seus companheiros da área econômica conviveram civilizadamente com o FMI nos três primeiros anos de governo porque não havia outro jeito. O País estava 'quebrado' em 2002. O mercado financeiro vivia um clima de pânico diante da perspectiva da eleição de um governo de esquerda.

Diante do risco de um desastre econômico, em setembro de 2002 o então ministro da Fazenda Pedro Malan assinou um acordo de 15 meses com o FMI, no valor de US$ 30 bilhões. Foi uma forma de dar ao mercado internacional o seguinte recado: não haverá loucuras nos próximos 15 meses.

Quando foi indicado ministro da Fazenda, Antonio Palocci encontrou-se com representantes do Fundo e garantiu que o programa seria cumprido. Ele, porém, mal disfarçava a contrariedade. Em janeiro de 2003, após encontrar-se com a então número 2 do FMI, Anne Krueger, comentou: 'Vamos cumprir o contrato e boa noite, obrigado.' Não foi o que se viu. Quando o acordo negociado por Malan acabou, Palocci teve de pedir uma prorrogação por um período de mais 15 meses. Esse segundo acordo acabou em fevereiro de 2005 e não foi renovado.
Estadão

20.10.06

Trabalho de profissionais

A origem do dinheiro ainda é uma dúvida, mas todos os envolvidos na busca da identificação da fonte original compartilham da mesma certeza: foi um trabalho de profissionais, experientes o bastante para deixar o mínimo de rastros e confundir os investigadores.

De 'tabajara', portanto, a operação não teve nada. Disso não têm dúvida o delegado responsável pelas investigações da Polícia Federal, Diógenes Curado Filho, o juiz Jefferson Scheinneder, da 2ª Vara Federal de Cuiabá (MT), e a CPI dos Sanguessugas, cujos integrantes vêm mantendo constante troca de informações com a polícia e a Justiça.

O profissionalismo empregado para dificultar a localização do dinheiro é um argumento que convence parlamentares de oposição de que a demora da PF pode estar mesmo muito mais ligada aos obstáculos reais do que a uma ação deliberada de manipulação eleitoral de forma a postergar os resultados para depois da eleição.

Mesmo assim, a hipótese de interferência 'de cima' ainda integra o campo de trabalho da CPI e do juiz Scheinneder, que receberia ontem um relatório parcial das mãos do delegado Diógenes e estava disposto a reforçar a exigência de que a polícia se apresse nas investigações. Ele quer, no mínimo, receber da PF explicações técnicas 'cabais' a respeito dos indícios até agora coletados e sobre os caminhos percorridos antes de firmar convicção de que as dificuldades alegadas justificam a demora.

Até agora são três as fontes de onde teria saído o R$ 1,75 milhão: doleiros, saques de pequena monta no Bradesco, no Safra e no Citibank, e uma pequena quantia de bicheiros. Nenhuma dessas fontes permite registro adequado à identificação.

Os dólares, quando repassados às operadoras de câmbio (foram 14, no caso), não têm mais suas cédulas anotadas; o dinheiro do jogo do bicho transita à margem de legalidade; os saques de quantias baixas misturam-se a uma infinidade de operações semelhantes nos bancos.

Se ação 'aloprada' houve, foi dos mandantes do crime, que subestimaram o fato de Luiz Antônio Vedoin, em regime de delação premiada, estar sob vigilância policial e judicial. Os executores revelaram 'expertise' no manuseio de recursos ilícitos.

Mas, a despeito de ainda ignorar a identidade dos fornecedores originais, a polícia já sabe de muita coisa. Sabe, por exemplo, que o dinheiro não tem origem em contas do PT e não é fruto de 'sobras de campanha'. Daí o presidente da CPI dos Sanguessugas, deputado Antônio Carlos Biscaia, ter afirmado que a fonte é criminosa sem contestações.

Sabe também que Hamilton Lacerda, o ex-assessor da campanha de Aloizio Mercadante, foi o receptador e encarregado do repasse a Gedimar Passos que, por sua vez, tinha a missão de entregar os dólares e os reais a Valdebran Padilha, que pagaria a Luiz Antonio Vedoin pelo dossiê e pela entrevista à revista IstoÉ, acusando o ex-ministro José Serra de conivência com a máfia das ambulâncias.

Quem acompanha de perto a história tem conhecimento também de um telefonema dado pelo petista Jorge Lorenzetti, responsável pela central de informações e contra-informações do PT, ao secretário particular do presidente Luiz Inácio da Silva, Gilberto Carvalho, relatando que o dossiê estava sendo primeiramente negociado por Vedoin com Abel Pereira - acusado de negociar com a máfia em nome do Ministério da Saúde na gestão de Barjas Negri, sucessor de Serra no governo Fernando Henrique.

E por que Abel Pereira estaria interessado num dossiê inconsistente e teria admitido pagar alto por ele? Suspeita-se de que os dados contidos no material não seriam tão inconsistentes assim no que se refere a ele.

De acordo com a narrativa, os petistas interceptaram a negociação que, naquela altura, girava em torno de uma soma de R$ 20 milhões. Era quanto Vedoin queria pelo dossiê.

Chegaram a um acordo por R$ 2 milhões (R$ 300 mil sumiram não se sabe como) e a promessa de que, havendo reeleição, o empresário não seria perseguido pelo governo. Nessa parte da história não fica claro se tinham autorização de alguém abalizado para fazer esse tipo de acerto. Logo, podem ter blefado, só para fechar o negócio, pois a promessa de proteção era o que mais interessaria a Vedoin.

O uso eleitoral pretendido está devidamente estabelecido nas investigações que, entretanto, dificilmente conseguirão comprovar a 'cadeia causal' entre a ação dos nada aloprados rapazes da estiva do submundo da espionagem política e uma ordem expressa do comando da campanha, com o conhecimento inequívoco do presidente da República.

Dora Kramer

dora.kramer@grupoestado.com.br

Quebra de sigilo

Juiz decreta quebra de sigilo bancário

Também foi autorizada abertura dos dados bancários de Lacerda


A Justiça Federal decretou ontem a quebra do sigilo bancário de Freud Godoy, ex-guarda-costas de Lula. A decisão foi tomada pelo juiz Jefferson Scheinneder, da 2ª Vara Federal de Mato Grosso. O juiz também autorizou acesso aos dados bancários de Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha do senador do PT Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo.

A ordem judicial é o primeiro passo concreto da investigação sobre o dossiê Vedoin na direção de um dos homens mais próximos do presidente, Freud Godoy. A Procuradoria da República e a Polícia Federal (PF) suspeitam que Freud seria o cabeça da trama que pretendia jogar o governador eleito de São Paulo, José Serra, do PSDB, na lama dos sanguessugas.

O procurador Mário Lúcio Avelar, que acompanha o inquérito da PF sobre o dossiê pelo qual dirigentes do PT iriam pagar R$ 1, 75 milhão, requereu a abertura de informações confidenciais de Freud e de Lacerda.Avelar queria fazer um rastreamento minucioso, indo além das contas de Freud. O juiz Scheinneder, no entanto, restringiu a pesquisa às contas bancárias do ex-segurança de Lula. O Ministério Público Federal deverá insistir na busca mais ampla.

Avelar resolveu ir à Justiça para pleitear a quebra do sigilo de Freud depois da divulgação de transferência de R$ 369 mil para uma conta do investigado no dia 7 de setembro. Oito dias depois dessa operação foram capturados em São Paulo Gedimar Passos e Valdebran Padilha com o R$ 1, 75 milhão.

DEFESA

Freud e Lacerda não vão recorrer da decisão judicial. O advogado Augusto de Arruda Botelho Neto, defensor de Freud, alertou para o fato de que a quebra do sigilo bancário é uma medida de exceção, adotada em casos absolutamente excepcionais e quando existem fortes indícios de prática de crime. 'Freud não cometeu crime algum, ele não tem nada a ver com esse dossiê, mas diante das denúncias descabidas abro mão da exceção porque a quebra do sigilo é importante até para provar sua inocência', declarou Botelho.

Alberto Zacharias Toron, advogado de Lacerda, disse que 'é boa e oportuna' a medida judicial. 'Acho a medida salutar para demonstrar a verdade. Não tem nenhum dinheiro espúrio na conta do Hamilton.'
Estadão

Apartamentos do PT

Outro envolvido com dossiê tem unidade no prédio

No mesmo bloco B do condomínio Torres da Mooca, onde Freud Godoy manteve encontros com integrantes do governo e do PT, um outro envolvido no escândalo do dossiê Vedoin aparece como dono de imóvel. O apartamento 174 B pertence a Oswaldo Bargas - apontado como o responsável pela tentativa de venda do dossiê à revista Época e colaborador do programa de Lula.

Quem ocupa o apartamento hoje é o presidente nacional da CUT, Artur Henrique da Silva Santos. Nem Bargas nem Santos foram localizados ontem.

O Torres da Mooca é um dos empreendimentos imobiliários da Cooperativa Habitacional do Sindicato dos Bancários (Bancoop), criada pelo presidente afastado do PT Ricardo Berzoini. Moradores do condomínio levantaram suspeitas sobre a propriedade dos imóveis onde moram Espinoza e Aurélio. É que na ata da assembléia em que foram sorteados os apartamentos, em 14 de fevereiro de 2004, 18 unidades apareciam como objeto de permuta e não poderiam ser escolhidas. Os apartamentos 183 B e 203 B, de Aurélio e Espinoza, respectivamente, estavam nessa lista.

O próprio presidente Lula tem um apartamento em um edifício que está sendo construído pela Bancoop no Guarujá. O imóvel está registrado na declaração de bens entregue ao Tribunal Superior Eleitoral, mas sem o nome completo da cooperativa.
Estadão

PT, jogo do bicho, Olívio e etc

Acusações de ligação do PT com o jogo vêm de campanha de Olívio, em 1999

Suspeitas e acusações envolvendo o PT e o jogo - legalizado ou não -, como ocorre agora no escândalo do dossiê Vedoin, não constituem novidade na história do partido. A primeira grande denúncia de corrupção envolvendo integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no início de 2004, teve como base uma fita de vídeo em que o então subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, aparecia pedindo doações de campanha e propinas ao empresário de jogos de bingo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, do Rio.

Waldomiro trabalhava havia 12 anos com o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o homem forte do governo petista, e parecia operar em escala nacional. Soube-se que parte do dinheiro do jogo tinha sido destinada aos cofres da campanha derrotada do petista Geraldo Magela, quando ele concorreu ao governo do Distrito Federal, em 2002. No mesmo ano, à frente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj), Waldomiro também teria negociado com a contravenção contribuições para as campanhas de Benedita da Silva (PT) e Rosinha Matheus (PMDB).

Essa não foi, no entanto, a primeira bomba política que associou PT e contravenção. Quando o caso Waldomiro explodiu, o PT ainda tentava se recuperar dos danos causados por um escândalo semelhante ocorrido no Rio Grande do Sul - Estado que até então funcionava como vitrine do estilo petista de governar.

Em 1999, um ex-tesoureiro do partido disse a jornalistas que parte do dinheiro da campanha do ano anterior para o governo estadual, quando o petista Olívio Dutra foi o vencedor, tinha vindo do jogo do bicho. Em 2001, a CPI da Segurança instalada na Assembléia, investigou o caso e acabou sugerindo o indiciamento de Olívio e mais de 41 pessoas. Além das denúncias de irregularidades na arrecadação de fundos, pesou na decisão uma gravação na qual o petista Diógenes de Oliveira, então presidente do Clube de Seguros da Cidadania, aparecia pedindo ao chefe de Polícia de Porto Alegre que amenizasse a repressão aos bicheiros.

No rastro da CPI, o Ministério Público denunciou dez pessoas à Justiça. Ninguém foi condenado. Mas o estrago político foi enorme. Fragilizado pelas denúncias, Olívio nem tentou a reeleição em 2002.
Estadão

19.10.06

Justiça suspende MP

Justiça federal suspende MP que liberava R$ 1,5 bilhão para gastos extraordinários
A justiça federal suspendeu nesta quarta-feira a medida provisória 324 assinada há duas semanas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que liberava R$ 1,5 bilhão para gastos extraordinários como obras e pagamento de dívidas de nove ministérios. A liminar foi concedida em uma ação popular ajuizada pelo deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que vinculou a liberação dos recursos a objetivos eleitorais. Essas despesas não poderão ser executadas até que seja julgado o mérito da ação. Ainda não há data marcada para que isso aconteça.

De acordo com a juíza da 2ª vara da justiça federal em Brasília, Candice Lavocat Galvão Jobim não há urgência que justifique a edição da MP. Ao tomar conhecimento da decisão, o Ministério Planejamento informou que o governo cumprirá a decisão judicial, mas acrescentou que nenhum representante da pasta falaria sobre o assunto. O governo deverá recorrer da liminar.

Em sua decisão, Candice Jobim argumentou que, segundo a Constituição, os créditos extraordinários ao Orçamento só podem ser autorizados em casos extremamente urgentes e imprevisíveis, como guerra, comoção interna ou calamidade pública. Para ela, as áreas contempladas com a medida provisória não se enquadram nesse perfil.
O Globo

Trégua do MST acaba no dia 29, avisa Rainha

Líder dos sem-terra diz que movimento está nas ruas agora para 'eleger Lula', mas após 2º turno 'sai das trincheiras e retoma mobilizações'

A trégua dada pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) nas invasões termina no dia 29, às 17h, quando se encerra a votação para o segundo turno, disse ontem o líder José Rainha Júnior. 'Vamos sair das trincheiras e retomar as mobilizações.'

Segundo ele, o MST reduziu o ritmo das invasões em todo o País por causa da campanha eleitoral. 'Estamos na rua agora, mas é para eleger o Lula.' Ele disse que esse é o seu compromisso como líder dos sem-terra. 'Depois da votação, voltamos a pensar na mobilização.'

De janeiro a março deste ano, o MST fez 99 invasões nos 21 Estados em que atua - no ano passado tinham sido 63 no mesmo período. Em abril, houve outras 35 invasões, totalizando 134 em quatro meses, mas em seguida, com o início do período eleitoral, o movimento desacelerou. Nos quatro meses seguintes, foram apenas 46 ações. O número se manteve baixo em setembro - 4 invasões - e neste mês. Até ontem, tinha sido registrada apenas a ocupação da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Belo Horizonte e de uma fazenda em Roraima.

Segundo Rainha, um provável segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva será 'uma grande oportunidade para que o presidente resgate seus compromissos' com a reforma agrária. 'O governo federal deu mostras de que quer resolver o problema dos sem-terra, ao contrário do que ocorreu em alguns Estados.' Ele disse que há expectativa do movimento em relação ao governador eleito de São Paulo, José Serra ( PSDB).

'Na gestão do Alckmin (ex-governador Geraldo Alckmin, candidato à Presidência), a questão fundiária foi tratada como questão policial e não política. Esperamos que seja diferente com o Serra.'

Rainha disse que o movimento estará aberto ao diálogo, mas não abrirá mão das invasões, que considera um instrumento de luta. 'O Estado tem dinheiro em caixa para adquirir terras e, se não for usado até o fim do ano, terá de ser devolvido ao governo federal.' Segundo ele, o movimento não pretende deixar que isso aconteça. 'Vamos para dentro de todas as terras devolutas que tiverem por aí.'
Estadão

18.10.06

PF: dinheiro teria saído de bicheiros do Rio

Superintendente de Mato Grosso afirma estar perto de conseguir provas materiais para esclarecer caso do dossiê

A Polícia Federal encontrou fortes indícios de que parte do dinheiro que seria utilizado pelos petistas para a compra do dossiê contra candidatos tucanos tem como origem o jogo do bicho no Rio de Janeiro, como tinham informado semana passada parlamentares da CPI dos Sanguessugas.

O superintendente da Polícia Federal em Mato Grosso, delegado Daniel Lorenz de Azevedo, deu pistas nesse sentido durante entrevista ontem, em Cuiabá.
Houve basicamente a comprovação de uma tese. Nós precisamos agora de prova material —disse o delegado.

Para avançar na investigação sobre a origem do dinheiro, a PF está contando com a colaboração de uma pessoa que teve envolvimento no caso.

O nome desse colaborador é mantido sob sigilo. Perguntado pela imprensa sobre se a tese confirmada pela PF é a de que os recursos seriam provenientes do jogo do bicho, como os parlamentares da CPI dos Sanguessugas informaram, Lorenz comentou: — Não somente isso, mas várias teses.

O delegado deu a entender que, nos últimos dias, a PF tem mesmo contado com a colaboração de um informante.

— Há pessoas de dentro da operação que estão colaborando com a polícia, dando indicações bastante precisas. Só precisamos de um pouquinho de sorte.

Segundo o delegado, nos próximos dias a PF pode chegar a uma conclusão definitiva sobre a origem do dinheiro. Na semana passada, depois de conversarem com o delegado Diógenes Curado Filho, que preside o inquérito, deputados da CPI dos Sanguessugas foram os primeiros a dizer que a PF trabalha com a hipótese de que parte do dinheiro arrecadado pelo PT para a compra do dossiê tenha vindo do bicho.

Três indícios levaram os policiais a essa suspeita, segundo os parlamentares: há no dinheiro apreendido pela PF muitas cédulas usadas e de pequenos valores, como R$ 5, R$ 10 e R$ 20, e duas fitas que envolviam maços de dinheiro eram provenientes de máquinas de calcular antigas e tinham a inscrição: 10 x R$ 100 = R$ 1.000. Para o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), expromotor de Justiça, a anotação é típica da contravenção.

Além disso, havia dois carimbos nas fitas com os dizeres "Caxias 118" e "Campo Grande 119". As duas referências são de locais no Estado do Rio. Anteriormente, a PF chegou a acreditar que as inscrições faziam referência a agências bancárias, mas agora acredita que, na verdade, tratam-se de bancas do jogo do bicho.

Lorenz, um homem com aparência tranqüila e de poucas palavras, demonstrava estar eufórico ontem. Por várias vezes, repetiu que em toda investigação os policiais, além de fazerem um trabalho minucioso, têm de ter sorte. E, ao que parece, a sorte chegou.

—Toda investigação tem seu tempo, mas dependemos também de um pouco de sorte, de estar no local certo, na hora certa — disse o delegado.

Anteontem, Lorenz havia dito que acredita que até antes do dia 29, data do segundo turno das eleições, a PF conseguirá esclarecer o mistério da origem do dinheiro. Ontem, ele adiantou que espera algum resultado já nos próximos dias, embora tenha reafirmado que a Polícia Federal não convocará uma entrevista coletiva para anunciar o resultado.

O relatório das investigações será enviado ao Ministério Público Federal e à Justiça Federal.

—Todo o resultado das operações será trazido em forma de relatório para dentro do inquérito.

Suspeita também sobre o PT  Antes mesmo de aprofundar a investigação sobre a origem do R$ 1,7 milhão apreendido em São Paulo, a PF acreditava que, mesmo saído de fonte ilícita, o dinheiro era do PT. Entre documentos que a CPI dos Sanguessugas recebeu da Polícia Federal, há um relatório preliminar da investigação em que o delegado Diógenes Curado afirmava que, ao que tudo indicava, o dinheiro apreendido era o próprio partido. Na interpretação de um parlamentar, o delegado fez essa afirmação depois de constatar que todos os envolvidos eram petistas.
O Globo

PF no rastro do bicheiro Turcão

Polícia investiga se parte dos R$ 1,7 milhão para compra do dossiê veio das bancas de jogo de Antônio Kalil, que atua no Rio

A Polícia Federal investiga no Rio de Janeiro pessoas ligadas a Antônio Petrus Kalil para tentar desvendar a origem do dinheiro que seria usado para a compra do dossiê contra integrantes do PSDB. Conhecido como Turcão, Kalil é apontado pela polícia como um dos mais atuantes empresários do jogo do bicho naquela cidade. Passados 32 dias da apreensão do dinheiro em poder dos petistas Valdebran Padilha e Gedimar Passos num hotel em São Paulo, essa é a principal linha de investigação da PF no que se refere aos R$ 1,1 milhão encontrados com a dupla, além dos US$ 248,8 mil(totalizando R$ 1,7 milhão).

Os investigadores do caso encontraram indícios de que parte dos recursos arrecadados pelo grupo petista, antes de chegar às mãos de Valdebran e Gedimar, transitou pelas bancas do jogo do bicho atribuídas a Kalil. De acordo com um dos policiais, o suposto bicheiro movimenta grandes quantias na capital carioca. E suas bancas atuariam como uma espécie de câmara de compensação, abastecendo outras bancas do jogo do bicho. Para levantar as provas que sustentem a hipótese, foram realizadas ontem no Rio buscas e apreensões em endereços comerciais de pessoas ligadas a ele.

As suspeitas sobre dinheiro do jogo do bicho foram levantadas pela polícia a partir da forma como a parte dos recursos em reais foi encontrado: cédulas velhas, amassados e de valores pequenos R$ 5 e R$ 10. Duas tiras de papel encontradas chamaram a atenção dos investigadores. Elas trazem anotações de valores e fazem referência a duas localidades no Rio: Caxias e Campo Grande. Ao lado de cada nome, havia ainda um número que a polícia acreditava se referir a bancos (118 e 119, respectivamente). Após realizar uma pesquisa na rede bancária, a PF constatou que não existem tais números. Com isso, ganhou força entre os policiais a tese de que o dinheiro tenha origem no jogo do bicho.

Escândalo
Em Cuiabá, cidade onde estão centralizadas as investigações do escândalo do dossiê, o superintendente regional da Polícia Federal, Daniel Lorenz de Azevedo, admitiu a hipótese de que parte do dinheiro seja proveniente do jogo do bicho. “Estamos conseguindo comprovar uma tese”, afirmou o policial. Lorenz confirmou a realização de diligências para tentar levantar as provas que possam confirmar as suspeitas. Integrantes da CPI dos Sanguessugas que tiveram na capital matogrossense na semana passada para se informar sobre o andamento da apuração também confirmaram essa possibilidade, depois de conversar com o delegado Diógenes Curado, responsável pelo inquérito.

O rastreamento do dinheiro apreendido com Valdebran Padilha e Gedimar Passos obrigou a polícia a levantar milhares de operações financeiras realizadas nos 30 dias que antecederam a prisão dos dois petistas. Não se descarta que uma parcela tenha transitado pela rede bancária, já que informações encontradas no pacote do dinheiro indicam que saques em pelo menos três instituições bancárias: Bradesco, Safra e BankBoston. A PF também investiga operações no Banco do Brasil.

Em relação aos dólares (US$ 248,8 mil), o universo de pesquisa supera um total de 200 mil operações realizadas a partir de um lote de US$ 29 milhões que entraram legalmente no país por intermédio do banco Sofisa, de São Paulo. Os policiais identificaram US$ 110 mil em série, mas, por falta de controle no país das numeração de cédulas distribuídas entre instituições bancárias, casas de câmbio e agências de turismo, ainda não foi possível chegar aos compradores finais.

O dinheiro foi distribuído pela instituição em pelo menos quatro praças: Rio, São Paulo, Curitiba e Santa Catarina. A Polícia Federal está realizando uma operação pente-fino em 30 casas de câmbio e de turismo localizadas nessas cidades.

Garcia nega vinculação com bingos

O coordenador da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, disse ontem que o governo “não tem vinculação” com os bingos e só não fechou as casas de jogos de azar porque o Congresso derrubou a proposta. Garcia fez o comentário logo após ser questionado sobre a afirmação do deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), presidente da CPI das Sanguessugas, de que o dinheiro (R$ 1,75 milhão) para pagar o dossiê que petistas usariam contra tucanos tem “origem criminosa”.

“Seria bom que ele (Biscaia) explicitasse a fonte do dinheiro”, afirmou o coordenador da campanha de Lula. “Se eu tivesse o acesso que ele tem às informações, estaria mais seguro em desvendar esse imbróglio.”

Indagado se as declarações de Biscaia causavam constrangimento, pelo fato de o deputado ser do PT, Garcia respondeu que não. “Ele sempre foi um deputado ativo na condição de integrante da CPI”, observou. Nos bastidores, porém, a cúpula da campanha de Lula considerou que Biscaia “jogou para a platéia” por não ter apresentado provas de suas afirmações.

Garcia procurou ainda minimizar a decisão do PDT de permanecer neutro na disputa, não declarando apoio nem a Lula nem ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. “A neutralidade frustrou muito mais os nossos adversários do que nós”, disse, alegando estar confiante no apoio de vários líderes do partido nos estados.

Berzoini complica Mercadante

O presidente licenciado do PT, Ricardo Berzoini, negou ontem conhecimento sobre a negociação do dossiê contra tucanos. Em pouco mais de uma hora e meia de depoimento à Polícia Federal, o deputado sustentou também desconhecer a origem dos R$ 1,75 milhão (em notas de dólar e real) que seriam usados na transação. E lançou dúvidas sobre a versão apresentada à polícia por Hamilton Lacerda, ex-assessor do candidato derrotado ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante (PT).

Hamilton é apontado pelos investigadores do caso como o “homem da mala”, responsável pela entrega do dinheiro a Gedimar Passos e Valdebran Padilha num hotel em São Paulo, onde a dupla foi presa na madrugada do dia 15 de setembro. Gravações do sistema interno de vídeo no local registraram a chegada do então assessor de Mercadante com mala semelhante à que teria sido usada para carregar os recursos. Interrogado pela PF, Valdebran Padilha reconheceu a valise.

Denunciado pelas imagens, Hamilton foi chamado para depor e alegou que transportava, além de roupas, boletos de arrecadação para a campanha presidencial. Berzoini, porém, afirmou que a arrecadação de recursos não fazia parte das atribuições dele no comitê de Mercadante e menos ainda no presidencial. A declaração de Berzoini pode precipitar o depoimento do senador petista. Na semana passada, os policiais envolvidos na apuração afirmaram que será preciso ouvi-lo também, mas ainda não havia uma definição de cronograma para a audiência.

Testemunha
À época da negociação do dossiê entre petistas e o sócio da Planam Luiz Antônio Vedoin, Ricardo Berzoini ocupava a presidência nacional do PT e a coordenação da campanha à reeleição do presidente Lula— funções das quais foi afastado posteriormente. Passado um mês do início da investigação, a PF decidiu convidá-lo, na condição de testemunha, para dar explicações sobre o envolvimento de dois de seus ex-subordinados no comitê presidencial: Jorge Lorenzetti e Osvaldo Bargas.

O petista confirmou a função de Lorenzetti: a de analista de risco. E disse ao delegado Diógenes Curado, que preside o inquérito do caso, ter sido procurado por ele porque o ex-assessor precisava de ajuda para localizar um veículo de comunicação, de abrangência nacional. A finalidade seria trocar informações que ajudassem a subsidiar reportagem contra os tucanos.

O ex-presidente do PT, porém, sustentou que em nenhum momento soube do teor das informações, da origem delas e que o assessore deveria recorrer à assessoria de imprensa do partido para encontrar um órgão de imprensa. Após o escândalo se tornar público, revelou ainda Berzoini à PF, Lorenzetti o teria procurado e se desculpado por ter “extrapolado na confiança”. O presidente afastado do PT, segundo o depoimento, disse que Lorezentti lhe garantiu que não tinha dinheiro no caso.
Correio Braziliense

Conta petróleo tem déficit de US$ 3,2 bilhões!

Saldo negativo decorre, principalmente, da diferença entre os preços no mercado interno e internacional

A auto-suficiência na produção interna de petróleo, anunciada pela Petrobrás, ainda não se materializou em termos financeiros, com o petróleo mantendo a posição de um dos maiores custos na balança comercial. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o déficit na conta petróleo atingiu US$ 3,210 bilhões até agosto. Nesse total estão incluídas as operações com petróleo bruto, derivados e o gás natural importado da Bolívia.

No início do ano, a Petrobrás previu que poderia encerrar o ano com balança comercial positiva, com saldo líquido de até US$ 3 bilhões. Mais recentemente, diretores da empresa reduziram as estimativas, mas acreditam que os números serão positivos, pela primeira vez na história. Os dados da Petrobrás são diferentes dos da ANP porque não incluem o movimento com o gás boliviano nem alguns derivados importados por outras empresas, como os pólos petroquímicos, que fazem grandes compras de nafta.

O grande déficit até agosto reflete, principalmente, o forte aumento dos preços internacionais do petróleo, que têm anulado os efeitos do aumento da produção interna. Em agosto, o Brasil importou o equivalente a US$ 1,272 bilhão de petróleo bruto, o mais elevado volume em apenas um mês no período de seis anos acompanhados pela ANP. Foi nesse mês que o petróleo atingiu o preço mais alto no mercado internacional.

Os dados da ANP mostram o peso crescente das compras de gás natural da Bolívia. Além disso, cresceu a diferença entre os preços do petróleo nacional e o importado. Enquanto o importado custou US$ 77,62 o barril em agosto, o exportado saiu por US$ 57,44.

A Petrobrás, que controla 98% do petróleo refinado no País, tem de importar óleo leve (mais caro) para processar nas suas refinarias. Outro fator relevante é que a empresa tem de exportar gasolina, que sobra no Brasil devido à adição de álcool anidro, e importar óleo diesel.

Os dados da ANP mostram que o País reduziu em 5,03% as compras de óleo bruto nos oito primeiros meses de 2006, mas o valor financeiro subiu para US$ 6,353 bilhões, um aumento de 28,98% em relação a igual período de 2005.

No caso das exportações, o volume cresceu 13,83% em relação a igual período de 2005, o que elevou a receita financeira em 56,62% ante o mesmo período de 2005, atingindo US$ 4,131 bilhões. O déficit, só de óleo bruto, atingiu US$ 2,22 bilhões, mas teria sido muito maior sem o acréscimo na produção interna.

No caso dos derivados, a ANP mostra que houve equilíbrio entre o montante importado e o exportado. Ao todo, as compras no exterior somaram US$ 2,915 bilhões, cerca de metade das compras de óleo bruto. Em relação a igual período de 2005, houve aumento de 27,27%.

ACORDO NA COLÔMBIA

A Petrobrás e a estatal colombiana Ecopetrol assinaram um acordo para estimular a produção de biocombustíveis naquele país. A informação foi divulgada ontem em comunicado oficial da presidência da Colômbia.

Segundo o comunicado, na área dos biocombustíveis “as duas empresas se comprometeram a estudar nos próximos 12 meses a possibilidade de estruturar novos negócios para sua produção, comercialização, transporte, pesquisa e assistência tecnológica”.
Estadão

Delegado fala sobre o dinheiro

Dinheiro deve ter saído do PT, diz relatório

Delegado diz que envolvidos são do partido, mas ainda não sabe a origem do dinheiro que seria usado para comprar dossiê

Curado disse que só hoje vai apresentar relatório com um pedido de prorrogação do prazo do inquérito e um balanço das investigações

O delegado da Polícia Federal Diógenes Curado, responsável pelas investigações sobre a tentativa de compra do dossiê antitucano por R$ 1,7 milhão, escreveu em relatório parcial que, "ao que tudo indica", o dinheiro tem origem no PT.
A informação foi dada ontem por um integrante da CPI dos Sanguessugas que leu os três volumes de papéis que formam o inquérito presidido por Curado. A documentação chegou anteontem à CPI e reúne depoimentos tomados pelo delegado, resultados de diligências e relatórios preliminares feitos no decorrer das investigações.
Segundo o integrante da CPI, que pediu para não ser identificado, o delegado usa como argumento no relatório a constatação de que "todos os envolvidos" no episódio eram do PT.
De acordo com Diógenes Curado, o integrante da CPI deve ter visto uma das representações feita por ele solicitando quebras do sigilo bancário e telefônico. Ele informou que nestas representações ele descreve que todos os envolvidos são do PT, mas não afirma qual seria o origem do dinheiro. "A origem do dinheiro é justamente o principal objeto das nossas investigações", disse ele ontem.
O delegado disse que só vai preparar e apresentar hoje o relatório preliminar à Justiça com o pedido de prorrogação do prazo do inquérito. Do relatório constará um balanço das investigações e a indicação das medidas a serem tomadas.
A Polícia Federal prendeu no dia 15 de setembro, em São Paulo, Gedimar Passos e Valdebran Padilha com R$ 1,7 milhão (R$ 1,2 milhão e US$ 249 mil) que seria usado para a compra de documentação que comprometeria candidatos tucanos.
Desde então, informações desencontradas e negativas marcam a investigação sobre a origem do dinheiro. Integrantes do PT e das coordenações de campanha de Lula e de Aloizio Mercadante, apontados como suspeitos de participação na trama, acabaram afastados. Cinco foram expulsos do PT.
Segundo o integrante da CPI, há no inquérito as fotocópias que mostrariam Hamilton Lacerda, ex-coordenador de imprensa da campanha de Mercadante, com uma grande mala no hotel onde a PF realizou as prisões. Curado teria calculado que a mala poderia levar cerca de R$ 1 milhão. Lacerda nega ter transportado dinheiro. Anteontem, o presidente da CPI, Antonio Carlos Biscaia, disse não haver dúvida de que a origem do dinheiro é criminosa.
Folha

Berzoini nega tudo!

Berzoini negou na PF saber da negociação para a compra do dossiê

Em depoimento ontem na sede da Polícia Federal, em Brasília, o ex-ministro e ex-coordenador da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deputado Ricardo Berzoini (PT), negou conhecer a negociação feita por petistas para comprar e tornar público o conteúdo do dossiê contra tucanos. Ele disse que só soube do dossiê após da divulgação do caso na imprensa.
Berzoini também, indiretamente, contradisse versão sustentada por Hamilton Lacerda para negar que tivesse levado o dinheiro que seria usado na compra do dossiê para o ex-agente da PF contratado pelo PT Gedimar Passos, detido no hotel Ibis, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão. Lacerda foi flagrado pelas câmeras do hotel com uma mesma bolsa depois carregada por Gedimar.
À PF, Lacerda disse que não havia dinheiro na bolsa, mas sim panfletos e boletos de doação da campanha nacional. Ao ser questionado sobre o assunto, Berzoini disse desconhecer que Lacerda portasse tal material, afirmando que boletos de contribuição não estavam dentro da atribuição do ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo. Berzoini também afirmou que não sabia da participação de Lacerda no episódio.
O petista Valdebran Padilha, também detido, disse à PF que a mesma mala carregada por Lacerda foi mostrada a ele por Gedimar repleta de dinheiro.
Para os policias que acompanharam o depoimento, a versão de Berzoini não convenceu. A PF não pode falar em contradições em relação a declarações anteriores do presidente licenciado do PT, pois é a primeira vez que depõe sobre o caso.
Para a PF, Lacerda trabalha para proteger Mercadante. Berzoini atuaria na defesa de Lula. Ambos negam qualquer tipo de pagamento, pois, se isso fosse admitido, seria o sinal para se sentirem obrigados a revelar a origem do dinheiro.
Ainda conforme o depoimento, Berzoini afirmou ter contratado o petista Jorge Lorenzetti para fazer o trabalho de análise de risco da campanha de Lula. Disse também que, em dado momento, Lorenzetti pediu a ele a indicação de um jornalista com o qual pudesse trocar informações.
Consta do depoimento que Berzoini, então, sugeriu a Lorenzetti que procurasse a assessoria de imprensa da campanha. A troca de informações seria a busca de uma alternativa para tornar público o dossiê que envolveria políticos tucanos, principalmente José Serra, então adversário de Mercadante em São Paulo, no escândalo dos sanguessugas.
Berzoini disse aos policiais que, quando o escândalo se tornou público, Lorenzetti o procurou. Desculpou-se por ter "extrapolado" a confiança que lhe fora depositada. Por fim, negou que a negociação com os Vedoin envolvesse dinheiro.
"Nem um fato novo foi apresentado que já não fosse de conhecimento da imprensa. Ele foi transparente e prestou todas as informações à polícia", disse ontem o advogado de Berzoini, Fernando Tibúrcio Peña.
Por conta do episódio do dossiê, Berzoini foi afastado da coordenação-geral da campanha de reeleição de Lula e da presidência do PT.
A aérea de inteligência da PF recebeu ontem informações que considera fundamentais para desvendar o papel dos petistas envolvidos com o caso. O diretório nacional do PT enviou à PF a identificação dos celulares usados cedidos pelo partido para Lorenzetti, Oswaldo Bargas, Gedimar, Freud Godoy e Expedito Veloso.
Apesar de já dispor dos dados das ligações feitas e recebidas pelos aparelhos cedidos pelo partido, a PF não sabia quem usava os números alvos da quebra do sigilo telefônico.
Anteontem, no programa Roda Viva, o presidente Lula assumiu que o destino de Berzoini foi selado pelo dossiê. "Chamei o presidente do partido lá em casa e falei: Olha, quero saber quem fez essa burrice. (...) Porque isso é de uma sandice inominável. Ele me disse que não sabia. Falei: Ricardo, você, como presidente do partido, tem obrigação de apresentar para a sociedade uma resposta. E ele não fez. Eu o afastei da coordenação da campanha. (...) A ordem à PF é que não deixe pedra sobre pedra."
A PF encontra dificuldades na busca do responsável -ou responsáveis- pelo financiamento do dossiê. A maior suspeita para a origem do R 1,1 milhão destinado ao negócio são bancas de jogo do bicho, que estão sob investigação.
Folha

Tesoureiro do PT reuniu-se com Freud

Encontro aconteceu em apartamento de José Carlos Espinoza, outro assessor direto de Lula em campanhas eleitorais

Participantes da reunião se contradizem sobre motivo e conteúdo da conversa, ocorrida após depoimento de Freud Godoy na PF


O tesoureiro do diretório nacional do PT e coordenador de infra-estrutura da campanha do candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Paulo Ferreira, reuniu-se com Freud Godoy, ex-assessor especial da Presidência, após o depoimento que este prestou à Polícia Federal sobre a tentativa frustrada de compra de um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB).
A reunião ocorreu no apartamento de José Carlos Espinoza, 52, ex-chefe do Gabinete Regional da Presidência da República em São Paulo e um dos mais próximos assessores de Lula nas campanhas anteriores. Espinoza deixou o cargo no início da atual disputa para exercer, no comitê do presidente em São Paulo, a função de encarregado da agenda do candidato à reeleição.
Paulo Ferreira falou com a Folha às 18h25 de ontem. Indagado sobre a reunião, fez um discurso contra a imprensa e em defesa de Freud: "Escreva aí: Freud tem a minha inteira solidariedade". Em seguida, desligou o telefone sem nada responder. Mais tarde, ele confirmou ter ido à casa de Espinoza "dar um abraço" em Freud.
A data da reunião é imprecisa: Espinoza disse acreditar ter sido a noite do dia 18, e o advogado de Freud Godoy, Augusto Botelho, indicou a noite do dia 19. Freud prestou o primeiro depoimento à PF entre 14h e 18h20 do dia 18.
O motivo e o conteúdo da reunião de um implicado no caso do dossiê com o responsável pela arrecadação de dinheiro do PT também são controversos. Espinoza, que concedeu entrevista à Folha ontem à tarde na frente do comitê de Lula, na avenida Indianópolis (na capital paulista), disse que o pedido do encontro partiu de Freud, com a intenção de discutir "o seu futuro no PT".
Espinoza disse que Ferreira "tranqüilizou" Freud, mas negou que se tenha discutido auxílio financeiro a ele (leia texto nesta página).
O advogado de Freud, Augusto Botelho, que primeiro negou a reunião, mas depois a confirmou, apresentou uma versão diferente. Disse que a iniciativa partiu do tesoureiro, Paulo Ferreira, que queria "inteirar-se" do caso do dossiê.
O advogado se contradisse ao falar que não conhecia Espinoza. Apenas o teria visto anos atrás quando, na função de estagiário do escritório de advocacia do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, foi colher uma assinatura de Lula para uma procuração.
Ao saber que o próprio Espinoza havia explicado à Folha que encontrou-se com ele horas antes da reunião com o tesoureiro, Botelho admitiu ter estado no prédio de Espinoza, na Mooca.
Segundo a última edição da revista "Veja", Freud e Espinoza tiveram uma reunião no dia 18, daquela vez na própria sede da superintendência da PF e com o preso Gedimar Pereira Passos, segundo uma carta enviada à revista por três delegados federais cujos nomes foram mantidos em sigilo.
A exemplo da PF paulista, Espinoza e o advogado de Freud negaram o encontro no prédio da polícia.
Segundo um primeiro depoimento prestado à PF pelo advogado Gedimar Passos, funcionário do comitê de Lula em Brasília, preso no dia 15 de setembro com R$ 1,7 milhão que seria usado para comprar o dossiê, a ordem para a operação teria vindo de Freud. No último dia 3, em ofício enviado ao Tribunal Superior Eleitoral, Passos retirou a acusação.
Folha