11.10.07

"Se preciso, farei acareação entre Renan e Lyra"


Indicado para relatar a terceira e mais documentada representação contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Jefferson Péres (PDT-AM) afirma que fará uma acareação entre o usineiro e ex-deputado federal João Lyra e o peemedebista, se houver necessidade de novos esclarecimentos a respeito das empresas de comunicação que ambos teriam comprado em nome de laranjas.

É a terceira vez que ele assume a tarefa de aprofundar investigações contra colegas. Nos episódios anteriores, em 1999 e em 2006, pediu a cassação dos mandatos dos investigados Luiz Estevão (PMDB-DF), aceita pelo plenário, e Ney Suassuna (PMDB-PB), absolvido no Conselho de Ética.

Péres integra a lista dos adversários que estariam sendo chantageados por Renan com a insinuação de que empregaria a mulher e dois filhos em seu gabinete no Senado. Além de o próprio senador negar, a Diretoria-Geral também diz que a informação é falsa e que, em nenhum momento, ele empregou parentes na Casa.

A escolha do senhor coincidiu com a decisão dos governistas de se alinharem aos que querem a saída de Renan da presidência. Foi coincidência ou uma sinalização de que a situação de Renan piorou?

Há um novo clima no Senado a partir dos fatos ocorridos na semana passada, seja o afastamento desrespeitoso dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), seja o episódio da suposta tentativa de espionagem dos senadores goianos Marconi Perillo (PSDB) e Demóstenes Torres (DEM). Esses são fatos que realmente reduziram a margem de apoio do senador Calheiros e que deixaram claro que o presidente do Senado tem hoje muito poucos senadores que o apóiam e dispostos a ir às últimas conseqüências por ele.

Ao pedir que Renan se afastasse da presidência no início do primeiro processo, o senhor previa que o episódio chegaria ao ponto em que chegou?

Não, não previa, não. O comportamento do senador Renan Calheiros, a obstinação dele em permanecer no cargo, contrariando até o bom senso, e a interferência dele nos processos que tramitam no conselho, direta ou indiretamente, isso me surpreendeu.

A principal testemunha dessa representação é o ex-deputado e usineiro João Lyra (PTB-AL). O senhor vai pedir que ele compareça ao conselho?

Vou pedir ainda hoje o depoimento dele prestado ao corregedor Romeu Tuma, em Alagoas. Farei uma leitura e, se for o caso, pedirei novos esclarecimentos a ele e, se ele confirmar o que disse ao Tuma, terei de pedir uma acareação com o senador Renan Calheiros. Pretendo ouvir, também, as pessoas apontadas como laranjas. Espero fazer isso rapidamente. Se necessário, ouvirei duas, três testemunhas no mesmo dia até.

Como o senhor vai conduzir o trabalho da relatoria?

Farei um grande esforço para ser isento, independentemente do que eu pense do senador Renan, do comportamento dele. No processo, eu terei de me ater rigorosamente às provas dos autos e, se os mesmos não forem convincentes, não vacilarei - mesmo diante da incompreensão da opinião pública -, se for o caso, em pedir o arquivamento do processo por falta de prova.

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