22.5.06

É do PMDB que Chávez gosta mais

Decepcionado com a modorra política exibida pelo governo Lula, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, decidiu costurar uma base alternativa para o avanço de sua revolução bolivariana no Brasil. A idéia é atrair para a esfera de influência chavista os caciques do PMDB que trabalham por uma candidatura presidencial própria nas eleições de outubro, em oposição a um segundo mandato petista. Essa dissidência vem sendo cooptada por Caracas com a perspectiva de investimentos que somam R$ 13 bilhões em acordos entre os governos do Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraná. Tais projetos tomam emprestado o verniz ideológico da integração regional e turbinam as plataformas das campanhas estaduais.

Com a enxurrada dos petrodólares, o governador Roberto Requião se tornou o principal defensor do ideal libertador de Simón Bolívar — herói da independência dos países andinos no século 19 — em território nacional. Durante visita de Hugo Chávez a Curitiba, no mês passado, os dois dirigentes assinaram 15 acordos bilaterais que prevêem investimentos de US$ 440 milhões (R$ 900 milhões) nas áreas de agricultura e pecuária, saneamento, ciência e tecnologia (veja quadro abaixo). “Somos companheiros porque estamos sentados à mesma mesa, dividindo o pão doce e farto. Estamos realizando o ideal bolivariano”, argumentou.

Essa relação promissora se tornará ainda mais intensa com a inauguração em junho de um “escritório de representação” do Paraná em Caracas, mais especificamente na sede do Ministério da Integração venezuelano. Na última quinta-feira, Requião enviou à Venezuela seu coordenador de Assuntos Internacionais, Santiago Gallo, para acertar os detalhes da nova filial paranaense. Junto com ele partiu uma comitiva de 120 empresários e 40 autoridades do governo. “O Paraná está fazendo, na prática, a política externa do presidente Lula”, garante o governador.

Identificação
Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), há “uma grande identificação entre Chávez e Requião”. “Eles têm o mesmo perfil político. Adotam o espetáculo e dispensam o legalismo. Requião é o Chávez paranaense”, compara. Dias duvida que os projetos bilaterais sejam concretizados, mas admite que serão usados na campanha eleitoral, “inclusive pelo PT”. Como confirmou ao Correio o secretário de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores, Valter Pomar. Ele lembra que a aproximação com a Venezuela faz parte do projeto de integração do governo Lula. “É ótimo! Por tabela, mostraria que nossa política internacional traz frutos para o país”, comemora. O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, não quis se pronunciar.

O alto grau de ascendência de Chávez sobre políticos latino-americanos se refletiu claramente na nacionalização das reservas de gás da Bolívia. Enquanto declarava seu apoio a iniciativas como o gasoduto do sul (Venezuela-Brasil-Argentina), incentivou o presidente Evo Morales a ocupar militarmente as refinarias da Petrobras. Esse jogo duplo levou o Planalto a adotar cautela com o polêmico mandatário venezuelano, apenas seis meses depois de ser chamado pelo próprio Lula de “irmão e amigo”. A declaração foi feita durante solenidade de lançamento da pedra fundamental da refinaria de petróleo General José Ignácio Abreu e Lima, no complexo industrial portuário de Suape, município de Ipojuca (PE).

O projeto de US$ 2,5 bilhões — uma inédita parceria entre a Petrobras e a estatal petroleira venezuelana PDVSA — prevê a criação de 600 postos de trabalho, com impacto direto na arrecadação de impostos pelo estado. O principal articulador da iniciativa com Chávez foi o então governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que se afastou do cargo recentemente para preparar sua candidatura ao Senado. Pernambuco foi escolhido em detrimento de Rio de Janeiro e São Paulo, estados considerados mais aptos a escoar a produção. A governadora Rosinha Matheus e seu marido abordaram o assunto num encontro com Chávez ainda no final de 2004, quando ficou acertada a abertura de um escritório da estatal petroleira venezuelana no estado.

Navios
Em janeiro, Chávez resolveu compensar Rosinha com a encomenda de 36 navios petroleiros de grande porte, num negócio estimado em US$ 3 bilhões (R$ 6,5 bilhões). Atrasos nas negociações levaram Caracas a repassar parte do pedido a China e Argentina, deixando apenas 10 embarcações para os estaleiros fluminenses Mauá-Jurong e Ilha SA (Eisa)”. O assessor de imprensa do Sindicato Nacional da Indústria Naval (Sinaval), Jorge Luiz Lopes, nega qualquer alteração nas encomendas, que “gerariam 21 mil empregos diretos e 100 mil indiretos”. Curiosamente, Lopes também trabalha para o secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo, Wagner Victer.

O secretário tem estreita relação com a escola de samba carioca Unidos de Vila Isabel, que recebeu patrocínio de R$ 2 milhões da PDVSA para o enredo “Soy Loco Por Tí América”, em homenagem à Venezuela e ao libertador Simón Bolívar, campeão do carnaval de 2006. Na semana passada, um encontro inesperado entre o ex-presidente Itamar Franco (PMDB-MG) e o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembléia Nacional venezuelana, Saúl Ortega, surpreendeu alguns políticos hospedados no hotel Naoum.

Eles não souberam dizer à reportagem o conteúdo da conversa, mas testemunharam um Itamar bastante à vontade com o portunhol de seu interlocutor.
Correio Brasiliense

5 comentários:

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